Editora do Paraná manda recolher e destruir livros de autor racista

Editora divulgou nota afirmando o “mais absoluto repúdio a declarações ou comportamentos racistas, homofóbicos, misóginos, supremacistas e congêneres”

A Kotter Editorial anunciou que irá retirar de circulação e picotar os exemplares “Anamnesine”, lançado neste ano pela editora paranaense. O autor do livro, Álvaro Hauschild, de 29 anos, é investigado em Porto Alegre pelo crime de racismo.

Hauschild, doutorando do curso de filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), enviou mensagens racistas para a namorada de Renato da Silva Júnior, de 24 anos, estudante de Políticas Públicas da mesma instituição.

“Anamnesine” foi lançado em 2021; autor é acusado de racismo
Créditos: Reprodução/Facebook
“Anamnesine” foi lançado em 2021; autor é acusado de racismo

Segundo o provável futuro doutor em filosofia, a mulher “merece coisa melhor” e que está “fazendo caridade” em se relacionar com negros, que “exalam cheiro típico”.

“Por isso, os europeus são protetores, ‘patriarcais’, porque se não fosse isso eles perderiam potencialmente a etnia. As mulheres sempre foram muito protegidas contra influências de estranhos, sobretudo negros”, diz uma mensagem.

Segundo a delegada Andreia Matos, da Delegacia de Combate à Intolerância de Porto Alegre, Hauschild confirmou ser o autor das mensagens, mas nega se tratar de crime de racismo ou injúria.

Editora do Paraná manda recolher e destruir livros de autor racista
Créditos: Secom UFRGS
Editora do Paraná manda recolher e destruir livros de autor racista

A editora divulgou nota afirmando o “mais absoluto repúdio a declarações ou comportamentos racistas, homofóbicos, misóginos, supremacistas e congêneres”.

“Anamnesine” é um livro de contos. Leia, abaixo, a nota da editora sobre a decisão:


Devido a fatos recentes, a Kotter Editorial houve por bem reunir hoje seu corpo editorial para discutir entre si e publicar sua posição a respeito do que se segue.

Coube à Editora manifestar-se e reiterar com veemência o mais absoluto repúdio a declarações ou comportamentos racistas, homofóbicos, misóginos, supremacistas e congêneres, por parte de qualquer colaborador ou autor da Editora que, neste caso, se já tenha sido publicado, por imperioso, será excluído do catálogo da Kotter Editorial, bem como será o título publicado recolhido das redes de livrarias parceiras.

Não há nenhuma novidade, pois a Editora sempre se manifestou abertamente contra todo tipo de discriminação, apenas cumpre reiterar de forma oficial, para eliminar qualquer possibilidade de dúvida.

Assinam a presente o corpo efetivo de editores, em nome dos profissionais desta casa editorial, todos comprometidos com o fortalecimento do livre pensamento e da diversidade, e concordes com o que aqui expressamos.

Embora publiquemos autores ideologicamente comprometidos com a democracia, o progressismo e a justiça social, respeitamos todas as demais posições como legítimas e meritórias. Exceto casos de racismo, homofobia, misoginia e afins, pois não são ideologias, são crimes.

Curitiba, 01 de outubro de 2021

Sálvio Luiz Nienkötter
Cristiane Luiza Nienkötter
Francieli Cunico
Claudecir O. Rocha
Tiago Goes Cardoso
Marcos Pamplona
Anna Clara Bordinião
Daniel Osiecki


Como denunciar racismo

Casos como esses estão longe de serem raros no Brasil. Para que eles diminuam, é fundamental que o criminoso seja denunciado, já que racismo é crime previsto pela Lei 7.716/89. Muitas vezes não sabemos o que fazer diante de uma situação como essa, nem como denunciar, e o caso acaba passando batido.

Desde 1989, a Lei 7.716 define como crime a discriminação pela raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional
Créditos: iStock/@innovatedcaptures
Desde 1989, a Lei 7.716 define como crime a discriminação pela raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional

Para começar, é preciso entender que a legislação define como crime a discriminação pela raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, prevendo punição de 1 a 5 anos de prisão e multa aos infratores.

A denúncia pode ser feita tanto pela internet, quanto em delegacias comuns e nas que prestam serviços direcionados a crimes raciais, como as Delegacias de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), que funcionam em São Paulo e no Rio de Janeiro.