Em carta, Bebianno diz que Carlos Bolsonaro vive em ‘prisão emocional’

"O senhor cultiva e alimenta teorias de conspiração, intrigas e ódio, e ensinou seus filhos a fazerem o mesmo"

16/03/2020 07:45 / Atualizado em 17/03/2020 14:18

Amigos do ex-ministro Gustavo Bebianno, que morreu no último sábado, 15, após sofrer um infarto fulminante, divulgaram uma carta que ele escreveu ao presidente Jair Bolsonaro quando deixou o cargo.

Na carta, o ex-secretário-geral da Presidência fez alertas a Bolsonaro, dirigidos principalmente ao vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ).

O advogado Gustavo Bebianno foi o primeiro ministro demitido do governo Bolsonaro
O advogado Gustavo Bebianno foi o primeiro ministro demitido do governo Bolsonaro - Reprodução/Instagram

“Dediquei dois anos da minha vida para defender uma causa apelidada de Mito. E eu acreditei nesse Mito com todas as minhas forças, com todo o meu coração. Meu Capitão, o senhor precisa acordar e cair em si. O senhor está obsediado. Obsediado pelo próprio filho. Carlos ]Bolsonaro] precisa de ajuda e só o senhor tem esse poder”, escreveu Bebianno.

“O senhor cultiva e alimenta teorias de conspiração, intrigas e ódio, e ensinou seus filhos a fazerem o mesmo”, diz outro trecho.

Na carta, Bebianno diz ainda que Carlos Bolsonaro “vive em uma prisão mental e emocional” e sofre “intensamente em função do próprio ódio”, que seria cultivado contra tudo e todos, principalmente a pessoas por quem Bolsonaro demonstra afeto. “Ele é consumido pelo ódio 24 h por dia, independentemente do que esteja acontecendo no mundo real”.

O conteúdo da carta foi enviado ao jornal O Globo pelo empresário Paulo Marinho, amigo do ex-ministro e suplente do senador Flávio Bolsonaro. O texto foi divulgado neste domingo.

Clique aqui para ler a íntegra da carta deixada por Gustavo Bebianno ao presidente Jair Bolsonaro.

48 dias no governo

O advogado Gustavo Bebianno foi líder do PSL e ocupou a Secretaria-Geral da Presidência durante um mês e 18 dias, tendo sido o primeiro demitido por Bolsonaro.

O ex-ministro foi uma figura importante da primeira crise política do atual governo, diante da suspeita de que o PSL fez uso de candidatura “laranja” nas eleições de 2018 para desviar verbas públicas. À época, ele trocou farpas com o vereador do Rio, Carlos Bolsonaro, filho do presidente.

O ex-líder do PSL criticava o governo. De acordo com ele, a agressividade da família Bolsonaro em relação a divergências seria um alerta para toda a população. “É um grande equívoco. Metade dos brasileiros não pensa como o núcleo bolsonarista. Vão fazer o que com essas pessoas? Vão matar? Jogar no oceano?”, afirmou durante o programa Roda Viva no último dia 2 de março.