Em debate morno na Band Alckmin é o mais acionado e Ciro, isolado

Candidatos falaram sobre reforma trabalhista, educação, saúde, previdência e lembraram biografias

Candidatos à Presidência apresentam propostas no debate da Band mediado pelo jornalista Ricardo Boechat
Créditos: Kelly Fuzaro/Band
Candidatos à Presidência apresentam propostas no debate da Band mediado pelo jornalista Ricardo Boechat

No primeiro debate dos presidenciáveis na TV, o da Band, oito candidatos discutiram durante três horas na noite da última quinta-feira, 9, sobre suas biografias, destacaram pontos frágeis uns dos outros e até se lembraram de apresentar algumas de suas propostas.

Morno no primeiro bloco, os candidatos Álvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriota), Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), Jair Bolsonaro(PSL), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT) abriram o programa respondendo a uma questão formulada pelos leitores do jornal Metro sobre emprego. Lula (PT) não teve autorização para participar do programa.

O pedido, reforçado pelo mediador, Ricardo Boechat, era que os candidatos fossem claros e dissessem qual será a primeira medida que eles tomarão, se eleitos, para estimular a contratação de trabalhadores, como será implementada a medida, quando e de onde virão os recursos para isso.

A maioria, no entanto, não respondeu a questão de forma direta Álvaro Dias aproveitou seus 90 segundos para se apresentar ao eleitor, falar de sua infância pobre e citar alguns de seus feitos na trajetória política. Cabo Daciolo iniciou sua fala com um “Glória a Deus”, falou que seus adversários representam a “velha política” e citou quantos anos têm de vida pública e que vai “empregar esse povo”.

A partir da esq, Bolsonaro, Boulos, Meirelles e Ciro durante debate da TV Bandeirantes
Créditos: Kelly Fuzaro/Band
A partir da esq, Bolsonaro, Boulos, Meirelles e Ciro durante debate da TV Bandeirantes

Alckmin afirmou que gerar emprego é “questão central” e que o Brasil “precisa crescer e, para isso, precisa de investimentos e de confiança. Precisa reduzir a despesa para zerar o déficit” e, também, de uma “simplificação tributária”, além da abertura da economia, para “reduzir o custo Brasil”.

Marina agradeceu a Deus e, na sequência, fez coro com o tucano, lembrando que é preciso fazer investimentos para que os empregos sejam criados e, para isso, é necessário “credibilidade e mudança profunda no país”. “Aqueles que criaram o problema não vão resolvê-lo” e encerrou dizendo que sabe o que é precisar de trabalho.

Bolsonaro afirmou que o “salário no Brasil é pouco para quem recebe e muito para quem ganha” e defendeu que direitos trabalhistas sejam reduzidos em prol da geração de vagas, admitindo que essa proposta não é popular.

Boulos iniciou dando boa noite a Lula, relembrando da vereadora Marielle Franco, de seu partido, que foi assassinada, e disse que as reformas trabalhistas e previdenciárias preveem cortes de investimentos sociais. “Vamos retormar o investimento público, promover a reforma tributária” e rever privilégios, afirmou.

Meirelles se apresentou ao eleitor, afirmou que, como ministro da Fazenda de Michel Temer (sem citá-lo)  “retirou o país da maior recessão da história”

A partir da esq., Álvaro Dias, Cabo Daciolo, Geraldo Alckmin e Marina Silva durante debate na Band
Créditos: Kelly Fuzaro/Band
A partir da esq., Álvaro Dias, Cabo Daciolo, Geraldo Alckmin e Marina Silva durante debate na Band

Ciro cumprimentou todos e afirmou que vai gerar 2 milhões de empregos para retomar a renda das pessoas, o que vai ajudar a população a “pagar dívidas” e tirar os endividados do SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) para que voltem a consumir e o país saia do colapso.

Houve também momentos de descontração, como quando Boulos disse a Meirelles que este “não é apenas candidato de Temer, aqui tem 50 tons de Temer, você é banqueiro, o candidato dos bancos” e arrancou risos do emedebista, de Boechat e da plateia.

