‘Podemos estar de corpo presente, mas psiquicamente ausentes’
*Do nosso parceiro Toda Criança Pode Aprender
Crianças desatentas ou desinteressadas em interações sociais, atrasos do desenvolvimento pleno da linguagem verbal, dificuldades de concentração. Cada vez mais, os especialistas atribuem esses “sintomas” à chamada ‘era da hiperinformação’, em que somos bombardeados com estímulos dos mais diversos numa quantidade muito maior do que conseguimos absorver.
Mais do que rotular esses atitudes a um mau comportamento da criança, ou mesmo diagnosticá-las como portadoras de algum transtorno ou déficit de aprendizado, é preciso pensar: como nós, adultos, nos blindamos toda essa informação? O que transmitimos aos pequenos em nossas práticas diárias?
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O encontro “Intoxicações da primeira infância“, do programa Café Filosófico (Instituto CPFL) convidou a psicanalista Julieta Jerusalinsky. Afinal, como o contato inevitável com a tecnologia, a relação com a memória e as novas organizações familiares e dinâmicas de vida impactam o desenvolvimento da criança?
No primeiro programa da série, que está disponível na íntegra no YouTube, Julieta discute os excessos das telas e estímulos na infância a partir do viés psicanalítico. Entre os muitos aspectos levantados, ela questiona o impacto da tecnologia na vida dos adultos que lidam com crianças e os efeitos que isso tem na relação com os pequenos. Um dos comportamentos recorrentes que ela destacada é o de crianças que repetem fragmentos sonoros extraídos da internet sem que aquilo faça sentido.
Em meio às questões exploradas está a forma como a tecnologia preenche integralmente o nosso tempo com informações e respostas imediatas. Isso frequentemente leva à dificuldade de elaborar soluções e criar caminhos a partir do contato com a criança. Tudo precisa ser resolvido de imediato e não sobra tempo para que os impasses tenham desfechos criativos que se construam com base nas situações particulares de encontro entre e o adulto e a criança.
“Vivemos num tempo em que podemos estar de corpo presente, mas psiquicamente ausentes em relação àqueles que nos rodeiam. Não é à toa que proliferam cartazes como ‘não temos Wi-Fi, falem entre em vocês’. Cada vez mais nos encontramos com essas situações em que amigos estão reunidos num bar e estão todos no celular, ou casais jantando juntos, cada um no seu celular. Isso tudo tem um efeito muito mais contundente quando incide em um tempo primordial da constituição psíquica do ser humano, do zero aos três anos, quando o que está em jogo é o desenvolvimento do ‘eu’ e da interação com os demais”, explica.
Assista à entrevista completa:
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