Guarda humilhado por desembargador diz esperar por justiça
Em sua defesa, Eduardo Siqueira afirmou que foi “perseguido e ilegalmente filmado pela Guarda Civil Municipal de Santos”
O guarda civil municipal Cícero Hilário, 36 anos, humilhado pelo desembargador Eduardo Almeida Prado Rocha de Siqueira, do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), em Santos (SP), falou pela primeira vez sobre o episódio e se defendeu das acusações de “armação” e “abuso de autoridade” feitas pelo magistrado.
Em ofício enviado ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça) na última segunda-feira, 27, o desembargador afirmou que foi vítima de “armação” e que teria ocorrido “abuso de autoridade” no episódio em que foi flagrado sem máscara.
No documento, o desembargador diz ainda que a sua reação, ao chamar os guardas de ‘analfabetos’, se deu à sua indignação com o ‘desrespeito a questões jurídicas’.
- Mãe de Leandro Lo diz que PM que matou filho também é lutador de jiu-jítsu
- Guarda humilhado por desembargador pede R$114 mil de indenização
- Desembargador que humilhou guarda em Santos é afastado
- Desembargador é flagrado novamente sem máscara e debocha de guardas
Em entrevista exclusiva ao G1, o guarda municipal diz que a defesa do desembargador se contradiz com o pedido de desculpa. “A gente não esperava essa parte dele”.
Na semana passada, o desembargador Eduardo Siqueira divulgou nota em que admitiu ter se exaltado “de forma desmedida” com o guarda municipal, razão pela qual decidiu pedir desculpas.
O guarda municipal também se defendeu das acusações e diz que “em nenhum momento houve armação, porque eu não o conhecia, não sabia o cargo que ele ocupa. “Para mim, se tratava de um senhor, que aparentemente estaria em um grupo de risco [para a Covid-19]. Aí, fui orientá-lo, pensando na vida dele e das demais pessoas que estavam ali pela praia”, disse ao repórter Eduardo Velozo Fuccia.
Cícero Hilário contou ainda que a ideia de filmar a reação do desembargador foi do seu colega de farda. “O meu colega já havia filmado a abordagem anterior de outra pessoa, que nos havia maltratado, mas nada comparável com esta situação”.
“A minha vida mudou depois deste fato. Tive um transtorno, que atingiu minha família. Uma coisa chata, que tomou uma proporção muito grande”, desabafou o guarda municipal.
Investigação
Após o episódio, o desembargador Eduardo Siqueira passou a ser alvo de uma investigação, presidida pelo CNJ, que apura se ele feriu a Lei Orgânica da Magistratura, o Código de Ética da Magistratura e se o caso se enquadra nas leis sobre abuso de autoridade e desacato a autoridade.
Segundo o Tribunal de Justiça de São Paulo, desembargador foi alvo de 40 procedimentos de apuração disciplinar nos últimos 15 anos. Todos os processos foram arquivados.
“Eu não sei o teor das outras denúncias, o que de fato ocorreu nesses outros processos. Eu acredito na Justiça e espero que, no meu caso, a justiça seja feita”, disse Cícero.