Debate na Globo: confira os principais momentos do programa

Bolsonaro, que não compareceu, foi alvo de críticas contundentes dos candidatos

05/10/2018 02:19 / Atualizado em 05/05/2020 11:58

Este foi o último debate presidencial antes do primeiro turno das eleições
Este foi o último debate presidencial antes do primeiro turno das eleições - Reprodução / Twitter

No último debate entre presidenciáveis, da Globo, que ocorreu na noite desta quinta-feira, 4, estiveram presentes Alvaro Dias (Podemos), Ciro Gomes (PDT), Fernando Haddad (PT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e Marina Silva (Rede).

Convidado, Jair Bolsonaro (PSL) não foi ao programa. Segundo sua assessoria, apesar de ter recebido alta, ele foi orientado por médicos a não comparecer. Pela primeira vez desde que foi hospitalizado, sua ausência foi criticada por quase todos os candidatos, assim como suas propostas polêmicas. O único a não atacá-lo foi Alvaro Dias.

O debate teve o jornalista William Bonner como mediador e foi composto por quatro blocos, todos com confronto direto entre os candidatos, sendo dois com temas livres e dois com temas determinados em sorteio, mais considerações finais.

No primeiro bloco, o destaque foi o discurso pró-democracia puxado por Boulos, que contou com apoio de Haddad e aplausos da plateia. Ciro e Marina repetiram a dobradinha do debate na Record e se apresentaram como alternativas aos candidatos que hoje dividem o Brasil, Haddad e Bolsonaro.

O segundo bloco foi marcado pelos ataques de Alvaro Dias a Haddad. Antes de fazer sua pergunta sobre gastos públicos, o candidato do Podemos disse que, ao final, do programa, entregará ao ex-prefeito de São Paulo uma pergunta para ele levar ao “verdadeiro candidato do PT”, em referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os demais embates entre os presidenciáveis neste bloco abordaram temas diversos, como custo Brasil, legislação trabalhista, transportes, combate às drogas, saúde e meio ambiente.

O terceiro bloco concentrou ataques a Bolsonaro, vindos principalmente de Marina e Ciro. Os dois candidatos expuseram a ausência do deputado, que informou à Globo que não poderia comparecer por recomendação médica, mas que não teve problemas em dar uma entrevista à Record, que foi transmitida no horário do debate.

No quarto e último bloco, as perguntas dos candidatos retrataram os seguintes assuntos: previdência, segurança, políticas sociais, corrupção, saneamento, educação e impostos. Ao final, cada presidenciável teve um minuto para dar um último recado aos eleitores. Mais uma vez, algumas declarações, mesmo que indiretamente, criticaram as ideias defendidas por Bolsonaro.

O encontro foi marcado por ataques ao candidato Jair Bolsonaro (PSL)
O encontro foi marcado por ataques ao candidato Jair Bolsonaro (PSL) - Reprodução / Twitter

Confira abaixo o que os candidatos à Presidência disseram sobre os principais temas abordados no debate:

Democracia

Questionado por Haddad sobre direitos que a população perdeu no governo Temer, Boulos foi direto ao ponto mais preocupante no cenário atual: a manutenção da democracia. “Quero falar de outra coisa que não merecer risos porque o momento é grave. Não dá para fingir que está tudo bem. Faz 30 anos que o país saiu de uma ditadura. Muita gente morreu, muita gente foi torturada. Se estamos podendo discutir o futuro do Brasil, é porque muita gente deu seu sangue. Quando nasci, o Brasil estava numa ditadura. Não quero que minhas filhas cresçam numa ditadura. Precisamos dizer: ditadura nunca mais.” Haddad concordou e afirmou que “sem democracia, não há direitos”.

Eleição marcada pelo ódio

Ciro recorre a Marina e pergunta como o presidente eleitor vai conseguir governar num país dividido pelo ódio. A candidata da Rede afirma não acreditar que se consiga governar em meio à polarização: “ A permanecer esta guerra, em que alguns votam por medo do Bolsonaro e outros, por medo de Haddad, ou por raiva de um ou do outro, o Brasil vai ficar quatro anos em completa instabilidade. Temos a oportunidade de fazer a diferença. Eu me coloco como alternativa desde 2010. Com as propostas que apresento, estou preparada para unir o Brasil. Vou governar com os melhores”.

