Jovens holandeses criam plataforma para refugiados artistas
O site 'The Publisher' reúne trabalhos daqueles que tinham as artes plásticas, a fotografia e a poesia como profissão em seus países de origem
Diante da atual crise migratória e da imagem negativa que se tem frente ao conflito e aos próprios refugiados, seis estudantes da Universidade de Artes de Utrecht, na região central da Holanda, decidiram criar um projeto para dar voz aos refugiados e suas expressões artísticas.
Em setembro de 2015, tendo em mente que a maioria dos refugiados é só visto como tal e não como o profissional que antes era, os jovens Sacha Schemkes, Sophie Roumans, Sophie Dogterom, Welmoed Terpstra, Mirthe Vos e Jöran Zeeuw construíram o “The Publisher“, plataforma on-line com o portfólio dos artistas. “Nós começamos com a mente aberta, fazendo com que eles (refugiados) nos ajudassem a criar a ideia”, explica Jöran Zeeuw.
O contato do grupo com os refugiados é feito via Facebook ou nas visitas aos campos de recepção de refugiados, como ao de Nijmegen, o maior da Holanda. “Começamos bem simples, sentamos com os refugiados, jantamos juntos, conversamos sobre o que realmente os incomodava e o que poderia melhorar. Muitas ideias saíram destas conversas”, conta Sophie Roumans.
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Uma delas foi que os holandeses deveriam deixar os refugiados falarem por eles mesmos, principalmente por meio de sua arte. Porém, para os estudantes, mais do que isso, a intenção do “The Publisher” é fazer com que aquelas pessoas sejam vistas não só como artistas, mas como seres humanos.
“É tudo uma questão do medo do desconhecido, então se você conhece um pouquinho sobre a pessoa você não tem mais tanto medo. E acho que isso funciona em todo lugar. Isso é sobre a visão moral. E essa todo mundo tem”, diz Zeeuw.
A plataforma também funciona como um meio de contato. “É um caminho, não o fim”, explica Roumans. “Se alguém nos procurar pedindo um refugiado artista para fazer isso ou aquilo ou para mostrar em uma exibição aqui ou ali, por exemplo, nós podemos achar alguém que se encaixe. Então, eles podem arranjar trabalhos na área deles assim”, afirma.
“Em uma escala maior, nos esperamos mudar a visão da sociedade holandesa dos refugiados, porque há muita negatividade, muito por conta da mídia, que escreve sobre eles, mas não com eles. Com esse projeto nós queremos trazer um pouco mais de positividade e mostrar quem eles são”, complementa.
Yaman Hendawi, um dos refugiados que tem seu portfólio publicado no site, era fotojornalista em Alepo, quando foi obrigado a deixar a Síria. Depois de um ano e meio vivendo na Holanda, ele conta que teve sorte de ter tido dinheiro para bancar a viagem até a Grécia e que o “The Publisher” faz com que pessoas o conheçam. “Eu sou a mesma pessoa”, diz.
O projeto, que começou apenas online e com três refugiados, hoje conta com mais de vinte artistas e também com exibições offline. O grande problema, segundo Roumans, é que a maioria dos refugiados produziu o conteúdo em seus países, portanto eles estão disponíveis somente no Facebook ou em outra plataforma online, o que reduz a qualidade da imagem.
Futuramente, o plano dos estudantes é construir um ateliê para os artistas, uma vez que o campo de refugiados tem uma atmosfera meio negativa que inibe a criatividade. Tendo ou não o espaço para criar, o desejo é que o rótulo “refugiado” saia, para dar lugar ao que essas pessoas realmente são: artistas e, claro, pessoas.
Por Teresa Espallargas, 22 anos, estudante de jornalismo