Mulher denuncia abuso sexual em consulta com acupunturista
Com a hashtag #SeOConsultórioFalasse, a vítima convida mulheres a compartilharem relatos de assédio sexual em consultas médicas
“Se o consultório falasse, contaria que eu fui vítima de um abuso sexual. Contaria também que, por trás de paredes seguras – protegidas pelo sigilo, pela falta de testemunhas e pela autoridade do profissional da saúde ali em exercício -, incontáveis mulheres são vítimas como eu, todos os dias”, afirma M* em texto publicado no site “Nós, mulheres da periferia“.
O relato acima ocorreu recentemente durante uma consulta com um acupunturista. De acordo com a vítima, o profissional pegou em seus seios e tentou beijá-la, a deixando “absolutamente desconfortável”. “Naquele momento, sentindo as mãos dele em mim, eu pensava – e tinha certeza – de que aquilo não tinha que estar acontecendo”, escreveu.
Ao Catraca Livre, M* conta que relatar o caso foi uma forma de “colocar isso para fora” e provocar o debate sobre o assunto, influenciando outras mulheres que também já passaram por situações similares. “Cada vez que eu falo sobre o abuso que sofri, ouço uma história de volta”, afirma.
“Eu tinha certeza que estava sendo abusada na hora do abuso. Mas precisei falar para a primeira pessoa que me ouviu para ter a resposta de que, sim, eu infelizmente tinha razão. Quando a gente fala sobre um abuso, ouve de volta outro abuso e relembra de outras situações bloqueadas. Parece um processo cruel, mas senti libertador”, ressalta a vítima.
Uma semana depois de sofrer o assédio sexual, M* decidiu fazer um Boletim de Ocorrência em uma delegacia perto de sua casa. “Foi um processo confuso e dolorido porque esbarrou na impotência, ainda que tenha mostrado um poder de decisão”, conta.
Por meio da hashtag #SeOConsultórioFalasse, a jovem convida as mulheres a compartilharem nas redes sociais casos de abuso e estupro em consultas com médicos e outros profissionais.
Leia o relato publicado no “Nós, mulheres da periferia“:
E #seoconsultoriofalasse? Se o consultório falasse, contaria que eu fui vítima de um abuso sexual. Contaria também que, por trás de paredes seguras – protegidas pelo sigilo, pela falta de testemunhas e pela autoridade do profissional da saúde ali em exercício -, incontáveis mulheres são vítimas como eu, todos os dias.
O meu abusador foi um acupunturista, que pegou nos meus seios e tentou me beijar. Eu estava seguindo o que ele falava para finalizar a sessão, e ele se sentiu no direito de me tocar, me deixando absolutamente desconfortável. Naquele momento, sentindo as mãos dele em mim, eu pensava – e tinha certeza – de que aquilo não tinha que estar acontecendo.
Meu corpo não teve reação, apenas nojo! A reação veio na tentativa do beijo, barrado pelas minhas mãos. Mas ele já tinha me violado de qualquer jeito… Foi difícil acreditar que fui abusada, apesar da certeza que eu tinha desde o início. Precisei contar pra alguém pra ter a confirmação de que sim, eu estava certa, que merda! Mais um abuso pra minha vida, mas dessa vez com um destino mais difícil de lidar, porque envolve a coragem em denunciar.
Essa coragem só vem se existe muito apoio, daqueles que a gente não duvida e apenas confia. Desses que dão chão mesmo. Passa muita coisa pela cabeça, dá mil medos, dá mil coragens também, depois o medo bate de novo. É muito julgamento, é muita culpabilização da vítima! Vem muita raiva, nojo, indignação! E vem o choro da sensação de total impotência!
Temos que falar, falar, falar, falar, falar, falar, falar, falar!!!!!! Vamos fazer um escândalo!!!! Chega de calar, abusador gosta de silêncio e medo. Demorei pra ter coragem pra escrever esse relato. Vamos contar para o mundo que existe gente desse tipo e que somos abusadas sistematicamente? Cada vez que contei essa historia pra uma pessoa, ouvi uma outra de volta. Todo mundo tem uma história pra contar. #seoconsultoriofalasse, o que ele revelaria?
Tenho certeza que há outras historias de consultório a serem contadas. Desabafe… #seoconsultoriofalasse, teríamos defesa; como ele não fala, a gente precisa falar!
*M é uma mulher negra, moradora de São Paulo, e pediu que sua identidade fosse preservada.