Justiça solta homem que atropelou idosa: qual o preço da impunidade ?
Fábio Alonso de Carvalho, acusado pela morte de duas pessoas sem prestar socorro, classificou o atropelamento como "acidente, uma fatalidade"
Entre as diferentes patologias diagnosticadas, o Brasil vive uma epidemia de mortes no trânsito. Um óbito a cada quinze minutos e, nos últimos 10 anos, mais de 1,6 milhão de pessoas feridas_segundo dados apresentados pelo Ministério da Saúde.
Excesso de velocidade, álcool, desobediência à sinalização e ultrapassagens indevidas estão entre os principais motivos que, em 2017, mataram 34.236 pessoas.
Família Bolsonaro acumulou mais de 40 multas em 5 anos
Nada disso, porém, parece válido para o atual presidente Jair Bolsonaro (PSL), que em sua cruzada contra o que chama de indústria da multa pretende flexibilizar as leis de trânsito: em junho, entregou um projeto de lei que amplia o limite para o motorista perder a carteira, no período de 12 meses, de 20 para 40 pontos; pede também o fim da multa no transporte de criança sem cadeirinha.
Recentemente, anunciou uma investida contra os radares, declarando que cancelaria a instalação de 8 mil equipamentos nas estradas de todo o país. Defendeu ainda o fim das aulas práticas de direção nas autoescolas.
A postura de Bolsonaro em relação às leis de trânsito têm fundamento. Nos últimos cinco anos, o presidente acumulou seis infrações, segundo o DETRAN-RJ.
Na primeira, o atual presidente foi pego dirigindo em uma faixa exclusiva para ônibus, enquanto na segunda vez avançou em um sinal vermelho na Barra da Tijuca.
Ainda de acordo com os registros do Detran carioca, o presidente, três de seus filhos e Michelle Bolsonaro acumularam mais de 40 multas de trânsito no mesmo período.
A sensação de impunidade não é à toa
Enquanto Brasília discute a frouxidão das leis de trânsito, na última quarta-feira, 31, o Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo mandou soltar o motorista de Porshe acusado de atropelar e matar a diarista Audenilce Bernardina dos Santos, de 65 anos, que atravessa a rua na faixa de pedestres no cruzamento da Rua Augusta com a Alameda Franca.
Esta não é a primeira que Fábio Alonso de Carvalho tem seu nome vinculado a uma infração resultada em morte. Em 2014, ele atropelou e matou um ciclista e respondeu por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. Em nenhuma ocasião prestou socorro às vítimas.
Condenado a dois anos de prisão em maio deste ano, Fábio conseguiu cumprir a pena em liberdade sob condição de não voltar a dirigir.
Apesar disso, Reinaldo Cintra concedeu habeas corpus a Fábio, que estava preso temporariamente.
Em sua decisão, o magistrado alegou não haver requisitos para que fosse decretada a prisão temporária exigidos pela Lei n. 7.960/89 (que dispõe sobre a prisão temporária) e ressaltou que a medida é aplicada apenas em caráter excepcional.
Fatalidade
Após alguns dias desaparecido, Fábio, em depoimento à polícia, negou que tivesse dirigido em alta velocidade e ou que havia bebido. Em entrevista na noite da última quarta-feira, 31, ao sair da delegacia, Fábio justificou o crime: “Foi um acidente, uma fatalidade”