Fintech Abrão Filho é referência na representatividade feminina
Mulheres são maioria e ocupam cargos de liderança na fintech de câmbio; conheça a história de três colaboradoras da empresa
Quantas mulheres você conhece que atuam no mercado financeiro? E em posições de liderança? Apesar das discussões sobre igualdade de gênero terem se tornado cada vez mais frequentes nos últimos anos, ainda há muitas barreiras para a ampliação da diversidade e inclusão nesse meio.
A diversidade nas empresas do setor financeiro, de maneira geral, têm diferentes percepções, principalmente pela baixa representatividade dos diferentes grupos sociais e a falta de ações práticas e intencionais, segundo pesquisa da Abrão Filho.
Além desses fatores, também foi pontuado na pesquisa o baixo engajamento dos colaboradores e da alta liderança das empresas, o desconhecimento sobre o tema e formas de evoluir, em ambientes de trabalho pouco inclusivos.
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Por exemplo, do total de profissionais com Certificação de Gestores de Carteiras pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) em 2022, somente 7% são mulheres.
Em relação aos cargos, o site da APIMEC (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais) revela que, dos 1339 profissionais listados como analistas credenciados, há apenas 171 mulheres.
Da mesma forma, um estudo recente do Female Founders Report mostra que apenas 8,2% das startups de serviços financeiros são fundadas ou cofundadas por mulheres.
E isso também é reflexo da desigualdade de gênero em todo o país. De acordo com a pesquisa “Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil”, realizada com dados de 2019 pelo IBGE, embora as mulheres tenham escolaridade maior, elas ocupam 37,4% dos cargos gerenciais e recebem 77,7% do rendimento dos homens.
Por uma cultura diversa
Na Abrão Filho, fintech do mercado de câmbio fundada em 2011, a diversidade e a representatividade fazem parte da política interna e inspiram diversas ações afirmativas, se distanciando do quadro geral e tradicional do mundo financeiro.
A presença de mulheres, inclusive nos cargos de liderança, pode ser vista nos números da empresa. No total, com colaboradores, agentes autônomos de câmbio e diretoria, a fintech conta com 66 pessoas. Vale ressaltar que os agentes de câmbio compõem um modelo de negócio criado pela Abrão Filho, no qual eles trabalham de forma autônoma, com o suporte comercial, técnico e operacional da empresa.
De 32 colaboradores (sem contar os agentes de câmbio e os quatro diretores), as mulheres são maioria e ocupam 65% dos cargos. Já entre as 21 colaboradoras, quatro são negras e duas estão em cargos de coordenação ou gerência. No caso dos 30 agentes autônomos de câmbio, sete são mulheres, sendo duas delas negras.
Para mostrar a importância da presença feminina no mercado financeiro, a Catraca Livre conversou neste Mês da Mulher com três colaboradoras da Abrão Filho, que contaram sobre sua formação, a experiência nesse meio e a efetividade das ações de diversidade na empresa em que atuam. Confira abaixo:
Mulher, negra e no mercado de câmbio
Aos 19 anos, Julia Xavier já percorreu uma trajetória de sucesso na Abrão Filho, tendo atuado em três áreas distintas. Paralelamente, está cursando sua primeira formação no ensino superior, com bolsa integral no curso de Administração com Comércio Exterior, pela Universidade São Judas.
Antes da fintech, sua única experiência profissional foi um estágio administrativo durante o último ano do ensino médio na Secretaria do Meio Ambiente, atual Secretaria de Infraestrutura do Meio Ambiente do Estado de São Paulo.
No mesmo ano, em 2019, finalizou um curso de inglês que fazia há 6 anos, adquirindo seu diploma avançado do idioma. Hoje, também trabalha como professora de maneira autônoma nessa instituição, aos sábados.
Sua vivência na Abrão Filho é marcada por uma série de promoções e atuações em diferentes áreas. Em janeiro de 2020, foi contratada como assistente cadastral. De lá para cá, com dedicação e reconhecimento dos gestores, recebeu três promoções, passando por três áreas distintas e, atualmente, atua no departamento de Capitais Estrangeiros.
Por ter ingressado no mercado de câmbio já na Abrão Filho, Julia nunca sofreu qualquer tipo de preconceito por ser mulher nesse meio. Como mulher negra, ela reflete o quanto é importante a diversidade na empresa em todos os âmbitos. “Aqui temos pessoas negras e brancas, idosas e jovens, mulheres e homens em igual proporção, e até estrangeiras”, diz.
