Desemprego e confronto entre Marina e Bolsonaro marcam debate
Os candidatos à Presidência da República se encontraram de novo nesta sexta-feira, 17, na RedeTV!
Os candidatos à Presidência da República se encontraram de novo nesta sexta-feira, 17, no debate da RedeTV!, realizado em parceria com a revista IstoÉ. O embate foi marcado por alguns temas principais, como combate ao desemprego e à corrupção. O momento de maior tensão, muito comentado nas redes sociais, foi a resposta de Marina Silva a Jair Bolsonaro sobre porte de armas e a desigualdade salarial entre homens e mulheres.
Participaram do debate Alvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriota), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB), Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede).
Lula, candidato do PT, não pôde participar por estar preso. Em comum acordo, os candidatos decidiram que não deveria haver um púlpito com o nome do petista, a chamada “cadeira vazia”. Segundo Marina, porque este é o símbolo do candidato que, convidado, não comparece ao debate, o que não foi o caso. Somente Boulos se opôs à decisão.
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O encontro foi dividido em quatro blocos: no primeiro, os presidenciáveis responderam a uma pergunta única, a questões gravadas ou enviadas pela população e tiveram confrontos diretos entre si; no segundo, quatro jornalistas fizeram perguntas aos oito candidatos; no terceiro, os confrontos diretos continuaram; por último, cada político fez suas considerações finais.
Confira abaixo os principais temas abordados na noite desta sexta:
Desemprego
Foi o principal assunto do debate, tanto nas perguntas da população, quanto nos dois blocos de confrontos diretos. A escolha do tema evidencia o cenário atual: de acordo com levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), falta trabalho para 27,636 milhões de brasileiros.
Marina Silva foi a primeira a responder com suas propostas sobre emprego, questionada pela população no primeiro bloco do programa. “O desemprego está assolando a vida dos brasileiros, e os jovens são os mais prejudicados. Vamos recuperar os investimentos e apostar numa economia que valoriza seus ativos culturais”, disse.
Em seguida, no primeiro confronto direto entre os candidatos, Marina questionou Alvaro Dias a respeito do mesmo ponto. Para ele, a corrupção é culpada pela falta de vagas, além da necessidade da reforma tributária, que poderia facilitar a abertura de novas empresas. Segundo o candidato, o Brasil tem de resolver três aspectos importantes para gerar emprego: ajuste fiscal, investimentos e produtividade, além do combate à corrupção.
Henrique Meirelles quis saber de Jair Bolsonaro qual sua proposta para acabar com o desemprego no país. “Tudo o que o PT e o PSDB fizeram ao longo de 20 anos levou a esse caos”, respondeu o candidato do PSL, que ainda defendeu desburocratizar o Brasil.
Na pergunta de Geraldo Alckmin para Ciro Gomes, mais uma vez o tema escolhido foi o desemprego e como o agronegócio pode ajudar na retomada de oportunidades aos cidadãos. O candidato do PDT disse acreditar que agregar valor à agropecuária brasileira pode ajudar a criar trabalho.
Na segunda rodada de confronto direto, no terceiro bloco do programa, foi a vez de Guilherme Boulos questionar Cabo Daciolo sobre sua proposta para o problema. “Nós vamos reduzir impostos e juros. Não acreditem quando dizem que existe crise financeira na nação brasileira. Vamos preparar nossos jovens, vamos caminhar e levar todos ao mercado de trabalho.”
Desigualdade salarial
Durante o confronto direto, Meirelles perguntou a Bolsonaro: “No último debate, você disse que estava revendo sua posição de que mulheres deveriam ganhar menos do que homens. Mas não há nada sobre isso no seu plano de governo. Em que candidato nós devemos acreditar? Ou o senhor não leu o seu plano de governo?”.
“É mentira que eu defendi isso. Não existe nada nesse sentido. Na CLT já está garantido que a mulher deve ganhar igual o homem. Não temos que nos preocupar com isso. A mulher terá papel de destaque no meu governo, em especial na segurança pública”, retrucou o candidato do PSL.
Há um vídeo, porém, em que o candidato faz a afirmação durante uma entrevista ao programa “Superpop”, da RedeTV!
Na sua vez de perguntar, Bolsonaro se dirigiu a Marina e questionou sua opinião sobre posse de arma de fogo pela população. Ela respondeu que é contra e retomou a fala do adversário sobre desigualdade salarial.
“Você disse que a questão dos salários para as mulheres já está na CLT e que não precisamos nos preocupar. A mulher ganha salário menor, mesmo tendo as mesmas capacidades, é a primeira a ser demitida e a última a ser promovida, e muitas vezes não é aceita pelo simples fato de ser mulher. Tem que se preocupar com essa questão sim. Um presidente da República tem que defender o povo da injustiça”, declarou a presidenciável.
“Você acha que pode defender tudo no grito, na violência. Você é um deputado, um pai de família. Um dia desses você pegou a mãozinha de uma criança e o mostrou como atirar. É esse ensinamento que você quer dar ao povo brasileiro?”, completou Marina.
Após sua fala, a candidata foi elogiada por Boulos: “Queria parabenizar a Marina por colocar o Bolsonaro em seu lugar. No grito não se ganha eleição Bolsonaro”.
Economia
No bloco em que jornalistas fizeram perguntas aos candidatos, Bolsonaro foi confrontado com economia. A pergunta era sobre o tamanho dos encargos da dívida pública e os juros. O candidato do PSL não respondeu diretamente, mas afirmou que “são números absurdos”: “Meus economistas dizem que [a situação] tem solução, mas será muito difícil atender essa meta”. Afirmou que tem proposta de diminuir o tamanho do Estado, abrir mercado, reduzir encargos trabalhistas e “fazer com que empregados e patrões sejam amigos”.
