Eleitor de Bolsonaro oferece brinde para quem ‘caçar viadinho’
Relatos de atos de ódio e preconceito praticados por bolsonaristas foram replicados nas redes sociais; o presidente eleito não se manifestou sobre os casos
O fim da corrida presidencial no país trouxe consigo uma sensação de medo e insegurança à comunidade LGBT brasileira. Após o resultado que confirmou a vitória de Jair Bolsonaro que se tornará o próximo presidente a partir de 2018, dezenas de relatos de ameaças homofóbicas, com alguns, inclusive, oferecendo recompensa para quem “caçar e atirar em viadinho”.
“Atenção, geral! Tá liberada a caça legal aos viadinhos! Não vale atirar na cabeça, tá ok?”, afirmou o internauta, oferecendo como recompensa “1 caixa de Budweiser pra cada viadinho no chão” e conclui com um “valendo” em sinal à liberação da “caça” “outorgada” pela vitória do militar.
O responsável pela postagem, identificado como M.S, traz em sua foto do perfil adesivo de apoio a Bolsonaro e uma foto do presidente eleito na capa da rede social.
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Uma outra internauta, identificada como F.V., que também tem foto de apoio a Jair Bolsonaro em sua conta, afirma que “gay bom é gay morto” e propõe a criação de um grupo de WhatsApp para extermínio de gays em Goiânia.
“Grupos de extermínio dos gays no Goiás, agora com a vitória do nosso mito Bolsonaro, vamos juntos lutar pela família brasileira e por fim nesses filhos do demônio a favor da família tradicional. Informações pelo telefone (62) ****-****. Gay bom é gay morto, junte-se a nós”, afirmou ele.
A Ordem dos Advogados do Brasil investigará o print sobre a criação do grupo de extermínio, conforme informou a advogada Chynthia Barcellos, membro da Comissão Especial da Diversidade Sexual e Gênero do Conselho Federal da OAB.
Para ela, “este é um caso de dano moral coletivo, quando a ameaça não está direcionada a uma pessoa apenas”. Barcellos diz ainda que esses casos podem ser reportados ao Ministério Público e no Disque 100: “As pessoas continuam sob a tutela das leis e precisam ir atrás disso. Nenhum discurso de ódio vai legitimar esse tipo de crime”, completou a advogada, segundo o site do jornal O Popular.
No Paraná, estado onde Bolsonaro teve votação expressiva, foram registradas cenas de violência em Curitiba, na região central da cidade, e na frente de algumas baladas LGBT como a Verdant e Slay.
Na web, moradores local e frequentadores dos espaços relataram que bolsonaristas tentavam entrar na Verdant para atacar o público que se encontrava no espaço. Em pronunciamento no Facebook a boate negou que tenha havido qualquer caso de violência dentro da casa, mas ressaltou que houveram, sim, cenas de violência nos arredores.
Até o momento, Jair Bolsonaro não se pronunciou sobre os casos.
Cartilha de segurança
Casos de agressão política contra minorias sociais e oposicionistas a Jair Bolsonaro passaram a circular nas redes sociais logo após o fim do primeiro turno. O medo crescente da violência contra LGBTs fez com que a criação de uma cartilha de segurança destinada à essa população viralizasse logo após o resultado do pleito final, que aconteceu no último domingo, 28.
Intitulada “Dicas de Segurança”, a cartilha foi criada pela Rede Nacional de Operadores de Segurança Pública LGBTI (Renosp), escrita pela 2º Sargenta da Marina Brasileira Bruna G. Benevides e com arte visual do soldado da Polícia Militar de São Paulo Tiago J. Leme Lisboa.
O manual aborda situações de violência a que lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros estão sujeitos fora de suas residências em diversas situações como rua e transporte público, por exemplo.
“Sentem-se em bancos próximos ao cobrador ou motorista. No corredor, para ter controle de quem senta ao seu lado ou caso precise trocar de lugar”, alerta o texto sobre a situação em coletivos, como ônibus.
Quando sair no final de semana para balada, por exemplo, evitar ir sozinho e, ainda, o consumo excessivo de álcool e drogas. Na hora de ir embora, caso faça uso de transporte público, procurar pontos movimentados.
“Avise para alguém de confiança casa vá marcar um fervo com alguém. Passe o local e horário para que a pessoa monitore a sua segurança”, ressalta a cartilha.
“Caso presencie alguma situação de violência, tente prestar apoio, desde que sua segurança não seja ameaçada. Se possível, filme ou peça para alguém filmar a situação, facilitando a identificação dos agressores”.
Para ter acesso ao material completo basta clicar aqui.
Saiba como denunciar homofobia
Embora não seja considerada crime, a homofobia é hoje uma das práticas de ódio mais comum no dia a dia. A ojeriza motivada pela orientação sexual de outrem deixa marcas que, quando não fatais, psicológicas.
No Brasil, de acordo com dados do Grupo Gay da Bahia, uma pessoa LGBT é morta a cada 19 horas. Em 2017, a entidade computou 445 homicídios desse tipo, o que representa um aumento de 30% em relação ao ano anterior.
No link abaixo, saiba o que fazer em caso em caso de homofobia e como identificar quando você está sendo vítima de um ataque homofóbico.