Menina é surpreendida com bilhete de trabalhador em cartão natalino
"Por favor, ajude-nos e notifique uma organização de direitos humanos", dizia a mensagem.
A pequena Florence Widdicombe escrevia cartões de Natal para seus amigos da escola quando foi surpreendida. Ela descobriu, em um dos cartões, um recado supostamente escrito por prisioneiros em uma fábrica na China. “Por favor, ajude-nos e notifique uma organização de direitos humanos”, dizia a mensagem.
O recado, encontrado pela menina de seis anos, foi supostamente escrito por prisioneiros em Xangai, e dizia que eles haviam sido “forçados a trabalhar”.
A notícia chocou a rede de supermercado Tesco, responsável pela venda dos cartões de Natal, que, além de suspender a comercialização do produto, acrescentou: “Nós nunca permitiríamos o trabalho forçado em nossa cadeia”.
O recado, além do pedido de socorro, dizia: “Somos prisioneiros estrangeiros na prisão de Xangai Qingpu, na China. Somos forçados a trabalhar contra a nossa vontade. Por favor, ajude-nos e notifique uma organização de direitos humanos”.
Além disso, os autores da mensagem pediam para que entrassem em contato com Peter Humphrey, um jornalista britânico que foi preso lá quatro anos atrás.
Em entrevista a BBC News, Florence disse que ficou chocada e triste quando descobriu a mensagem e o que ela significava.
Uma porta-voz da Tesco disse: “Ficamos chocados com essas alegações e imediatamente interrompemos a produção na fábrica onde esses cartões são produzidos e iniciamos uma investigação”.
O supermercado afirmou ter um sistema de fiscalização para garantir que os fornecedores não explorem o trabalho forçado.
A fábrica em questão foi verificada no mês passado e não foram encontradas evidências de que ela viole a proibição do trabalho nas prisões, disse o documento.
O jornalista
A família Widdicombe entrou em contato com Peter Humphrey, jornalista a quem os supostos prisioneiros pediam ajuda.
O jornalista, então, entrou em contato com ex-prisioneiros que confirmaram que os presos foram de fato forçados a trabalhar. A história rendeu uma matéria para o jornal britânico Sunday Times.
Humphrey explicou o motivo do contato com os prisioneiros: “Passei dois anos em cativeiro em Xangai entre 2013 e 2015 e meus nove meses finais foram nesta mesma prisão, neste mesmo bloco de celas de onde esta mensagem veio, então isso foi escrito por alguns dos meus colegas daquele período que ainda estão lá cumprindo sentenças”.
“Tenho certeza de que foi escrito como uma mensagem coletiva. Obviamente, uma única mão escreveu, e acho que sei quem era, mas nunca divulgarei esse nome.”
Ele disse que quando estava lá, o trabalho era voluntário – para ganhar dinheiro para comprar sabão ou pasta de dente -, mas agora se tornou obrigatório.”Todos que eu conheci estavam lá por razões muito questionáveis”, disse ele. “Eu conheci muitas pessoas que considerava vítimas de prisão injusta ou pelo menos sentenças imprudentes por pequenos delitos.”
Humphrey disse acreditar que aqueles que escreveram o recado “sabiam muito bem quais riscos estavam correndo e estavam preparados para corrê-los”.
Histórico de denúncias
Não é a primeira vez que prisioneiros na China contrabandearam mensagens de produtos que foram forçados a produzir para os mercados ocidentais.
Em 2012, Julie Keith, de Portland, Oregon, descobriu um relato de tortura e perseguição feito por um prisioneiro que disse que foi forçado a fabricar os objetos de decoração de Halloween que ela havia comprado. Com informações da BBC.