Escalado para comentar o deputado, Ciro disse “discordar respeitosamente” dele. “Consertar conta pública significa cortar despesas na mesma proporção em que elas estão”.
Greve dos caminhoneiros
Ao ser questionado se, em sua eventual gestão, os servidores públicos serão liberados para fazer greve mesmo que atuem em serviços essenciais, Cabo Daciolo, que já foi detido por supostamente liderar uma greve de bombeiros, afirmou ter ido até as estradas durante a paralisação dos caminhoneiros: “Em momento algum os caminhoneiros pararam as vias, só queriam ser ouvidos, e não foram ouvidos pelo presidente”. Disse também que, assim que assumir, irá reduzir o valor do combustível e o do gás de cozinha.
Ao comentar, Marina criticou o governo atual. “O problema da greve dos caminhoneiros é que o governo Temer não tem credibilidade, não tem legitimidade. Recebeu a pauta antes e não tomou nenhuma providência mesmo sabendo que uma greve de caminhoneiros pode parar o país. O governo tinha meios para manejar a situação e não fez nada.”
Coligação com o Centrão
“Defendemos a reforma política. Não é possível continuar com 35 partidos. Todos, inclusive o meu, estão fragilizados”, afirmou Alckmin ao ser questionado sobre sua aliança com o centrão. Alvaro Dias, ao comentá-lo, afirmou que “esse ajuntamento de siglas partidárias [a coligação do PSDB] é a reedição da tragédia política que vivemos no Brasil”.
Por que quer ser presidente da República e o que é preciso mudar no combate à corrupção?
Meirelles
“Muita gente não me conhece. Eu nunca fui candidato a presidente da República. Eu não sou político, sempre trabalhei em grandes empresas. Decidi voltar ao Brasil e colocar meu conhecimento a serviço do povo.”
Alckmin
“O Brasil tem pressa. Quero ser presidente para, no dia 1º de janeiro, retomar as atividades econômicas. É possível, sim, recuperar a economia rapidamente. Em relação à corrupção: tolerância zero. E vou fazer a reforma política.”
Marina
“Eu sou candidata a presidente porque tenho o propósito de contribuir para um país justo e no qual todos possam viver com dignidade. Sou mulher, casada, mãe de quatro filhos e mulher negra. Quero que o nosso país tenha educação de qualidade não como exceção, mas como regra.”
Ciro
“Eu acho que o Brasil precisa mudar. Hoje há 13 milhões brasileiros de desempregados, mais de 32 milhões empurrados para viver de bico, mais de 63 milhões com nome sujo no SPC.”
Bolsonaro
“Quero ser candidato porque o Brasil precisa de um presidente honesto, patriota, que crê em Deus e afaste de vez o fantasma do comunismo. Só há uma maneira de combater a corrupção no Brasil: elegermos um presidente de forma isenta.”
Boulos
“Eu estou indignado como você, eleitor. Política para mim não é carreira, é desafio. Eu quero ser presidente para enfrentar os privilégios. Eu quero ser presidente para acabar com a esculhambação que se tornou o Brasil no sistema político, esse toma-lá-da-cá.”
Alvaro Dias
“Refundar a República, substituir esse sistema corrupto e incompetente que é a causa dos grandes problemas que estamos vivendo no Brasil. Refundar a República com reformas fundamentais para gerar 10 milhões de empregos e fazer o país crescer em média 5% ao ano.”
Cabo Daciolo
“Eu vou ser o presidente da República e levar a nação brasileira a clamar o senhor. A solução para a nação brasileira chama-se Jesus Cristo. Não estou pregando religião, estou falando de amor, para você que está me ouvindo: tenha fé, esperança e amor. Para acabar com a corrupção, vamos entrar com uma reforma política e tirar os bandidos do poder.”
Veja mais declarações dos presidenciáveis:
“FHC explodiu a carga tributária. Quem fez o Plano Real foi Itamar Franco, um presidente injustiçado”
CIRO GOMES
“O que foi feito [com relação à segurança pública] no Brasil foi tiro, porrada e bomba. Não se investiu em inteligência nem em investigação. Vamos enfrentar o crime organizado”
GUILHERME BOULOS
“Não vamos permitir o sucateamento das Forças Armadas. A Intervenção Militar no Rio é uma mentira”
CABO DACIOLO
“Vamos cortar gastos, rever incentivos, zerar o déficit e, com isso, vamos trazer muitos investimentos pro Brasil. O Brasil tem muita demanda!”
GERALDO ALCKMIN
“Bolsonaro, numa democracia, o Estado é laico”
MARINA SILVA
“Seu partido, Meirelles, o MDB, é símbolo do toma-lá-dá-cá. Estão envolvidos na Lava Jato, no mensalão… Seu partido nunca abriu mão disso, desse toma-lá-dá-cá é que surge a ineficiência do Estado e a corrupção”
JAIR BOLSONARO
“Falta de dinheiro em educação é blá-blá-blá. Não falta dinheiro, falta competência, falta honestidade”
ALVARO DIAS
“O que é necessário é termos empregos para que todos que queiram possam trabalhar. Ter um governo competente, que invista na saúde, garanta saneamento. É preciso ter experiência, capacidade de gestão”
HENRIQUE MEIRELLES