Diário de um jornalista duro indica o Catraca Livre
por Marcos Dávila, da Folha de S.Paulo
No filme “Diário de um Jornalista Bêbado”, em cartaz, há uma citação de uma célebre frase do escritor irlandês Oscar Wilde (1854-1900): “Um cínico é um homem que sabe o preço de tudo, mas o valor de nada”. Assim como San Juan (capital de Porto Rico) nos anos 1950, na supracitada adaptação para o cinema do romance de Hunter S. Thompson, São Paulo parece invadida por uma onda de cinismo.
Este pobre jornalista que vos escreve recebeu a missão de passar um fim de semana na cidade mais cara do país gastando apenas R$ 20 por dia. O desafio era aproveitar o máximo das ofertas de lazer, cultura e gastronomia da capital, no sábado e no domingo, sem ultrapassar o limite diário proposto.
Será que o mico estampado no verso da nota amarela de R$ 20 queria dizer alguma coisa? Deixei de lado os misteriosos sinais do acaso e comecei a organizar a expedição.
O primeiro passo foi preparar a mochila. Sim, mochila. Com o orçamento previsto, deixe o carro na garagem e nem pense em pegar táxi. As opções válidas são sair a pé, de transporte público (não esqueça de levar seu Bilhete Único) e, para os mais aventureiros, de bicicleta. Caronas com amigos motorizados também são bem-vindas.
A mochila precisa ter uma garrafa de água, que pode ser abastecida nos bebedouros públicos, e um sanduíche reforçado ou uma fruta. Comer bem na cidade é de longe a parte mais dispendiosa do desafio. Por isso, se for passar o dia inteiro na rua, programe-se para fazer ao menos uma refeição em casa. Drinques, vinhos e cervejas estão fora de cogitação, a menos que consiga beber de graça em alguma “vernissage” ou boca-livre do gênero.
Entusiasmo e espírito de aventura não podem faltar na bagagem. Disposição é fundamental para enfrentar os atrasos e a lotação dos transportes públicos, além da fila em alguns programas gratuitos. Curiosidade é imprescindível para garimpar pérolas fora do centro expandido da cidade e dos shoppings.
Fique de olho nos guias culturais (como a seção “Grátis” do “Guia Folha”), em sites especializados (como o www.catracalivre.folha.uol.br) e nos eventos das redes sociais. Geralmente, as sugestões mais interessantes vêm do boca a boca.
Vencida a barreira da alimentação e do transporte, a cidade pode surpreender na oferta de programas de cultura e lazer gratuitos (ou quase). Em dois dias, consegui ir a três exposições, dois shows, um concerto, uma feira de rua e ao cinema. Essa foi a parte mais barata do roteiro e, voltando a Oscar Wilde, a mais valiosa. Confira a seguir o diário de um jornalista duro. Leia a matéria na íntegra
Marcos Dávila, vulgo Peri Pane, criou a performance Homem Refluxo (www.homemrefluxo.com), é integrante do quarteto Canções Velhas para Embrulhar Peixes e costuma caçar moedas na bolsa da mulher para completar a passagem da condução.