Doria viajou 200% mais do que Haddad no início da gestão
Apuração do Catraca Livre mostra que o tucano esteve fora da cidade por 13,5 dias úteis até o final de abril contra 4,5 dias úteis do petista no mesmo período
A agenda do prefeito João Doria (PSDB) na segunda semana de abril começou agitada. Já na segunda-feira (10), o tucano despertou cedo para o seu primeiro compromisso do dia: às 7h, ele teria que estar a postos para uma reunião de integração dos governos estadual e municipal no Palácio dos Bandeirantes, a residência oficial de seu padrinho político, o governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Algumas horas depois, ao meio-dia, após ter apresentado à imprensa um balanço dos primeiros 100 dias de governo, Doria embarcou para Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, onde participou de uma palestra empresarial com executivos cujo objetivo era divulgar e discutir propostas liberais.
De lá, o prefeito voltou para São Paulo rumo ao Aeroporto de Guarulhos, de onde sairia para sua segunda viagem internacional como chefe do Executivo municipal. Desta vez, Doria foi para Seul, capital da Coreia do Sul, onde ficou por quatro dias para conhecer novas tecnologias para aplicar no transporte público, além de se reunir com bancos de investimento.
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Viajar, palestrar, negociar
A análise da agenda do atual prefeito revela seu esforço em circular por outras cidades além da que administra e também em fazer uma articulação presencial com gestores e empresários nacionais e internacionais.
Nos quatro meses iniciais de gestão, Doria viajou para seis países – Dubai e Abu Dhabi, nos Emirados Árabes; Qatar (Doha); Coreia do Sul (Seul); Itália (Roma); Vaticano e Portugal (Lisboa) – e fez quatro viagens nacionais – Belo Horizonte, em Minas Gerais; Porto Alegre, no Rio Grande do Sul; Foz do Iguaçu, no Paraná e Campos do Jordão, em São Paulo.
Em sua escala para países árabes, Doria promoveu um pacote de privatizações de lotes da capital paulista, como o Autódromo de Interlagos e o complexo do Anhembi. Depois, na Coreia do Sul, fez acordo com empresas daquele país para anunciar obras de revitalização no bairro do Bom Retiro, que no futuro poderá se chamar “Little Seul”.
No Vaticano, o prefeito gravou um vídeo de seu encontro com o papa Francisco. Na ocasião, o tucano chegou a pedir ao pontífice que revisse a decisão de não vir ao Brasil em outubro deste ano. No mesmo dia, embarcou para Lisboa, onde passou a tarde para palestrar na Faculdade de Direito da cidade.
No Brasil, todos os trajetos foram realizados para que ele pudesse participar de debates essencialmente empresariais, com exceção de uma viagem a Campos do Jordão, onde palestrou em um congresso estadual de municípios.
Considerando todas essas viagens, Doria passou 13,5 dias úteis ou, aproximadamente, duas semanas e meia de trabalho, em outras cidades ou países enquanto esteve à frente da prefeitura. As viagens aconteceram em fevereiro e abril. Nos meses de janeiro e março, o prefeito não saiu da capital.
Já seu antecessor, Fernando Haddad (PT), viajou 4,5 dias úteis nos primeiros quatro meses à frente do cargo – entre janeiro e abril de 2013. Isso significa que Doria já viajou 200% mais que o petista no início da gestão.
Segundo dados divulgados no site da prefeitura, todas as primeiras viagens do petista foram feitas a Brasília. Na viagem inaugural, o ex-prefeito se reuniu com outros políticos num encontro nacional de novos prefeitos. Nas três últimas, participou de audiências ou reuniões com a então presidenta Dilma Rousseff e o então vice, Michel Temer. Houve mais uma viagem para Santos, no litoral paulista, que durou uma manhã.
A grande virada
Uma das viagens mais recentes do atual prefeito aconteceu na sexta-feira, 21 de abril, quando ele passou o dia em Foz do Iguaçu, no Paraná, para participar do 16º Fórum Empresarial LIDE, organização que fundou e da qual se afastou ao ser eleito.
