Como funcionava o ‘x-tudão’ na clínica de médico preso

O cirurgião contava com uma equipe de divulgadores do seu trabalho em grupos do WhatsApp e nas redes sociais; As ofertas sempre abaixo do valor de mercado

25/07/2022 13:47 / Atualizado em 27/07/2022 17:40

A clínica do médico Bolívar Guerrero oferecia um pacote de cirurgias que foi batizado com o nome “x-tudão”. Preso desde última segunda-feira, 18, acusado de manter paciente em cárcere privado, o hospital em que ele atuava tinha uma oferta para fazer  procedimentos cirúrgicos com a possibilidade de tudo ser pago com um carnê.

Como funcionava o ‘x-tudão’ na clínica de médico preso
Como funcionava o ‘x-tudão’ na clínica de médico preso - Reprodução/Instagram

Como funcionava o ‘x-tudão’?

A clínica de Bolívar Guerrero, que fica no Hospital Santa Branca, a mesma onde a paciente Daiana Cavalcanti denunciou que foi mantida em cárcere privado, tinha um time de divulgadoras do trabalho dele que atuava em grupos de Whatsapp e nas redes sociais. Os anúncios atraíam a clientela oferecendo procedimentos cirúrgicos com preços abaixo do mercado e prometendo a facilidade no pagamento.

Quem estava no time de divulgação do trabalho de Bolívar tentava vender o máximo de cirurgias e, tudo naquele “precinho” para angariar cada vez mais clientes.

Ao aderir o “x-tudão”, a paciente ia ter direito de fazer: Lipoaspiração (técnica que através da sucção retira o excesso de gordura de uma determinada região do corpo); Abdominoplastia (cirurgia plástica abdominal para retirar o excesso de pele na região); Lipoenxertia (técnica de cirurgia plástica que utiliza a gordura do próprio corpo para preenchimento, definição ou volume em certas partes do corpo); Mastopexia (cirurgia plástica para levantar as mamas. Pode ser feita simples ou com implantação de silicone).

Anúncio do ‘x-tudão’ da clínica de Bolívar Guerrero
Anúncio do ‘x-tudão’ da clínica de Bolívar Guerrero - Reprodução/Instagram

Pagamento com carnê

Aqueles se interessavam em fazer a operação cirúrgica na clínica de Bolívar tinham a opção de fazer o pagamento à vista, parcelado no cartão de crédito, ou até mesmo através de um carnê da própria clínica.

Com o nome de Carnê de Cirurgia Programada, ele era distribuído às terças e quartas-feiras incluindo uma consulta médica. A pessoa interessada realizava o agendamento da consulta em um desses dias e pagava R$ 1 mil de entrada para fazer a cirurgia e assim teria acesso ao tal carnê.

O valor que ficava a pagar poderia ser divido em até 12 vezes, ou até mesmo com parcela menos com um saldo a ser pago no dia da cirurgia.

Suponha-se que um paciente iria fazer cirurgias que ficassem no total de R$ 15 mil, então ele poderia fazer o parcelamento da seguinte forma:

Pagar R$ 1 mil para ter acesso ao carnê e negociar mais 12 parcelas do saldo de R$ 14 mil nele, com 12 de R$ 1.1666;

Poderia dar R$ 1 mil para pegar o carnê, negociar 12 parcelas de R$ 583,33 nele e quitar o saldo de R$ 7 mil no dia que fosse fazer a cirurgia à vista ou parcelado no cartão do paciente.

O objetivo é que o paciente finalize os pagamentos e marcasse seu procedimento em até um ano, podendo fazer antes – desde que quitasse a dívida.

Em caso de imprevistos, em que a pessoa não pudesse comparecer para realizar a cirurgia, ela poderia atualizar o carnê. As pessoas que desistiam da operação cirúrgica tinha o dinheiro da consulta inicial descontado do valor já pago e o restante era devolvido.

Modelo do carnê usado na clínica de Bolívar Guerrero
Modelo do carnê usado na clínica de Bolívar Guerrero - Reprodução/Instagram

Prisão de Bolívar Guerrero

Bolívar Guerrero Silva foi detido no último dia 18 de julho quando estava no centro cirúrgico do Hospital Santa Branca, em Duque de Caxias (RJ). De acordo com a polícia, ele mantinha uma mulher em cárcere privado após ela ter complicações depois de uma cirurgia de abdominoplastia.

Daiana Cavalcanti já havia tentado ser transferida do local, porém o médico cirurgião dificultou a transferência, mesmo com duas liminares da Justiça.

Daiana estava internada desde junho desse ano no Hospital Santa Branca, e foi transferida na manhã da última quinta-feira, 21, para o Hospital Geral de Bonsucesso, na Zona Norte do Rio de Janeiro.

Bolívar responde a pelo menos 19 processos na Justiça por erros médicos e teve sua prisão temporária mantida pela Justiça.