Intercept afirma que há mais dados comprovando ação inadequada de Moro

"Esse arquivo é muito grande e é sobre mais pessoas do que a força-tarefa da Lava Jato ou o Moro", afirmou Glenn Greenwald, fundador do The Intercept

Por: Redação

O Intercept afirmou que há mais dados comprovando ação inadequada de Sérgio Moro, enquanto era juiz durante a Operação Lava Jato.

Glenn Greenwald e Sérgio Moro
Créditos: Agência Brasil
Glenn Greenwald e Sérgio Moro

“Não quero falar nada sobre as coisas que ainda não divulgamos. Mas posso falar que esse arquivo é muito grande e é sobre mais pessoas do que a força-tarefa da Lava Jato ou o Moro. Mas não posso dizer mais que isso”, afirmou o jornalista norte-americano Glenn Greenwald, um dos autores da série de reportagens publicadas pelo site “The Intercept Brasil”, que mostram a atuação indevida do ex-magistrado para influenciar em prisões e guiar a opinião pública, em entrevista ao portal UOL.

Greenwald, que também é um dos fundadores do site, disse que o material obtido sobre as relações escusas de Sergio Moro é maior do que o obtido por ele junto com o ex-agente da CIA e da NSA Edward Snowden, em 2013 que acabou comprovando o monitoramento indevido de informações privadas em massa pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos.

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O banco de dados analisado nesse caso era o maior já obtido por uma investigação jornalística. Essa se tornou a reportagem mais importante da carreira do jornalista, ela o deixou famoso mundialmente e lhe rendeu o Prêmio Pulitzer de jornalismo.

“Moro era um chefe da força-tarefa, que criou estratégias para botar Lula e outras pessoas na prisão, se comportando quase como um procurador, não como juiz”, afirmou Greenwald, que é casado com o deputado federal David Miranda (PSOL-RJ), e mora no Rio de Janeiro depois de ter sido ameaçado após as reportagens feitas com Snowden.

“Dizem que eu e meu marido somos de esquerda, mas nem Moro, nem a Lava Jato, dizem que os argumentos [das reportagens] são falsos”, resume.

Consequências

Em relação ao fato de as reportagens terem sido veiculadas sem que os citados fossem ouvidos previamente, o jornalista defende a legitimidade das matérias, que na avaliação dele poderiam ter sua publicação barradas na Justiça.

“Eu acho que as consequências pelo menos para o Brasil serão iguais ou maiores que as consequências do Snowden. [A Lava Jato] é um processo que durou cinco anos, botou muitas pessoas e dois ex-presidentes na prisão. Que tirou a pessoa que estava liderando a corrida presidencial em 2018 [o ex-presidente Lula], deixando alguém como [Jair] Bolsonaro ganhar. Para mim, qualquer material que mostra que tinham comportamentos e ações antiéticas e corruptas nesse processo é enorme”, disse o jornalista.

Convite de Bolsonaro a Moro x reputação da Lava Jato

“Temos conversas que ainda não reportamos sobre o Moro estar pensando na possibilidade de aceitar uma oferta do Bolsonaro, caso ele ganhasse. Isso foi antes da eleição, acho que depois do primeiro turno. E tem pessoas dentro da força-tarefa da Lava Jato, outros procuradores, falando que isso iria destruir a reputação da Lava Jato, porque iria criar uma percepção de que o tempo todo não foi uma apuração contra a corrupção, nem uma apuração do Judiciário”, disse Greenwald.

“E o fato de que o mesmo juiz que condenou o principal adversário do Bolsonaro e depois receber essa oferta para ser muito poderoso já foi muito estranho para o mundo. Mas o fato de que ele fez isso usando um comportamento proibido é ainda pior. Como podemos ter um ministro da Justiça que todo mundo sabe que quebrou as regras básicas da Justiça? É impossível. E mais ainda quando todo mundo sabe que fez isso para impedir o adversário principal do presidente de concorrer, e isso o ajudou a ganhar a eleição”, ponderou o jornalista

Leia a entrevista de Glenn Greenwald ao UOL aqui