“As palavras de Marina são sábias e as repetirei ao longo do debate. O que está em jogo são 13 milhões de brasileiros desempregados, 60 milhões com nome no SPC, 63 mil jovens assassinados, 60 mil mulheres estupradas. Eu tenho projetos e respeito outras forças que estão aqui. O Brasil precisa construir um novo caminho”, finalizou Ciro.

Economia

Alckmin questiona Haddad sobre questões econômicas dos governos do PT, dizendo que a gestão do partido gastou mais do que arrecadava, e quis saber: “Você vai insistir no modo petista de governar?”

Haddad atacou, dizendo que, durante a gestão do tucano Fernando Henrique Cardoso, “a carga tributária aumentou, a dívida pública dobrou no mesmo período. No nosso período, a dívida pública caiu à metade, pagamos o FMI. O que o Alckmin não reconhece é que o PSDB se associou ao Temer para sabotar o governo aprovando pautas bombas e gastos desnecessários e isso levou o país à crise”.

Alckmin afirmou que o “PT terceiriza problemas. O PSDB está fora do governo há 16 anos. Quem quebrou o governo foi o PT, a Dilma. Vamos tirar o Brasil da crise e recuperar a confiança”.

O petista disse, então, que irá “recuperar as finanças públicas, mas sem cortar direito do trabalhador, direito social. Vocês indicaram quatro ministros do governo Temer. Cortar direito do trabalhador para fechar contas públicas não se faz. Tem de cortar do andar de cima”.

Reforma trabalhista

Boulos citou que o PSDB apoiou a reforma trabalhista aprovada na gestão Temer e quis saber de Alckmin “por que não cortam privilégios da sua turma?” em vez de direitos dos trabalhadores.

O tucano disse que “Boulos e o PT defendem o corporativismo” e afirmou, várias vezes, que “nenhum direito foi tirado”. E finalizou: “O Brasil precisa voltar a crescer e precisamos fazer reformas, simplificar o modelo do Estado. Vou enxugar a máquina, privatizar, recuperar a confiança e o Brasil vai voltar a crescer. A população quer emprego e vamos lutar para ter emprego na veia”.

Boulos disse ser da “turma dos direitos”. “Dizer que a reforma trabalhista não tirou direitos é brincadeira. Para vocês, direito é custo. Para nós é outra coisa. Temos coragem para enfrentar privilégios e anular a reforma trabalhista.”

Alckmin finalizou dizendo que “o maior desafio do mundo moderno é emprego” e que “é evidente que a reforma foi necessária”.

No segundo bloco, Marina afirmou que Meirelles, juntamente com Temer, propôs uma “reforma trabalhista que prejudicou os direitos dos trabalhadores”. “Você vai corrigir esses erros?”, questionou a candidata.

O candidato do MDB respondeu: “Existe a necessidade de corrigir alguns problemas, como a questão do trabalho insalubre para mulher grávida, e para todos. Por outro lado, temos que dizer que a legislação trabalhista brasileira estava no século passado, criando um problema grave para o país crescer”.

Marina completou dizendo que a reforma trabalhista é necessária, mas, se eleita, irá corrigir todos os erros cometidos pelo MDB. “Quando eu era ministra do meio ambiente, encontramos em uma fazenda no interior do Pará mais de 38 pessoas vítima de trabalho escravo. Uma pessoa que vive assim nao tem como reclamar seus direitos na justiça”, declarou.

Salvadores da pátria

Meirelles lembrou a eleição de Collor, que chegou ao Planalto se considerando o “salvador da pátria e nem sequer terminou o mandato. Por que essa história do salvador da pátria sempre dá errado?”

Ciro aproveitou a deixa para fazer um apelo: “Talvez esta seja a hora mais grave do brasileiro. Nenhum de nós é dono da verdade. O choque entre o lulismo e o antilulismo, compreendo e estou determinado a oferecer um outro caminho. Não existe salvador da pátria. É grave e complexo o momento brasileiro, e o cenário internacional exige muita experiência”.

Meirelles concordou e disse que, no momento, o Brasil precisa também de propostas concretas, de alguém com condições de administrar o país.

Gastos públicos

Na rodada de perguntas sobre temas sorteados pelo apresentador, Alvaro Dias iniciou sua fala com uma provocação ao concorrente, Haddad. “Ao final do programa eu vou entregar a você a pergunta que você levará ao verdadeiro candidato do PT [Lula]”, disse. Em seguida, fez sua pergunta: “Vocês roubaram o dinheiro público. O que você vai fazer em relação a essa ação última da Petrobras?”.

