Moradores de rua são removidos durante a festa da Copa

Ação, considerada ilegal e inconstitucional por juristas, acontece principalmente durante manifestações contrárias à Copa do Mundo

A Copa do Mundo de 2014 no Brasil é encarada por muitos como a melhor de todos os tempos. Placares elásticos, zebras, viradas, presença de estrangeiros, a relação amistosa entre jogadores e torcida local e a comoção nacional nos dias de jogos do Brasil são fatores que fazem valer a afirmação. Mas, atrás das câmeras, o país continua o mesmo. Até pior, em alguns sentidos, já que para fazer uma festa bonita é preciso, antes, limpar o salão.

Uma matéria recente de Bruno Fonseca para a Agência Pública mostra como a população de rua está sendo “limpada” de Belo Horizonte – ou, pelo menos, de sua parte mais visível. Até os pertences dessas pessoas estão sendo retirados. É comum que carrinhos de supermercado, roupas e colchões sejam levados, contrariando diversas normas que contrariam essa ação.

 

Sem lar

Nos albergues, não faltam queixas quanto à precariedade das instalações. Uma denúncia foi apresentada aos Ministérios Públicos Federal e Estadual pelos próprios moradores de rua de BH, que formaram uma comissão e redigiram uma lista de queixas, como falta de segurança, precariedade de instalações e superlotação.

A escolha entre a rua e o abrigo parece difícil. Desde que foi inaugurado, em 2011, CNDDH registrou mais de 100 homicídios de moradores de rua apenas em BH.

A imagem da faxina

No dia de abertura da Copa, 12 de junho, o morador de rua Rômulo Félix, de 59 anos, apareceu na TV sendo arrastado por um PM nas proximidades da Praça da Liberdade, cartão-postal da capital mineira. Há oito anos vivendo nas ruas de BH, ele estava no trajeto do protesto contrário à Copa do Mundo quando eclodiu o conflito entre policiais e manifestantes. Foi agarrado quando tentou defender uma jornalista e teria sido preso não fosse a intervenção de uma amiga, que o conheceu em ações de integração entre moradores de rua e eventos culturais no centro da cidade.

Outro morador de rua não teve a mesma sorte. Um homem de cerca de 30 anos, cuja identidade foi preservada, foi detido horas depois junto a outros manifestantes, próximo à Praça da Estação e levado para a DP. Conhecido por quem tem escritório no Centro da cidade, o homem tem transtornos mentais, não fala muito claramente e, quando vê tumulto, corre.

A PM argumenta que pessoas como Rômulo e o outro homem foram detidos por participarem da manifestação e acusa os detidos de incitação ao crime, dano e furto. Depoimentos de presentes afirmam o contrário.

Pessoas invisíveis

 

Apesar de participarem ou não das manifestações, com o direito garantido por lei de fazê-lo, ou de apenas ficarem no local em que moram, a rua, esperando que elas acabem, muitas dessas pessoas têm opiniões sobre o que acontece com o país. Algumas iniciativas se preocupam em ouvi-las.

A página SP Invisível, que conta com 5,6 mil curtidas em três meses de existência no Facebook, dedica-se a divulgar pequenos relatos de pessoas que vivem às margens ou nas entranhas da cidade, porém sem grande visibilidade. Boa parte já morou ou ainda mora nas ruas.

A quase totalidade das postagens recentes se refere à Copa do Mundo e as pessoas por elas apresentadas deixam suas opiniões sobre o evento. Alguns dos assuntos mais tocados são a falta de acesso a educação e saúde, a opção dos jovens pelo crime e, claro a moradia social.

Leia a “Expulsos das Ruas”, da Agência Pública na íntegra.