Corpo, nudez e arte

Leia a história da artista plástica Alessandra Cestac, 29. Desde 2005, ela espalha pelas ruas algumas de suas fotos em que posa nua

Por: Catraca Livre
alefotos: divulgação
Cestac fotografada em quarto de hotel na Colômbia

Não é a toa que Alessandra Cestac, 29, virou artista plástica. As lições básicas foram oferecidas em casa mesmo para ela e para a irmã, que hoje, vive na Argentina, como diretora de teatro. A mãe, estilista, dava toques sobre os assuntos da moda. O pai, também artista plástico, lhes ensinava técnicas especiais.

Da arte aprendida em casa, Alessandra criou a sua própria: desde 2005 espalha pela rua algumas de suas fotos em que posa nua. Todas em tamanho real. “Sentia necessidade de desenvolver esse trabalho para mim e acabou sendo meu norte para dar um conceito ao meu trabalho”, comenta.

Assista ao vídeo “Pelada nas ruas”. Crédito: Rodrigo Leitão

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Leia mais sobre a exposição no Hotel Central
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Cestac posa para desenhista

A artista entende que a nudez é uma maneira de a mulher explorar seu próprio corpo e sua sexualidade. Por mais coragem que tenha de aparecer fotografada nua pelas ruas, garante que é uma mulher que preserva sua intimidade e que possui a sensibilidade e a delicadeza da mulher.

Para ela, a nudez feminina é  um produto de venda e não é encarada com naturalidade. “Meu trabalho na internet é sempre bloqueado, porque é encarado como pornografia”, comenta.

Ao fazer o ensaio, Alessandra não se coloca somente como uma modelo.  Segundo ela,  há uma sensação por traz do trabalho que emana na fotografia. Quando o ensaio termina, revela as fotos e faz um trabalho com stickers e lambe-lambes e os espalhas pela rua. “Interpreto os lugares em que devo colocar. Por exemplo, o anjo exposto numa rua onde dormem moradores de rua”, teoriza.  Alessandra garante também que em seu trabalho tem um respeito com a cidade e seus moradores.

Cestac interpreta um anjo

Seu processo de integração de arte com a cidade de São Paulo veio numa época em que tudo parecia dar errado para a artista. Nasceu desse sentimento uma relação íntima entre a artista e o local onde ela vive. Alessandra confessa que não estava preparada para as críticas. “Você acaba não sabendo mais quem você é”.

Alessandra Cestac

Por isso, ano passado, fez um recesso. Foi viajar para Colômbia com um grupo de músicos e depois morou durante nove meses numa praia próxima a Búzios, no Rio de Janeiro.  “Precisei viajar para rever o que meu corpo significava pra mim, e precisava voltar a me sentir anônima”.

A fotografia sempre fez parte da vida de Alessandra. No colégio era a fotógrafa da turma, levava seus amigos para o ateliê de arte do pai e lá trabalhava projeções nos corpos dos amigos e as retratava. A dança também era seu encanto.  Mas, entre a dança e a fotografia, preferiu optar pela fotografia, pois sabia que ambas precisariam de dedicação integral.

Arte no exterior

Neste ano, foi convidada pelo sociólogo Sérgio Franco, para apresentar seu trabalho em Paris, na França. Durante um mês ficou numa residência com mais quatro artistas homens. Alessandra sentiu-se sozinha. Na solidão, buscou olhar para a cidade de Paris.  Na cidade fez fotos nuas em tradicionais cafés, durante funcionamento.  E em dois ícones turísticos: o museu do Louvre e a Torre Eiffel.

Em Paris, durante a exposição “São Paulo Mon Amour”, buscou retratar em sua arte o universo individual que sente da cidade. “Em São Paulo cada um tem seu quartinho, seu lugar de relaxamento”. Para isso, montou um quarto na exposição em que as pessoas podiam entrar e tomar algo com ela, ou assistir a vídeos de suas perfomances.

divulgação
Alessandra posa em praça na Colômbia