Confira programação do Setembro Verde na Matilha Cultural

Causa indigena é o principal tema da mostra

16/09/2013 12:20 / Atualizado em 05/05/2020 16:37

Exposição de Guta Galli na Matilha Cultural
Exposição de Guta Galli na Matilha Cultural

A 5ª edição do Setembro Verde da Matilha Cultural acontece a partir do dia 17 e o destaque da programação é a resistência indígena. Filmes exposição, e debates abordam a luta pelo direito constitucional à terra e as dinâmicas entre tribos e redes.

Segundo os organizadores, no ano em que comemora-se os 25 anos do reconhecimento dos direitos indígenas na Constituição Federal, não há nada o que comemorar.“ Uma investida sem precedentes sobre as terras públicas está em curso no Brasil. O objetivo é abrir essas áreas aos grandes interesses econômicos ou tirá-las do caminho quando representam entraves à sua expansão. Essa investida traduz-se numa feroz disputa pelo que restou do território nacional e de seus recursos naturais após sucessivos ciclos de avanço predatório da fronteira econômica”, diz o convite do evento.

Programação Completa

Com curadoria do Instituto Socioambiental (ISA), o espaço da galeria será ocupado por imagens históricas do reconhecimento dos direitos indígenas durante a Constituinte de 1988, com mapas e infográficos que retratam a sociodiversidade brasileira e as pressões de interesses econômicos sobre as terras ocupadas tradicionalmente, além das capas de publicações do ISA. Imagens de fotógrafos colaboradores, como Fábio Bitão, Lunaé Parracho e Gleilson Miranda, também compõem o espaço. Lunaé vem documentando a resistência indígena em diversos momentos nos últimos anos – como as ocupações indígenas no canteiro de obras de Belo Monte, a luta dos Guarani-Kaiowá no Mato Grosso, os Munduruku pelo rio Tapajós livre – e de todos eles por seu direito constitucional a terra. As imagens de índios isolados flagrados em Envira, no Acre, foram gentilmente cedidas por Gleilson para o Setembro Verde.

A artista Guta Galli promove a mostra fotográfica sobre o povo Kayapó da vila de Kriny em “Gente que estende sua Beleza”. A mostra traz 15 imagens feitas em abril de 2009, durante o evento organizado para o resgate de uma celebração que não acontecia há quase 20 anos: a festa do Koko, um personagem mítico ancestral que, segundo a tribo, é dono do poder da cura.

No cinema, filmes que tratam da temática indígena e outras questões socioambientais. Em parceria com o projeto Vídeo nas Aldeias, a Mostra Setembro Verde de Cinema traz filmes do acervo de imagens sobre os povos indígenas no Brasil. O Vídeo nas Aldeias, precursor na área de produção audiovisual indígena no país, visa apoiar a luta dos povos indígenas para fortalecer suas identidades e seus patrimônios territoriais e culturais, por meio da produção audiovisual compartilhada com os povos indígenas com os quais o projeto trabalha.

Destaques para os documentários “Damocracy” e “Muito Além do Peso”. Dirigido pelo premiado documentarista canadense Todd Southgate e narrado pela atriz Leticia Sabatella, “Damocracy” retrata a realidade e as lutas dos atingidos pelas hidrelétricas de Belo Monte, na Amazônia brasileira, e de Ilisu, na Turquia, com paralelos sobre os impactos dos dois projetos nas populações locais e no meio ambiente, desconstruindo o mito das hidrelétricas como fonte de energia limpa. O filme “Muito Além do Peso” mergulha no tema da obesidade infantil ao discutir o fato de 33% das crianças brasileiras a pesar mais do que deviam. As respostas envolvem a indústria, a publicidade, o governo e a sociedade de modo geral. Através de histórias reais e alarmantes, o filme promove uma discussão sobre obesidade infantil. Com direção de Estela Renner e produção do Instituto Alana e Maria Farinha.

Tribos e Redes

Pela primeira vez, parte do Setembro Verde acontece fora de São Paulo. Em parceria com o Mídia NINJA, a Matilha vai realizar oficinas de mídia livre com grupos locais de jovens de três regiões envolvendo conflitos com povos indígena, com atividades práticas sobre a produção e distribuição livre de notícias. Ao aumentar a capacidade e articulação desses grupos locais com grandes redes de grupos de apoio atuando nas cidades, como o Mídia NINJA, o Setembro Verde espera cortar a dependência da mídia tradicional para dar voz aos povos indígenas e fazer com que sua causa seja amplamente debatida pela sociedade brasileira.

“É uma curadoria que abre espaço para o ativismo e campanhas de mobilização, comunicando diretamente as pessoas pontos de vista que vão além da mídia e do governo sobre questões fundamentais para nossa vida hoje”, diz Tica Minami, uma das organizadoras do Setembro Verde, da Matilha Cultural.

Além da pauta indígena, o Setembro Verde 2013 reforça também o apoio da Matilha Cultural à criação do Parque Augusta, um terreno de 24 mil m² na rua Augusta, entre a rua Caio Padro e a rua Marquês de Paranaguá. O terreno é reivindicado há 10 anos por moradores e também frequentadores do centro da cidade, para que a Prefeitura transforme a área em um parque, mas o dono do terreno, o ex-banqueiro Armando Conde, 81, pretende erguer duas torres de 100m. O terreno é considerado a última área verde e permeável do centro e conta com árvores centenárias. Parte do terreno abriga hoje em dia um estacionamento e outra parte, abriga centenas de árvores centenárias da Mata Atlântica. Como o terreno é de utilidade pública, os empreendedores pretendem construir as torres no fundo da área e criar uma praça, mas os cidadãos favoráveis à criação do Parque Augusta querem que o local seja totalmente dedicado ao lazer. A Matilha Cultural, junto com outros grupos e indivíduos que lutam pelo Parque, com objetivo de dar mais voz a essa reivindicação, convida a população a participar do Festival Colaborativo Parque Augusta, dia 21 de setembro, sábado, para ocupar calçadas no entorno com atrações culturais e a área interna com piquenique, oficinas e aulas públicas.

Como acontece também desde a primeira edição do projeto, a Matilha participa da Semana da Mobilidade, Virada da Mobilidade e das ações do dia Mundial Sem Carro. No dia 21, sábado, a ocupa vaga viva no Parque Augusta compõe a virada da mobilidade e dia 22, domingo, a Matilha também apoiará ocupação cultural na Avenida Paulista, com o objetivo de repensar as prioridades nas políticas de mobilidade da cidade de São Paulo.

Com o Setembro Verde, a Matilha reforça sua identidade como espaço de conexão e co-elaboração de ideias e projetos, em um esforço de mobilização e conscientização envolvendo diversas organizações, movimentos e coletivos independentes. A 5ª edição do projeto será realizada em parceria comInstituto Socioambiental (ISA), Mídia NINJA, COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), Vídeo nas Aldeias, Amigos do Parque Augusta e coletivos do Dia Mundial Sem Carro, além de fotógrafos, artistas, diretores ativistas.