Como agia o grupo que incentivava o suicídio de jovens em redes sociais

Eles ensinavam diversas maneiras de tirar a própria vida e davam auxílio para a tentativa

30/09/2021 18:29

Na manhã da última quarta-feira, 29, a Polícia Civil do Distrito Federal realizou uma operação que desmantelou um grupo que usava a internet para incentivar o suicídio de jovens de todo o Brasil. Há registro de vítima.

Como agia o grupo que incentivava o suicídio de jovens em redes sociais
Como agia o grupo que incentivava o suicídio de jovens em redes sociais - Cottonbro/Pexels

Os membros divulgavam “métodos de autoextermínio” por meio de aplicativos de mensagem e usavam a Dark Web para distribuir conteúdo proibido.

Uma jovem que participava do grupo de WhatsApp “CTBus” (“Catch The Bus”, expressão em inglês usada para suicídio) ingeriu substância tóxica e morreu.

Quatro integrantes do grupo foram presos. Um deles, morador do interior de São Paulo, estava com um frasco com substância tóxica.

Segundo relato da família da jovem, ela, que sofria de depressão e estava sendo acompanhada por especialistas, ingeriu a toxina pensando se tratar de uma espécie de teste.

“Eu li muita coisa, porque o computador estava aberto no dia. Não foi decisão dela”, disse a mãe ao portal Metrópoles.

“Ela falou para gente que era um teste e pediu socorro para gente. Na hora ela falou. E perguntei: como você faz um teste para morrer? E ela disse: ‘foi só um teste mãe’”.

O pai e a mãe da garota deixaram os aparelhos da jovem ligados e registraram toda a conversa do grupo enquanto a jovem morria. O material serviu como prova para deflagrar a operação.

Suicídio

O suicídio é considerado pelo Ministério da Saúde como um problema de saúde pública, complexo, multifacetado e de múltiplas determinações, que pode afetar indivíduos de diferentes origens, classes sociais, idades, orientações sexuais e identidades de gênero.

Todos os anos, cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio no mundo, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde). No Brasil, uma pessoa morre por suicídio a cada hora, enquanto outras três tentaram se matar sem sucesso no mesmo período.

Fique atento aos sinais! Um dos falsos mitos sociais em torno do suicídio é que a pessoa que tem a intenção de tirar a própria vida não avisa, não fala sobre isso
Fique atento aos sinais! Um dos falsos mitos sociais em torno do suicídio é que a pessoa que tem a intenção de tirar a própria vida não avisa, não fala sobre isso - iStock/@noipornpan

O assunto é tão complexo que muitas pessoas evitam falar a respeito, o que nem sempre é a melhor decisão. Um problema dessa magnitude não pode ser negligenciado, pois sabe-se que o suicídio pode ser prevenido.

Uma comunicação correta, responsável e ética é uma ferramenta importante para evitar o efeito contágio.

Qual seria essa forma? Vamos listar alguns sinais de alerta de pessoas em risco e onde procurar ajuda nesses casos.

Formas de prevenção

Um dos falsos mitos sociais em torno do suicídio é que a pessoa que tem a intenção de tirar a própria vida não avisa, não dá pistas. Isso não é verdade e devemos considerar seriamente todos os sinais de alerta que podem indicar que a pessoa está pensando em suicidar-se.

Saber reconhecê-los em você ou em alguém próximo é o primeiro e o mais importante passo. Por isso, sempre fique de olho no seguinte:

  • Problemas de conduta ou manifestações verbais

Se alguém está, pelo menos, há duas semanas com conduta ou manifestações verbais referentes à suicídio, fique de olho! Essas manifestações não devem ser interpretadas como ameaças nem como chantagens emocionais, mas sim como avisos de alerta para um risco real.

  • Preocupação com sua própria morte ou falta de esperança

As pessoas sob risco de suicídio costumam falar sobre morte e suicídio mais do que o comum, confessam se sentir sem esperanças, culpadas, com falta de autoestima e têm visão negativa de sua vida e futuro. Essas ideias podem estar expressas de forma escrita, verbal ou por meio de desenhos.

Atenção: não há uma “receita” para detectar seguramente uma crise suicida em uma pessoa próxima, mas a sua ajuda é fundamental!
Atenção: não há uma “receita” para detectar seguramente uma crise suicida em uma pessoa próxima, mas a sua ajuda é fundamental! - iStock/@tadamichi
  • Expressão de ideias ou de intenções suicidas

Fique atento para comentários do tipo “vou desaparecer”, “vou deixar vocês em paz”, “eu queria poder dormir e nunca mais acordar”, “é inútil tentar fazer algo para mudar, eu só quero me matar” e outros relacionados. Às vezes esse tipo de fala passa desapercebido por membros da família e amigos.

  • Isolamento

As pessoas com pensamentos suicidas podem muitas vezes se isolar, não atendendo a telefonemas, interagindo menos nas redes sociais, ficando em casa ou fechadas em seus quartos, reduzindo ou cancelando todas as atividades sociais, principalmente aquelas que costumavam e gostavam de socializar.

  • Outros fatores

Exposição ao agrotóxico, perda de emprego, crises políticas e econômicas, discriminação homofóbica ou transfóbica, ataques racistas, agressões psicológicas e/ou físicas, sofrimento no trabalho, diminuição ou ausência de autocuidado, conflitos familiares, perda de um ente querido, doenças crônicas, dolorosas e/ou incapacitantes, entre outros podem ser fatores que vulnerabilizam, ainda que não possam ser considerados como determinantes para o suicídio.

Lembre-se também que não há “receita” que detecte seguramente quando uma pessoa está vivenciando uma crise suicida, nem se tem algum tipo de tendência suicida. Mas é sempre bom ficar atento, conversar e procurar ajuda!

O que fazer sob risco de suicídio

  • Ajudando alguém

Se você identificou em alguém próximo sinais de comportamento suicida, encontre um momento apropriado e um lugar calmo para falar sobre suicídio com essa pessoa. Faça a perceber que você está ali para ouvir e ofereça seu apoio.

É importante também que você a incentive a procurar ajuda de profissionais de serviços de saúde, de saúde mental, de emergência ou apoio em algum serviço público. É legal você se oferecer para para acompanhá-la a um atendimento. Assim ela ficará mais confortável e terá menos receio.

Se você acha que essa pessoa está em perigo imediato, não a deixe sozinha. Procure ajuda de profissionais de serviços de saúde, de emergência e entre em contato com alguém de confiança, indicado pela própria pessoa.

Se a pessoa com quem você está preocupado vive com você, assegure-se de que ela não tenha acesso a meios para provocar a própria morte (por exemplo, pesticidas, armas de fogo ou medicamentos) em casa.

Fique em contato para acompanhar como a pessoa está passando e o que está fazendo.

Conversar abertamente com a pessoa sobre seus pensamentos suicidas não a influenciará a completá-lo
Conversar abertamente com a pessoa sobre seus pensamentos suicidas não a influenciará a completá-lo - iStock/@PeopleImages