EUA e Uruguai comemoram efeitos da legalização da maconha
Califórnia espera gerar 7 bilhões de dólares aos cofres públicos com a legalização; no Uruguai, liberação do uso recreativo diminuiu lucro do tráfico
Entre 2011 e 2014, a guerra às drogas custou aos cofres públicos brasileiros R$ 3,6 bilhões. Em contraste a isso, um estudo divulgado pela Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados avaliou que a legalização da maconha no Brasil movimentaria, por ano, de R$ 5,7 bilhões, gerando arrecadação tributária próxima de R$ 5 bilhões.
Para além dos gastos e projeções financeiras que suscitam o debate do tema, o saldo da proibição chama atenção para dois indicativos no Brasil:
- 28 mil homicídios apenas no primeiro semestre de 2017 (155 assassinatos por dia, cerca de seis por hora nos Estados brasileiros), em sua maioria associados ao tráfico;
- E a falência do sistema penitenciário, que possui a terceira maior população carcerária do mundo, com 726 mil presos.
Na contramão desse caminho sem expectativa, o mundo amanheceu no dia 1º de janeiro de 2018 com uma notícia que deve transformar a questão da legalização da maconha, ao menos nos Estados Unidos – pioneiro tanto na política proibicionista, que em 1937 deu início à fracassada campanha de combate à erva, quanto no recente processo de liberação do consumo.
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O maior mercado de maconha do mundo
Na última segunda-feira, o Estado da Califórnia anunciou o início da venda de cannabis para fins recreativos, se tornando, assim, o maior mercado legal de maconha no mundo. Por lá, estima-se que os negócios gerem faturamento anual de pelo menos 7 bilhões de dólares.
As primeiras lojas a comercializar a erva, e produtos relacionados ao consumo desde a última segunda-feira, receberam filas de clientes já na madrugada do primeiro dia do ano. A legalização, que acontece em cidades como Oakland, se expandirá para cerca de dez condados – entre eles o de Los Angeles, o mais populoso do país – e passa a receber solicitações de distribuição e venda.
Além da Califórnia, a venda de maconha para uso recreativo é legal nos Estados do Alasca, Colorado, Nevada, Oregon e Washington. Deve contar com a adesão, em breve, de mais dois estados: Maine, onde o uso pessoal é permitido, e Massachusetts que dá início ao processo em julho.
Maconha na farmácia e redução do tráfico no Uruguai
Resultados divulgados pelo governo uruguaio no início de dezembro apresentam os primeiros efeitos da legalização da maconha. Aprovada em 2014, a comercialização ainda é recente no país vizinho – teve início apenas em julho de 2017.
Quase seis meses depois da renovação na política de drogas do país, o narcotráfico teve queda de 18% em suas atividades. Em entrevista recente à revista Galileu, a ativista Mercedes Ponce de León comemora os primeiros resultados. Para ela, os números “mostram, enfim, que a distribuição da cannabis em farmácias, feita pelo Estado, é um método de eliminar o mercado do narcotráfico”.
A abertura para o uso recreativo redefiniu a relação dos uruguaios com a maconha. Um em cada seis opta pela compra da erva legalmente e quase 28 mil pessoas já se cadastraram no programa estatal de distribuição. Do total, 63% recorrem à venda em farmácias; enquanto o restante dedica-se ao autocultivo ou frequenta clubes cannábicos espalhados pelo país.