Mães de pessoas trans mostram o valor da maternidade; leia relatos

"Não foi fácil, mas eu fui aprendendo a só observar e a respeitar o lugar daquele ser tão pequeno e tão inteiro"

06/05/2022 12:15

Ser mãe de uma pessoa transgênero no Brasil é um desafio superado com amor, esperança e muita coragem. No país que mais mata trans no mundo, a homofobia e a transfobia marcam muitas relações sociais.

Neste Dia das Mães, a Catraca Livre ouviu mulheres que apoiam a prole nos momentos mais difíceis com ternura e respeito e continuam presentes nas alegrias. Abaixo, leia relatos:

Regiani Cristina de Abreu

Regiani Cristina de Abreu
Regiani Cristina de Abreu - Arquivo pessoal

“Hoje eu sou mãe de 3 meninos.  Digo hoje porque durante um curto espaço de tempo eu pensei que meu menino era uma menina. E ele não era, nunca foi.  Não foi fácil, mas eu fui aprendendo a só observar e a respeitar o lugar daquele ser tão pequeno e tão inteiro. Se você é mãe de uma pessoa LGBTQIA+ receba o meu abraço mais apertado. Se você não é mãe de uma pessoa LGBTQIA+ eu quero te pedir, abrace nossos filhos e ensine os seus filhos a abraçá-los também.

Feliz Dia das Mães.”

Angélica Aparecida da Silva

Angélica Aparecida da Silva
Angélica Aparecida da Silva - Arquivo Pessoal

“Sou mãe de Lux Machado, uma mulher trans de 23 anos. Minha filha é uma menina / mulher dedicada, disciplinada com sua arte. Ela me ensina todo dia a ser mais tolerante, me trouxe sabedoria e afeto. Eu estou me tornando uma pessoa bem mais afetuosa e sábia. Enfrentamos juntas as diversidades e nos fortalecemos uma com a outra.”

Karen Noriko Fujie

Karen Noriko Fujie
Karen Noriko Fujie - Arquivo Pessoal

“Mães que descobrem seus filhos LGBTQIA+, acolham seus filhos, mesmo que se sintam confusas, perdidas e tristes, pois o amor é maior do que a caixinha chamada ‘padrão’.”

Jôse Roberta de Melo Ferracini Lima

 

Jôse Roberta de Melo Ferracini Lima
Jôse Roberta de Melo Ferracini Lima - Arquivo Pessoal

“Neste Dia Das Mães eu não quero ser homenageada, nem presenteada. Eu quero agradecer pela família que tenho, que me ofereceu uma nova perspectiva sobre a vida, sobre as pessoas e sobre o que é o amor. Hoje, tenho ainda mais certeza de que sou uma mãe apenas suficientemente boa, incompleta, um ser humano em construção, mas de coração leve e com o desejo de conquistar um mundo mais fraterno e igualitário para todes.”

Carla e Ivone Vieira

Carla e Ivone Vieira
Carla e Ivone Vieira - Arquivo pessoal

“Neste Dia das Mães o que queremos é paz. Uma palavra tão pequena, mas carregada de muito significado, principalmente para quem exerce o papel da parentalidade. A tarefa de educar uma criança ou adolescente, por si só, já é um exercício árduo, cheio de percalços, dúvidas, medos, acertos, aprendizados intensos e muitas alegrias. Porém, para famílias como a minha, formada por duas mamães e dois filhos adotivos, além desses desafios, transitar pelas temáticas LGBTs é viver essa parentalidade de forma ainda mais desafiadora: muitos julgamentos e pouco acolhimento.

Mas o que aprendemos com isso tudo? Que apoio é fundamental para seguirmos em frente e, se você não achá-lo naqueles que estão ao seu redor, busque apoiar-se em famílias iguais a sua, em pessoas que passam pelo que você também passa. Não desanime! Estude, busque informação de qualidade, profissionais qualificados… saiba que você não está sozinho. Abra a sua mente e seu coração, pois só assim conseguirá viver com sua família momentos de paz.”

Ana Paula Oliveira Cesquim

Ana Paula Oliveira Cesquim
Ana Paula Oliveira Cesquim - Arquivo Pessoal

“Sou mãe da Letícia, que faleceu em 2013, e do Eduardo, o Dudu, que hoje tem 9 anos, mas que dizia que era um menino desde seus 3 anos. Além de ser uma criança trans, Dudu também tem deficiência, o que nos fez demorar para entender tudo como uma realidade e não uma confusão da parte dele. Após um ano nos dizendo insistentemente que era menino, nós permitimos que ele assumisse a sua verdadeira identidade: Dudu! Ele cortou o cabelo, trocou as roupas e pediu que o chamássemos de Dudu dali em diante. Foi incrível ver a realização e a felicidade plena dele, com o simples fato de poder ser quem é.”


Mães da Diversidade

Para quem se sente desamparada e só em uma sociedade preconceituosa e violenta, Mães pela Diversidade é uma organização não-governamental que reúne mães e pais de crianças, adolescentes e adultos LGBTQIA+.

A ONG foi criada em 2014 por mães preocupadas com a violência e com o preconceito contra seus filhos gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e mais. Para conhecer, acesse o site da organização.