Homens, negros e jovens são o principal alvo da polícia em SP

17/05/2018 13:04

No estado de São Paulo, a violência policial mata mais homens, negros e jovens do que vítimas de homicídio doloso, segundo pesquisa divulgada pelo Fórum Brasileiro de Segurança.

O levantamento chama atenção para uma realidade alarmante que, há décadas, é responsável pela morte de milhares de anônimos, sobretudo, na periferia de grandes centros urbanos.

Entre 2014 e 2016, o percentual de mortos por policiais, com menos de 17 anos, chegou a 16% – o dobro se comparado aqueles alvo de homicídio (8%). Na mira de uma política de extermínio não declarada aparecem pretos ou pardos, 67% das vítimas em ações policiais. Já no total de assassinatos registrados no estado, no mesmo período, o número chega a 46%.

Se na última segunda-feira, 14, o atual governador de São Paulo, Márcio França (PSDB), ressaltou que ‘quem ofender a Polícia Militar corre risco de vida em SP’ – em referência à policial Kátia da Silva, que matou um ladrão durante tentativa de assalto em frente a uma escola em Suzano (SP) – os números fazem jus à polêmica declaração.

Em 2017, o número  de mortos pelas polícias paulistas bateu recorde, com 943 óbitos – o maior desde 1992, há 25 anos, quando foi registrado 1.470 casos.

Em cinco anos, PM de São Paulo mata mais que todas as polícias dos EUA juntas
Em cinco anos, PM de São Paulo mata mais que todas as polícias dos EUA juntas - Tânia Rêgo/Agência Brasil

Cortando o “mal” pela raiz 

Em entrevista à Folha de S. Paulo, a socióloga Samira Bueno, responsável pelo estudo, alerta a influência de duas questões no uso da força letal dos policiais: os fatores raciais e geracionais. A pesquisa mostra que 6,1 adolescentes foram mortos por agentes a cada mil jovens apreendidos em flagrante de 2013 a 2016, enquanto, entre adultos, o índice foi de 3,4 mortos para cada mil presos.  Isso mostra que interação da polícia com o adolescente é mais violenta. Existe a ideia de que essa letalidade pode funcionar como uma política preventiva. De que, se você poupar o lobo hoje, vai condenar a ovelha amanhã”, afirma.

Entre as vítimas mais novas de intervenções policiais, há garotos de 10 e 11 anos de idade, todos de regiões periféricas da Grande São Paulo.

Outro lado 

Em nota, a PM justificou que “jovens adultos e adolescentes que ingressam no crime possuem uma intempestividade não vista em criminosos mais velhos”.

Ainda de acordo com a nota, cerca de 25% dos roubos dos últimos cinco ano ocorreram com a participação de adolescentes e cerca de 60% das mortes em decorrência de intervenção policial acontecem em flagrantes de roubo.

“É compreensível, portanto, que haja essa diferença percentual”, diz a nota, que destaca: “A PM não comemora as mortes, e sim as lamenta”.

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