Damares teria agido para impedir aborto de menina de 10 anos estuprada
Ministra teria oferecido privilégios ao conselho tutelar capixaba em troca de pressão para barrar aborto
A ministra Damares Alves (Mulher, Família e dos Direitos Humanos) agiu para impedir o aborto legal da menina de 10 anos que foi estuprada pelo próprio tio no Espirito Santo.
Reportagem da Folha publicada no domingo, 20, revela que Damares teria liderado uma operação para transferir a menina de São Mateus (ES) para um hospital em Jacareí (SP) com o objetivo de acompanhar a evolução do feto e realizar o parto, apesar do risco para a vida da criança violentada.
A ministra chegou a se reunir com integrantes do ministério e aliados políticos para pressionar a equipe responsável pelo procedimento do aborto e oferecendo privilégios ao conselho tutelar capixaba.
Além disso, segundo a Folha, funcionários de Damares Alves teriam sido os responsáveis por vazar o nome da criança à extremista Sara Giromini (mais conhecida como Sara Winter) que divulgou nas redes sociais. O ato foi uma afronta ao Estatuto da Criança para e do Adolescente, além de ter feito a família da vítima alvo de ameaças e pressão.
Nas redes sociais, a ministra rebateu as acusações da Folha. Segundo Damares, a “atuação ocorreu para fortalecer a rede de proteção à criança em São Mateus”.
“Novamente a Folha de SP publica mentiras sobre a minha atuação e o trabalho de nossos técnicos. Entraremos imediatamente com pedido de resposta. Mais uma vez faremos o departamento jurídico do jornal trabalhar”, escreveu a ministra no Twitter.
Damares defendeu gestação
Em entrevista ao jornalista Pedro Bial na semana passada, a ministra Damares Alves afirmou que a menina de 10 anos que foi estuprada pelo tio deveria ter levado a gravidez adiante e feito uma cesárea.
“Os médicos do Espírito Santo não queriam fazer o aborto, eles estavam dispostos a fazer uma antecipação de parto. Mais duas semanas, não era ir até o 9 mês, Bial, a criança ficar nove meses grávida, conversa com os médicos. Mais duas semanas poderia ter sido feita uma cirurgia cesárea nessa menina, tirar a criança, colocar numa encubadora, se sobreviver, sobreviveu. Se não, teve uma morte digna.”
A ministra também criticou o médico Olímpio Moraes Filho, que realizou o aborto na menina com autorização da Justiça em um hospital de Recife (PE).
” Eu acredito que o que estava no ventre daquela menina era uma criança com quase seis meses de idade e que poderia ter sobrevivido. Discordo do procedimento do Dr. Olímpio, mas discordo de tudo o que aconteceu em torno dessa criança”, disse Damares a Pedro Bial.
Damares também falou sobre a investigação de dois de seus assessores que são suspeitos de terem vazado a identidade e a localização do hospital onde a menina passaria pelo aborto. A ministra diz botar a mão no fogo de que não foram eles os responsáveis.
Dezenas de militantes antiaborto foram à porta do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam-UPE) tentar impedir a interrupção da gravidez da menina de 10 anos.
“A nossa equipe foi à cidade com um deputado estadual e as três reuniões que fizemos lá foram com muitas pessoas juntas na delegacia, no Conselho Tutelar e na Secretaria de Ação Social. Em momento algum os profissionais disseram para os nossos técnicos o nome dessa menina”, afirmou Damares.