O ex-prefeito de São Paulo respondeu com críticas ao adversário. “O senhor deveria ter mais compostura nesse debate. Não respeita os concorrentes e nem as regras do debate, e ainda faz brincadeira com coisa séria”, afirmou Haddad.

“Em relação aos gastos públicos, nossos governos colocaram o pobre no orçamento pela primeira vez. Criamos o Minha Casa Minha Vida, o Bolsa Família, ProUni, o Luz Para Todos, as universidades federais. Nós vamos retomar muita coisa que vocês destruíram e estão destruindo, como retomar o crescimento do brasil, diminuindo os impostos dos mais pobres, enquadrar os bancos, pois estão cobrando juros distorcidos da população, e fazer a reforma fiscal para retomar os investimentos públicos”, continuou o candidato do PT.

Alvaro, em seguida, rebateu: “Eu não estou brincando. Estou falando sério. Vocês é que são uma brincadeira governando. Só nesta última ação da Petrobras, de 20 bilhões de reais, significa a construção de milhares de casas”.

Por fim, Haddad ressaltou: “O senhor precisa se situar aqui. Aumentamos o valor de mercado da Petrobras de 15 bilhões para 80 bilhões. Foi investindo na Petrobras que nós descobrimos o Pré Sal. Nós vamos retomar a renda do petróleo para a saúde e educação”.

Saúde

No segundo globo do debate, Meirelles questionou Alvaro Dias sobre o que é possível fazer para garantir que a população tenha atendimento de primeira qualidade no SUS, sem esperar em filas. O candidato do Podemos respondeu com mais uma provocação.

“Em primeiro lugar, não roubar. Em segundo, ter competência de gestão, o que vocês não tiveram. O senhor estava lá, em todos esses governos: Lula, Dilma e Temer. Nos últimos 15 anos, 160 bilhões de reais que iriam para saúde foram desviados. O que ocorreu? Os procedimentos médicos foram comprometidos. O SUS acabou sendo um programa pífio, um caos”, disse Alvaro. O presidenciável do MDB retrucou afirmando que é ficha limpa e que nunca foi acusado de corrupção.

Custo Brasil

A pergunta de Boulos para Alckmin sobre o custo brasil – conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas e econômicas que encarecem o investimento no país – também foi provocativa. “No seu governo em São Paulo foram 15 bilhões em desonerações fiscais para os grandes empresários. É essa política que você quer levar para o Brasil?”, questionou o candidato do PSOL.

O ex-governador paulista se defendeu, declarando que é preciso uma reforma do estado. “A crise pegou o Brasil inteiro, mas em São Paulo tivemos superávit, reduzindo imposto para o contribuinte, como de remédios e do etanol. Eu defendo a reforma tributária. Nós temos impostos demais e muito altos. Nós vamos reduzir os impostos. O Brasil é um país caro, mas por que ficou caro? O custo do dinheiro, em primeiro lugar, porque temos poucos bancos.

Burocracia e logística ruins. Para reduzir custo brasil é preciso nem eleger o PT nem Bolsonaro, porque nenhum dos dois vai solucionar a crise, mas sim agravá-la.”

“O trabalhador brasileiro gostaria de viver nesse mundo da fantasia que você apresenta. Em relação ao custo brasil, precisamos fazer uma diferenciação entre o pequeno empresário e o grande empresário”, retrucou Boulos.

Nem Bolsonaro nem Haddad

Marina escolhe Haddad e explica, sob aplausos, que a pergunta era para o candidato Bolsonaro, “que mais uma vez amarelou e não está aqui debatendo conosco, mas deu entrevista para a Record. Temos hoje uma situação em que 25% está votando porque não quer Bolsonaro e outros 25% não querem o candidato do PT. Diante dessa situação desoladora, qual a autocrítica você faz?”

Haddad responde que está “em campanha há apenas 22 dias, numa campanha completamente anormal”. Cita Lula, dizendo que “representa um projeto que deu certo”, que foi um governo que administrou para todos e governou olhando para os mais pobres.

A candidata Marina afirma que é “lamentável que você não reconheça nenhum dos erros”: “Você tem a oportunidade de reconhecer os erros e você não o faz. Quando estamos diante de uma crise, temos de pensar em um projeto de país, não um projeto de poder.”