Por três vezes, candidatos fizeram o sinal de uma tela de TV, como os juízes de futebol durante a Copa da Rússia, pedindo VAR (checagem do árbitro de vídeo), ou melhor: pedido de resposta, mas, assim como no futebol para com os jogadores, não funcionou. O primeiro pedido de resposta só surgiu no quarto bloco, e veio de Bolsonaro, que se disse orgulhoso por ser capitão do Exército. Na sequência, Boulos também fez um pedido, que foi negado.

Confira trechos do debate:

Reforma trabalhista

Ciro questionou Alckmin sobre a reforma trabalhista aprovada no governo Temer. O tucano afirmou que foi um “avanço”. Disse que gerar emprego e renda é um “grande desafio” e que a tecnologia permite produzir mais com menos gente. “Temos agora uma relação moderna.” O adversário do PDT disse que a reforma acabou com o emprego formal e que legislação trabalhista existe para “proteger o trabalhador”.

Saúde

Marina, ao ser questionada sobre como pretende melhorar o SUS, afirmou que o sistema é uma grande contribuição da Constituição aos cidadãos, mas que hoje está “sucateado”. “Vou implementar o sistema como deve ser, com mais recursos e de forma que valorize o programa de saúde da família.”

Alckmin prometeu avançar no saneamento básico e afirmou que irá reverter recursos do Pasep e da Cofins para as prefeituras investirem em obras de tratamento da rede de esgoto. Marina retrucou que “saúde básica é fundamental”, mas, “entra governo, sai governo, as promessas são as mesmas. Falta rede de tratamento de esgoto e o PSDB, que ficou anos no governo, não deu conta. Hoje parte da nossa população padece” com esse problema, finalizou.

Gastos públicos

No segundo bloco do debate da band, Marina chamou a política econômica brasileira de draconiana ao alegar que o povo paga a conta com insegurança e desemprego.”Nós queremos resolver o problema do déficit fiscal, mas ñ podemos fazer isso em prejuízo da saúde, da educação e da segurança pública, como faz a PEC do Teto, q congela os investimentos públicos por 20 anos de forma totalmente insensível com o sofrimento da população”.

A ex-ministra do meio ambiente e senadora ressaltou que a solução para o momento requer mudar o atual quadro político do país, responsável pela crise: “Nós precisamos baixar juros, controlar inflação, fazer a reforma da previdência, não há dúvidas, mas não na lógica do atual governo, em que o Ministro da Fazenda era o principal operador dessa política”. Henrique Meirelles disse que a rival não conhece fundamentos de economia.

Violência urbana

Questionado sobre a questão da violência urbana no Brasil, que registra quase 64 mil assassinatos por ano, Geraldo Alckmin apresentou como solução o combate ao tráfico de drogas e armas. Para isso, prometeu repetir política que reduziu homicídios em SP.

Do outro lado, Geraldo Alckmin analisou que a questão fugiu do controle graças à “política equivocada de direitos humanos”, desvalorização dos policiais e desarmamento do cidadão de bem depois do referendo de 2005, “apoiado pelo partido de Geraldo Alckmin”, frisou

Ainda sobre o tema da segurança pública, o senador Álvaro Dias frisou: “De 2006 a 2016, tivemos o sepultamento de 324 mil jovens, de 14 a 25 anos – sete vezes mais do que o número de soldados mortos na Guerra do Vietnã em 20 anos. Os governantes deveriam pedir perdão ao povo brasileiro”.

Transposição do São Francisco

Ciro se comprometeu a terminar as obras da transposição e também a fazer a revitalização do rio, iniciada em sua gestão como ministro da Integração Nacional de Lula. Marina lembrou da importância econômica e simbólica do São Francisco e dos riscos de assoreamento se não for feita a revitalização.

Feminicídio

Questionado sobre o assassinato de mulheres, Cabo Daciolo afirmou: “O grande problema da sociedade é a falta de amor”.

Aumento do STF
Sobre o aumento de 16% aprovado pelos ministros do STF e sobre seus efeitos para o serviço público, Ciro Gomes considerou: “Querer aumentar os próprios salários num momento como este, para ficar numa expressão respeitosa com os poderes, é uma imprudência acintosa com o povo brasileiro que está desempregado”.