Mãe mata homem que estuprou sua filha e é perdoada pela Justiça

Caso aconteceu na Africa do Sul

01/04/2019 18:11

Na África do Sul a mãe Nokubonga Qampi ficou conhecida como após matar um dos três homens que estupraram sua filha. Ela foi acusada de homicídio, mas diante acolhimento público seu processo foi arquivado.

De acordo com a BBC a mãe de Siphokazi recebeu uma ligação pela madrugada contando que sua filha estava sendo violentada por três homens.

Mãe mata estuprador da filha e tem processo arquivado pela justiça
Mãe mata estuprador da filha e tem processo arquivado pela justiça - Istock/beingbonny

A primeira reação de Nokubonga foi chamar a polícia que não atendeu ao seu chamado mesmo que tivessem atendido, levariam muito tempo até chegarem à sua aldeia, nas colinas da província de Cabo Oriental, na África do Sul.

Ela então decidiu agir. “Eu estava com medo, mas me obriguei a ir porque era minha filha”, afirmou. “Eu ficava pensando que quando chegasse lá, ela poderia estar morta… Porque ela conhecia os agressores, e porque eles a conheciam e sabiam que ela os conhecia. Eles poderiam pensar que precisavam matá-la para não serem denunciados “, disse.

Siphokazi tinha ido visitar amigos e acabou e acabou dormindo por lá. Ela acabou ficando sozinha porque seus amigos decidiram sair por volta de 1h30. Foi então que três homens que estavam bebendo em uma das outras casas a atacaram.

A casa de Nokubonga tem dois cômodos – quarto e cozinha. A mãe da jovem pegou uma faca e foi salvar a filha. “Peguei (a faca) para mim, para andar daqui até onde o incidente estava acontecendo, porque não é seguro”, disse ela. “Estava escuro e eu tive que usar a lanterna do meu celular para iluminar o caminho”, afirmou.

Chegando à casa dos amigos da filha ela ouviu a jovem gritar, entrou no quarto e se deparou com a cena da filha sendo estuprada.

“Eu estava com medo… Fiquei parada perto da porta e perguntei o que estavam fazendo. Quando eles viram que era eu, vieram na minha direção, foi quando eu pensei que precisava me defender, foi uma reação automática”, contou Nokubonga.

À BCC Nokubonga não conseguiu contar mais nada. Um deles chegou a pular pela janela. Um dos suspeitos morreu e os outros dois ficaram gravemente feridos. A mãe foi presa e levada para a delegacia local, onde foi mantida em uma cela.

Buhle Tonise, a advogada de Nokubonga, contou que a mãe e a filha estavam descrentes que haveria justiça. “Quando você encontra pessoas que estão nesse nível de pobreza, você sabe que na maioria das vezes elas acham que a mãe vai para a cadeia porque ninguém vai ficar ao seu lado. O sistema de justiça é para quem tem dinheiro”, disse.

A advogada argumentou no processo que a mãe agiu em legítima defesa.

Com o apoio da imprensa local, que criou a lenda da “mãe leoa” o caso tomou grande repercussão, o que é raro na África do Sul, pois é elevado o número de estupros no país, estimado em cerca de 110 por dia.

A população reagiu criticando a decisão de acusar Nokubonga de homicídio e organizou uma campanha de arrecadação para ajudá-la a montar sua defesa.

No julgamento “havia gente de toda a África do Sul. Eu agradeci àquelas pessoas, porque o fato de o tribunal estar cheio significava que elas me apoiavam. Elas realmente me deram esperança”, disse Nokubonga. Ela foi chamada para se apresentar diante do juiz. “Me disseram que as acusações foram retiradas”, relembrou.

“Depois que o caso foi arquivado, ela ligou para a filha. Pela primeira vez, ouvi a filha rindo. Acho que foi quando ela [Siphokazi] também disse que queria ver os caras indo para a cadeia”, contou a advogada.

Elas tiveram que esperar mais de um ano para isso acontecer, mas em dezembro de 2018 os outros dois suspeitos de estuprar a jovem – Xolisa Siyeka, de 30 anos, e Mncedisi Vuba, de 25 anos, foram condenados a 30 anos de prisão.