O petista se defendeu dizendo que reconhece os erros cometidos e afirma “viver de salário” e ter “vida pública sem nenhum reparo”.

Corrupção

Boulos questiona o emedebista sobre as denúncias contra Temer, de seu partido, e diz ter orgulho de fazer parte do PSOL, legenda em que “todos os deputados votaram para cassar o mandato do Temer”.

Meireles se disse um “candidato independente” e reafirmou seu discurso de que tem “passado e presente ficha limpa” e que pensa em “criar um movimento dos ‘sem processos’”. “Divido o Brasil entre quem trabalha pelo país e quem não trabalha. Mostrei resultado concreto com muita honestidade.”

“Você é banqueiro, banqueiro não trabalha”, rebateu Boulos. “A turma do sistema está podre, e esta turma inclui Bolsonaro. O único jeito de mudar a política é trazer o povo para o centro da discussão.”

O candidato do MDB disse que, quando foi presidente do Banco Central, “estabilizou a economia, e o Brasil criou 10 milhões de empregos. Depois, tiramos o país da maior recessão da história, Criei mais de 2 milhões de empregos. O que vou fazer é me comprometer a criar 10 milhões de empregos em quatro anos de governo”.

Ataque a Bolsonaro

Ciro questionou Meirelles sobre a ausência de Bolsonaro do debate, lembrando que o candidato está de alta, no Rio, e que preferiu dar uma entrevista “longa [à Record] e fugir do debate”. “Você acha correto que um homem que quer ser presidente do Brasil não se submeta ao debate?”

A dobradinha surtiu efeito: Meirelles respondeu que não. “Alguém que não está sujeito à crítica, a ataques, mas que cada um de nós está enfrentando isso com seriedade e respeito ao eleitor. Estamos aqui para dizer o que vamos fazer, o que já fizemos ou acusar um candidato por falta do que dizer. Mas é importante que o eleitor tenha a capacidade de ver isso. Se alguém só dá entrevista em situação de absoluto controle e em ambiente amigável, não tem condição de administrar o país. Tem que estar disposto a se expor.”

Ciro comenta as idas e vindas de propostas divulgadas pelo general Mourão, vice de Bolsonaro, que já afirmou que irá cortar o 13º salário, e do economista da campanha, Paulo Guedes, sobre aumentar os impostas e recriar a CPMF. “Me assusta uma equipe de três pessoas brigando às vésperas da eleição. Vai dar certo?”

“Não acredito que o povo brasileiro vai querer essa aventura.”, disse Meirelles.

Previdência

Sobre previdência social, Haddad criticou a proposta de reforma, em tramitação no Congresso Nacional, e perguntou a Ciro sua opinião sobre o tema.

“A proposta de Temer é uma aberração por dois lados. Primeiro, porque ela é injusta. O trabalhador rural nordestino não pode ter a mesma idade mínima que um trabalhador intelectual do Leblon, por exemplo. Um professor em nenhum lugar do mundo tem que dar aulas 49 anos para ter direito a aposentadoria integral. Essa proposta é a mesma de Bolsonaro, do Paulo Guedes”, respondeu o candidato do PDT.

“A expectativa de vida dos brasileiros é muito diferente, dependendo da região e da renda. Qualquer mexida na previdência que não levar em conta isso será injusta. Tudo que o governo Temer está fazendo acaba recaindo sobre quem mais precisa do estado. O trabalhador da classe pobre não vai pagar a conta do ajuste fiscal”, completou Haddad.

Segurança

O candidato Ciro Gomes citou dados recentes de homicídios no Brasil, ressaltando as principais vítimas, como jovens, negros e das periferias, e os casos de estupro contra mulheres. Em seguida, perguntou a Meirelles sobre suas propostas a respeito do assunto.

“O Brasil precisa ter um sistema unificado de segurança, controlado e administrado pela polícia federal. O que acontece hoje é que muitas vezes a polícia está andando atrás do crime organizado. Segundo: o estado tem que comprar equipamento e contratar policiais. Nós temos estados brasileiros que passam anos sem contratar policiais por falta de recursos, então é necessário garantir crescimento econômico. E, finalmente, temos que ter policiamento de fronteira, para prevenir o contrabando”, explicou o presidenciável do MDB.

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