Doria já havia participado de outros eventos do LIDE (Grupo de Líderes Empresariais) desde que ganhou o título de prefeito. Em 17 de abril, por exemplo, o jornal “O Globo” informou que o prefeito participou de um almoço da entidade ao lado do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
No encontro em Foz do Iguaçu, Doria voltou a demonstrar que é a favor das reformas da Previdência e trabalhista. “É chegada a hora de o empresariado apoiar incondicionalmente as reformas. Não é possível imaginar que a força do empresariado seja menor que a república sindicalista. Mobilizem-se, pois a falta de apoio de hoje pode ser o remorso de amanhã”, disse, segundo reportagem divulgada na revista “Exame”.
Ele chegou a afirmar na terça passada (25) que iria cortar o ponto dos funcionários da prefeitura que aderissem à greve geral que ocorreu na sexta (28). “Eu não apoio esse movimento. Se [o servidor] não trabalhar, vai ter um dia a menos no seu salário”, disse, em entrevista à “Super Rádio AM”.
Durante a greve geral, o prefeito teve um dia normal em seu gabinete e anunciou medidas para tentar amenizar o impacto da greve no trânsito para quem fosse trabalhar.
Todo esse ritmo intenso de trabalho e a indiscutível exposição da imagem de Doria em temas nacionais e também no exterior levam a crer que o prefeito estaria se cacifando para, quem sabe, concorrer às disputas presidenciais no ano que vem.
Nesses meses iniciais de gestão, o tucano apostou suas fichas no cumprimento de uma agenda repleta de eventos e anúncios midiáticos, além de ter continuado a usar slogans que fizeram sucesso em sua campanha, como “João Trabalhador”, “não sou político, sou gestor” e “acelera, São Paulo”.
Em seu perfil no Facebook, sua principal vitrine política, que reúne mais de 2,5 milhões de seguidores, não são raros os fãs que o chamam de “futuro presidente”.
Pesquisa Datafolha divulgada no último domingo (30) mostra que Doria se tornou o nome mais competitivo entre os tucanos numa possível candidatura para a Presidência em 2018. A virada ocorreu após a divulgação da lista da Odebrecht, que cita Geraldo Alckmin e Aécio Neves, os candidatos do partido mais “naturais” à disputa, entre investigados do esquema.
Em um cenário contra Lula (PT), Jair Bolsonaro (PSC) e Marina Silva (Rede), Doria aparece com 9% das intenções de voto. Contra esses três candidatos, Aécio Neves teria 8% das intenções e Geraldo Alckmin, 6%.
Em relação à porcentagem de rejeição na disputa eleitoral, Aécio aparece com 44%, contra 28% de Alckmin e apenas 16% de Doria.
O prefeito, no entanto, insiste que Alckmin é seu candidato à Presidência, mas admite que poderá concorrer ao governo paulista – se seu padrinho político assim solicitar.
Sobre sua popularidade, Doria diz que são “lisonjeiras” as pesquisas que citam seu nome na disputa eleitoral. “São lisonjeiras para nós, porque mostram um índice de aprovação elevado. Ninguém frequentaria pesquisas nacionais se estivesse fazendo uma má gestão”, afirmou, em sua visita a Foz do Iguaçu.
Outro lado
Questionada pelo Catraca Livre sobre o aumento expressivo de viagens nacionais e internacionais do atual prefeito em comparação a seu antecessor, a assessoria de comunicação de João Doria justificou as viagens dizendo que todas elas foram realizadas sem a utilização de recursos da prefeitura.
Na viagem para Emirados Árabes e Qatar, a assessoria diz que todos os custos foram pagos pelos organizadores do World Government Summit 2017, encontro no qual o prefeito fez uma apresentação. “O objetivo principal do compromisso internacional foi divulgar o Plano Municipal de Desestatizações e fazer contato com possíveis investidores”, diz a nota.
A viagem para Coreia do Sul, por sua vez, teria sido custeada pela Prefeitura de Seul. Já as viagens para Belo Horizonte, Porto Alegre, Vaticano, Lisboa, Foz do Iguaçu e Campos do Jordão foram pagas integralmente com avião e recursos próprios do tucano, segundo a assessoria.
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