O que é o fascismo e por que temos falado tanto dele?
Entenda o que significa o termo e por que tantos políticos atuais são chamados de fascistas
Poucas décadas após a queda de Hitler – e menos décadas ainda após o fim da ditadura no Brasil –, muito tem se falado sobre o fascismo. Especialmente durante eleições presidenciais ao redor do mundo. Mas o que, afinal, é o fascismo?
O termo se refere a um método de política criado há quase 100 anos. Ele surgiu na Itália do começo do século XX, quando o país passava por uma crise social, política e econômica e estava à beira de uma verdadeira guerra civil. Esse foi o terreno fértil para a ascensão do grupo liderado por Benito Mussolini: o Partido Nacional Fascista (PNF), que assumiu o poder em 1922.
O PNF acabou por servir de referência a outros regimes autoritários da época. É o caso de António Salazar em Portugal, Francisco Franco na Espanha, Adolf Hitler na Alemanha e até mesmo Plínio Salgado, aqui no Brasil.
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Fascismo no Brasil
Sim, o Brasil teve seu próprio movimento fascista no século XX. Foi a Ação Integralista Brasileira (AIB), cujo manifesto trazia como ideais a “defesa do nacionalismo, definido mais sobre bases culturais do que econômicas, e do corporativismo, visto como esteio da organização do Estado e da sociedade; combate aos valores liberais e rejeição do socialismo como modo de organização social”. Seu lema era “Deus, Pátria e Família” e seu símbolo principal era a letra grega “sigma”.
Mas apesar da AIB ter reunido muitos seguidores ao longo dos anos 30, Plínio Salgado nunca conseguiu chegar ao poder do País. Isso porque um mês após o Golpe do Estado Novo, Getúlio Vargas ordenou que todo os partidos fossem fechados.
Quais são as características do fascismo?
Definir o fascismo com precisão não é fácil. No entanto, algumas das características principais dele são a militarização da política, a exaltação da coletividade nacional e a perseguição de grupos que se opuserem ao poder. Judeus e outros grupos religiosos, negros, LGBTs e apoiadores da esquerda foram algumas das pessoas que os governos fascistas viam como inimigos que deveriam ser eliminados.
Robert Paxton, professor de ciências sociais na Columbia University, explica ao site Livescience: “[ele é] uma forma de prática política distinta do século XX que levanta o entusiamo popular com técnicas de propaganda sofisticadas com intenções antiliberais, antissocialistas, violentamente exclusivistas, expansionistas e nacionalistas”.
Os governos fascistas do século XX também agiam como regimes totalitários baseados em um partido único, com concentração total do poder nas mãos do líder do governo. Dessa forma, não havia espaço nenhum para a democracia.
Além disso, para ajudar a permanência do seu regime, os fascistas controlavam os meios de comunicação de massa. Dessa forma, a população saberia apenas o que eles quisessem que ela soubesse – ou acreditasse.
E hoje em dia?
Alguns políticos atuais têm características que se assemelham ao fascismo do século passado. Como o apoio ao ultranacionalismo, a defesa de uma política mais militar e a escolha de um “inimigo” para ser culpado pelos problemas de um país, como são os imigrantes para diversos líderes atuais.
Jason Stanley, que é filósofo da Universidade de Yale, atenta em entrevista ao site da Vox: “parte do que a política fascista faz é desassociar as pessoas do que é real. Você as faz assinarem essa versão fantasiosa da realidade; geralmente uma narrativa nacionalista sobre o declínio do país e a necessidade de um grande líder para trazer a grandeza de volta”.
Para ele, o presidente atual dos Estados Unidos, Donald Trump, usa técnicas que são usadas pelos fascistas. “Ele [as usa] para estimular a sua base e corroer instituições liberais e democráticas, o que é muito problemático”.
A influente filósofa política Hannah Arendt escreveu no seu livro “Origens do Totalitarismo”, em 1951, algo que nos faz pensar em como políticos têm usado fake news para se fortalecer, ao mesmo tempo que convencem seus apoiadores de que é a imprensa quem mente: “infelizmente, o sistema totalitário é imune a essas conseqüências normais; sua engenhosidade reside precisamente em eliminar a realidade que desmascara o mentiroso ou o força a legitimar as suas mentiras”.
Nestes tempos em que a democracia é ameaçada e o ódio é incitado, refletimos sobre o poema do pastor Martin Niëmoller sobre o Holocausto:
“Vieram primeiro atrás dos comunistas,
e eu nada falei porque não era comunista.
Então vieram atrás dos judeus,
e eu nada falei porque não era judeu.
Então vieram atrás dos sindicalistas,
e eu nada falei porque não era sindicalista.
Então vieram atrás dos católicos,
e eu nada falei porque era protestante.
Por fim, vieram atrás de mim
E, nessa época, já não havia sobrado ninguém para falar.”