Egressas do sistema prisional recebem treinamento do Google
O foco do programa Women Will é a geração de renda às mulheres, seja através do emprego ou do empreendedorismo
“Na minha vida, eu já caí e levantei muito, já montei e perdi 9 casas, já fiz faculdade, mas não terminei, já tive uma amiga que morreu nos meus braços, vi meu pai morrer no hospital assassinado… Hoje, devido à crise, a minha profissão não dá mais dinheiro. Perdi as esperanças. Eu não consigo me levantar mais. Então, eu espero receber deste treinamento conhecimento para ter foco nos meus objetivos.”
O depoimento acima foi feito por Marcela Conceição dos Santos, no dia 23 de julho, durante o Women Will, programa do Google de capacitação para criar oportunidades econômicas e promover o desenvolvimento de mulheres ao redor do mundo. Esta edição do projeto, feito em parceria com a Rede Mulher Empreendedora (RME), teve como foco mulheres egressas do sistema prisional.
Cerca de 80 mulheres, sendo grande parte delas ex-detentas, participaram do treinamento no Campus do Google para startups, em São Paulo. Segundo a porta voz da empresa, Jimena Tomás, o Women Will, que compõe o Cresça com o Google, acontece a cada três meses e já reuniu diferentes grupos, como mulheres negras, pessoas trans e mulheres 50+.
- Cielo oferece 3 mil bolsas em curso para empreendedoras
- 3ª edição da FLID – Feira Literária de Diadema homenageia autores locais e ícone da literatura negra
- Programa oferece curso gratuito de programação para mulheres
- Santander abre 50 mil vagas em 9 cursos gratuitos
Cada edição dispõe de dois dias de curso. O primeiro, reúne palestras voltadas ao empoderamento, como, por exemplo, sobre autoimagem, liderança feminina e organização financeira. No segundo dia, é abordado o conteúdo do Google, o que inclui aulas de segurança online e ferramentas digitais para capacitar as participantes.
“O foco em si do programa é a geração de renda, seja através do emprego ou do empreendedorismo. Nesta edição, com as egressas, um dos critérios para seleção foi a mulher estar desempregada e/ou ser moradora de bairros mais pobres da cidade”, afirma a porta-voz.
Conseguir um trabalho é um dos maiores entraves na vida de egressas, pois ainda há muito preconceito contra elas. No entanto, ter a própria renda, para esse público, é o que faz a diferença para elas saírem de um círculo de violência, como explica Ana Lúcia Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora. “Se você consegue fazer com que a mulher tenha a própria renda, isso diminui que ela e sua família fiquem numa situação de vulnerabilidade”, ressalta.
“Visto que temos um mercado extremamente preconceituoso, a gente mostra a elas a possibilidade de empreender e formar redes de relacionamento entre mulheres para ajudar umas às outras”, completa Fontes.
Algumas das selecionadas para o treinamento já são empreendedoras, como Vanessa Akama Barbosa. Ela e uma amiga, também egressa do sistema prisional, criaram um e-commerce de moda feminina há três meses, chamado Giulianna Modas.
Vanessa foi presa por tráfico de drogas e permaneceu seis anos detida. Ainda no presídio, ela prestou ENEM e conseguiu o Prouni. Atualmente, está cursando estética e trabalha em uma empresa, que apoia um projeto social para ajudar mulheres egressas.
No treinamento, a empreendedora buscou novas ideias e ferramentas para a gestão de seu e-commerce. “Administrar tudo isso e fazer o negócio se tornar rentável, para que a gente sobreviva só dele, é o nosso maior desafio.”
Women Will no combate à desigualdade
Quando o assunto é desigualdade econômica, o Brasil está em 91º lugar de 144 países no relatório de desigualdade de gênero elaborado pelo Fórum Econômico Mundial em 2016. Essas distâncias foram ressaltadas devido à crise econômica e política que o país tem enfrentado nos últimos anos. Prova disso é o fato do desemprego entre as mulheres ser 37% maior na comparação com os homens.
Investir na formação das mulheres é incentivar que encontrem novas oportunidades de trabalho, melhorem suas carreiras e abram seus próprios negócios. Além disso, é uma maneira de garantir crescimento para o país, pois o PIB poderia ser 30% mais alto se as mulheres participassem do mercado de trabalho na mesma proporção que os homens.
Por isso, o principal objetivo do Women Will é capacitar mulheres brasileiras a criar suas próprias oportunidades econômicas, tornando-as confiantes e habilitadas para aproveitar todo o potencial do digital, seja iniciando um empreendimento, mudando de carreira ou encontrando um emprego.
O Brasil é o quinto país a receber o programa. Em 2017, o Google um piloto do programa com 100 moradoras de Paraisópolis e Brasilândia, em São Paulo, para entender quais são as necessidades reais delas e construir um treinamento relevante e efetivo. A experiência foi registrada em um documentário produzido e dirigido pela Hysteria, braço feminino da Conspiração Filmes (assista abaixo).
Em 2018, o projeto foi realizado mensalmente no Campus São Paulo e também contou com edições especiais em Brasília, Teresina, Natal, Salvador, Fortaleza e João Pessoa. Em São Paulo foram 16 horas de treinamento, divididas em dois dias, focando especialmente em grupos femininos que não tiveram acesso a programas de capacitação, como mães de filhos pequenos, mães solo, mulheres maduras 50+ e mulheres transgêneros. Até momento, mais de 14 mil mulheres já foram treinadas.
Confira o filme sobre o projeto: