Jovens escrevem carta a ONU após mudança inesperada na COP 25
A Conferência de Clima da ONU será realizada em Madri, na Espanha, na mesma data prevista anteriormente, quando sua sede era em Santiago, no Chile
Cercado pela maior crise das últimas décadas em seu país, o presidente chileno Sebastian Piñera cancelou na última semana a Conferência de Clima da ONU (a COP 25), que estava marcada para acontecer em Santiago entre os dias 2 e 13 de dezembro. Com o cancelamento, a COP será sediada em Madrid, na Espanha, com o calendário original sendo mantido, a menos de 40 dias do início do evento, anúncio que foi feito pela secretária-executiva da Convenção da ONU sobre Mudança Climática, Patricia Espinosa.
Entretanto, a decisão da manutenção das datas mesmo com a transferência da conferência para outro continente impacta negativamente o planejamento daqueles que pretendiam participar do evento. Diversas organizações latino-americanas da sociedade civil, por exemplo, estavam entre as que se preparavam há meses para participar da COP 25 e que agora lidam com diversos prejuízos logísticos e financeiros ocasionados por essa surpresa.
Diante disso, a delegação brasileira do Engajamundo escreveu uma carta ao secretariado, manifestando seu posicionamento sobre o ocorrido.
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Leia abaixo a carta na íntegra:
Carta ao Secretariado da UNFCCC
“Brasil, 2 de Novembro de 2019.
Caro secretariado da UNFCCC,
É com o mais profundo pesar que nós, a Delegação da Juventude do Brasil, representando o Engajamundo, escrevemos esta carta.
O Engajamundo é uma organização criada e liderada por jovens que acreditam em sua responsabilidade como parte essencial da solução para enfrentar os maiores desafios sociais e ambientais do Brasil e do mundo. Trabalhamos como um canal para a participação efetiva dos jovens em decisões importantes que afetam nosso presente e nosso futuro. Nossa missão é conscientizar as/os jovens brasileiras/os de que, mudando a si mesmos, sua comunidade e se engajando politicamente, podem transformar suas realidades. Temos participações significativas nas COPs desde 2013 e é muito triste o entendimento de que agora, ao mudar o local de Santiago para Madri, não seremos capazes de representar a diversidade do Brasil na COP 25.
Entendemos a necessidade de mudar de local devido à situação político-social no Chile. Não obstante, quando se trata de transferir toda uma conferência, que envolve mais de 20.000 pessoas de todo o mundo, para outro continente, isso não deve ser feito, sob nenhuma circunstância, com tão pouco tempo e sem consulta à sociedade civil.
Devido ao nosso momento político e às circunstâncias de governança ambiental aqui no Brasil e na América Latina, acreditamos que, mais do que nunca, era necessária a participação dos jovens latino-americanos neste espaço. Na América do Sul, tivemos uma reviravolta e muitos de nós agora são governados principalmente por negacionistas da emergência climática.
Trabalhamos em estreita colaboração com as redes globais de jovens e também com a ONU para garantir nosso direito de participação e enfrentar adequadamente a crise climática em nossos países. Com essa mudança, que afeta principalmente as delegações de jovens autofinanciadas do sul global, como poderemos liderar essa responsabilidade coletiva conjunta com o mundo, se não não temos a capacidade de comparecer à COP?
Dizemos isso pois, mantendo-se as datas previamente acordadas para a COP, toda a logística para a sociedade civil se torna inviável. Além disso, este foi um ano do GRULAC (Grupo da América Latina e Caribe). Não podemos ignorar o fato de que estamos tirando isso dos países da ALC (América Latina e Caribe) e levando, mais uma vez, a COP para um país europeu, especificamente um dos responsáveis pela colonização sul-americana e por muitos outros crimes atrozes que ocorreram no passado. Embora esses assuntos possam ter sido superados e eclipsados, que tipo de mensagem essa mudança está enviando? Mais uma vez, estamos afastando as discussões dos países mais afetados e menos privilegiados e colocando-as nas mãos dos países europeus desenvolvidos.
Além disso, mover todo o evento para o outro lado do mundo só causa problemas logísticos para pessoas que já haviam planejado vir para as Américas. Por exemplo, 50 de nossos colegas zarparam para atravessar literalmente o oceano Atlântico e alcançar a COP a tempo, sem emitir GEEs. Sua participação também será inviabilizada, a menos que sejam altamente privilegiados e façam exatamente o que estavam tentando evitar, voltando de avião para casa. É ainda pior para organizações de jovens autofinanciadas que não conseguem encontrar soluções rápidas, pois dependemos do apoio de outras organizações ou parceiros. Em quatro semanas, é um verdadeiro desafio arrecadar fundos para 14 jovens delegados das mais diversas partes, regiões e situações sociais do Brasil.
Assim, no mesmo espírito que a conferência da UNFCCC tenta ser realizada em diferentes continentes, para possibilitar a participação de diferentes setores e pessoas que fazem parte dos movimentos da sociedade civil, escrevemos a vocês as seguintes demandas:
Primeiro, você pode reconsiderar as datas e o local da conferência.
Em segundo lugar, como entendemos que essa pode ser uma decisão extremamente difícil, e uma nova mudança também afetaria muitos outros que começaram urgentemente seus preparativos para Madri, instamos o Secretariado a emitir as negociações diplomáticas necessárias com as companhias aéreas para dar um reembolso total ao pessoas afetadas por essa escolha.
Terceiro, definitivamente precisamos trazer mais transparência e envolvimento da sociedade civil na construção de soluções para situações como essa no futuro.
Mais uma vez, entendemos a dificuldade dessas negociações políticas. No entanto, acreditamos verdadeiramente que o que mais procuramos é o esforço conjunto e coletivo de tornar todas as vozes parte dos processos, e isso só é possível quando se respeitam as diferenças e dificuldades impostas à sociedade civil.
Garantimos nosso apoio e compromisso, inabaláveis ao longo dos processos, e continuamos endereçando a agenda climática, a fim de garantir uma participação significativa de jovens de todo o mundo, especialmente dos países do Sul Global, nesses espaços.
Cumprimentos,
Delegação de Jovens do Engajamundo.”