O compartilhamento de experiências diversas, segundo a jovem, agrega muito aos colaboradores da Abrão Filho, na medida em que eles têm contato com realidades completamente diferentes. “Aprendemos demais uns com os outros e isso enriquece nosso corpo de colaboradores”, acrescenta.
No entanto, de acordo com ela, o mercado de câmbio ainda é um dos ramos mais exclusivos, sendo ocupado majoritariamente por homens heterossexuais, brancos, cis e sem deficiência.
A estudante enfatiza que isso precisa mudar, pois as pessoas não devem ser consideradas qualificadas por aparência física, orientação sexual, identidade de gênero ou etnia, mas sim, por seus conhecimentos educacionais e profissionais.
“Creio que esse cenário se deva muito pelas companhias quererem preservar a ‘boa imagem’ do comercial, entretanto já é comprovado que um ambiente diverso tende a ser extremamente mais benéfico”, conclui Julia.
De estagiária à gerente da fintech
Há quase sete anos na Abrão Filho, Paloma Neres entrou na empresa como estagiária de Comex e hoje é gerente de Capitais Estrangeiros. Formada em Comércio Exterior, a profissional ingressou no mercado de câmbio por meio da fintech, sendo que antes trabalhava com importação e exportação.
A trajetória profissional de Paloma é marcada pela Abrão Filho, por isso, nunca chegou a sofrer qualquer situação de preconceito. Para ela, as iniciativas dentro da empresa contribuem para a inserção de mais mulheres nesse setor. “Nosso time tem uma presença feminina considerável e atualmente já temos mulheres ocupando cargos de liderança”, relata.
Segundo a gerente, ter mulheres na empresa é muito importante para o trabalho como um todo, uma vez que o conjunto de opiniões diferentes sobre os mesmos temas colaboram para uma troca rica de experiências e resoluções dos problemas diários das equipes.
A profissional reitera que o mercado financeiro e de câmbio, tradicionalmente, é marcado pela presença masculina mais forte do que a feminina, portanto, há um tempo, os homens se interessavam muito mais em seguir nessa carreira.
Hoje, ela vê inúmeras mulheres com interesse por essa área de atuação e isso influencia diretamente na equidade de gênero. “Inclusive, há muitas profissionais no mercado e ocupando cargos de gerência/diretoria, nos quais há um tempo era bem mais difícil de observar”, completa.
Uma trajetória no setor financeiro
Formada em MBA Comércio Exterior, Luciana de Luca, 33, trabalha na área desde os 18 anos. Naquele período, finalizava o tecnólogo contábil pela instituição Getúlio Vargas e iniciava o seu primeiro curso universitário com foco no mercado financeiro. Sua carreira começou como caixa de uma corretora de câmbio, onde realizava compra e venda de câmbio turismo.
Em seguida, passou por diversos departamentos, nos quais adquiriu conhecimento da esteira cambial de uma instituição, e especializou-se no câmbio comercial e setor financeiro/cambial, no qual atua até hoje na gestão da Tesouraria da Abrão Filho.
Assim como Paloma, Luciana está praticamente desde o começo da empresa e ganhou destaque, se tornando gerente da área. Sua história na Abrão Filho teve início ao conhecer os sócios da fintech em uma corretora na qual trabalharam juntos em 2009. “Devido a esse vínculo profissional, fui convidada a participar do time há quase 8 anos”, afirma a gerente de Tesouraria.
Para a profissional, a mulher ainda não é vista em posição de igualdade no mercado em relação ao homem, então, não é possível comparar cargo e rendimentos de forma justa. “Para nós, mulheres, o sucesso é sem dúvida um caminho mais longo por conta da desigualdade de gênero, mas não impossível”, ressalta.
Como pontua a gerente, a equidade de gênero tem sido tendência cada vez mais presente, mas ainda há muito o que mudar no mercado. “A mulher em busca de igualdade aceita condições de trabalho inferiores ao que o mercado proporciona para o gênero masculino. Sofremos com rendimentos inferiores, falta de reconhecimento, piadas, descrédito, entre outros. Isso precisa mudar”, conta.
Nesse sentido, Luciana percebe o quanto a diversidade é uma bandeira que faz parte da Abrão Filho, mesmo enquanto muitos representantes do setor financeiro tinham medo do “novo”. “A Abrão quebrou paradigmas e incentivou mulheres a entrar na área de câmbio, acreditou na igualdade de gênero e inovou esse mercado, que até pouco tempo era visto como ‘profissão de homem’”, finaliza.