‘O recado do governo é de extermínio dos povos’, diz indígena
Kerexu Yxapyry, primeira cacica Guarani reconhecida no Brasil, é uma das lideranças da terra indígena Morro dos Cavalos, em Santa Catarina
Mulher, indígena, mãe, gestora ambiental e guerreira. Aos 39 anos, Kerexu Yxapyry é uma das lideranças da aldeia Itaty, no Morro dos Cavalos, localizado no município de Palhoça, estado de Santa Catarina. Fruto de sua atuação na área da educação, foi escolhida por seu povo como cacica em 2012 — a primeira cacica Guarani reconhecida no Brasil —, se consolidando como uma referência em todo o país na luta por direitos e pelo território. Kerexu faz parte da minoria de mulheres indígenas que conseguiu chegar ao cacicado.
Na infância, a indígena começou a estudar em uma escola fora da aldeia, na qual permaneceu do primeiro ao terceiro ano. Em seguida, voltou para sua terra, onde professores não indígenas lecionavam com a ajuda de um intérprete local. Após concluir o ensino médio em Morro dos Cavalos, fez um magistério específico para os povos Guaranis e, mais tarde, se formou na Universidade Federal de Santa Catarina na primeira turma do curso de Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica em abril de 2015, com especialização na área de gestão ambiental. Como professora, lecionou na escola de seu povo durante 15 anos, se aproximando, principalmente, dos jovens e das mulheres, que passaram a enxergá-la como uma liderança.
Em seu período como cacica, comandou uma grande luta pelo território e pela demarcação de terras em Morro dos Cavalos. Essa fase, no entanto, também a fez receber uma série de ameaças de morte, incluindo algumas direcionadas a sua família, motivadas pela especulação imobiliária e outros interesses econômicos. “Minha mãe foi atacada na aldeia em novembro de 2017. Ela foi torturada dentro de casa, teve todo o corpo cortado com tesoura e sua mão esquerda decepada. Ela teve que ficar 30 dias internada no hospital”, relata.
A violência recorrente a fez tomar a decisão de deixar o cacicado anos depois de ser escolhida e entregá-lo novamente ao cacique anterior, mas sua militância pelo território persistiu. Hoje, atua como educadora ambiental no Centro de Formação Tataendy Rupa, em Palhoça. Além disso, nas últimas eleições, foi candidata a deputada federal pelo PSOL e recebeu 10.252 votos, mas não foi eleita.
Em entrevista à Catraca Livre, a liderança contou sobre suas principais conquistas na militância pela educação e pelo território indígena, as dificuldades que enfrentou sendo mulher à frente da aldeia e também comentou o posicionamento do governo atual, do presidente Jair Bolsonaro, a respeito desses povos. “O recado do governo é de extermínio dos povos indígenas e as ações dele comprovam isso”, afirma Kerexu.
Confira a entrevista na íntegra:
Catraca Livre – Como iniciou sua atuação política na aldeia?
Kerexu Yxapyry – Quando eu entrei para trabalhar na escola eu imaginava que todas as escolas tinham uma norma de como se trabalhar com comunidades indígenas. No Morro dos Cavalos não era assim. Tinha uma coordenação não indígena. Pior que isso, eram pessoas que estavam na aldeia e comandavam as lideranças [dizendo] como eles tinham que tratar os alunos.
Eu achei um absurdo quando percebi que era dessa forma, então eu fui conversar com o cacique para perguntar o que eles pensavam sobre educação, como seria a educação escolar indígena. Nessa época, eu comecei na luta por esse direito de ensino das crianças conforme o modo delas.
Era um conflito muito grande entre os professores não indígenas que entravam ali com as crianças Guarani. As crianças falavam Guarani e não falavam português, pouco entendiam português, e as professoras que vinham para trabalhar na escola não entendiam Guarani. Como eles iam se comunicar? Então comecei nessa luta pelo direito à educação escolar indígena. Foram anos e muitos avanços.
A gente conseguiu fazer uma conferência de educação dentro da comunidade, quando discutimos várias questões de direitos. Dessa reunião, criamos a nossa proposta curricular, bilíngue, específico, seguindo todas as normas. Depois, apresentamos para a Secretaria de Educação. Assim surgiu o primeiro projeto político-pedagógico indígena do estado.
Em 2010, esse projeto pedagógico deu tão certo que toda a comunidade se envolvia na educação. A gente fazia um trabalho na educação, a educação das mulheres, com as mães dos alunos, dos jovens, das crianças, então existia esse trabalho comunitário, tanto da escola como da comunidade. Isso fortaleceu muito a questão dos direitos, da língua, o modo de vida e nos valorizou bastante também.
Dentro dessa atuação, qual a maior conquista de sua militância política ao longo dos anos?
Quando a gente começou a fazer esse trabalho, principalmente com jovens e adultos, eu iniciei uma atuação com as mulheres para identificar os problemas que aconteciam na aldeia. Uma das coisas que eu vi, que era muito ruim, era a necessidade do autossustento dentro da comunidade. Eu percebi que isso sempre partia das mulheres, já que eram as responsáveis pelo sustento da comunidade, das famílias. Eram elas que estavam buscando meios para resolver essa situação.
Na época, algumas mulheres da aldeia iam para as ruas de Florianópolis vender artesanatos. Ficavam sentadas na calçada, às vezes não vendiam, mas ganhavam um pouco de comida e traziam para casa. Eu comecei a acompanhá-las. Eram muitas. A gente começou a ter problema, porque elas iam para a cidade, levavam os filhos juntos, aí deu problema com o conselho tutelar.
Foi aí que encontramos uma forma de valorizar o trabalho das mulheres. Eu falava assim: “Por que vocês vendem artesanato nas ruas de Florianópolis?” Elas falavam que era pra sobreviver, manter a casa e cuidar dos filhos. Aí eu disse: “Por que a gente não aprende a fazer bombons e outras comidas? Vai vender mais que artesanato”.
As mulheres respondiam que vendiam artesanato porque tem uma simbologia, um valor para a comunidade, de algo que é nosso. Foi muito interessante, porque fizemos uma conversa sobre o valor de cada peça que era vendida. Então pensamos: vamos fazer um projeto e colocar esse valor cultural nos artesanatos. A gente fez um projeto para a Carteira Indígena na época e conseguimos ganhar o edital. Nele, a gente contratava quatro mulheres para ensinar os jovens a produzir o artesanato com todo aquele conhecimento. Por um ano, elas foram as formadoras das crianças e dos jovens, fazendo artesanato dentro do modo de vida Guarani.
A partir dali, os jovens começaram a ajudar as mulheres a criar o design do artesanato, como um logo. Nisso surgiu outra demanda dos jovens, de ter uma câmera, uma impressora, essas coisas para gravar vídeos. A gente fez igual: concorremos a um edital, em 2012, de comunicação nas escolas indígenas, pelo Ministério de Comunicação. Ganhamos de novo para eles executarem o projeto de comunicação nas aldeias. A aldeia tomou outro rumo e foi por meio do jovem e das mulheres.
De que forma ocorreu o processo para se tornar cacica?
A partir daí começaram a surgir problemas com a demarcação de terras. Os jovens e as mulheres fizeram uma reunião e me chamaram junto com o outro cacique. Eles disseram para eu assumir como cacique já que estava trabalhando para resolver os problemas da aldeia. Eu, como professora, estava fazendo esse papel, do cacique. Numa reunião com toda a comunidade foi falado sobre isso e me indicaram para ser a nova cacique em meio a outras pessoas que também se candidataram. Mas a comunidade me escolheu.
Quando eu entrei de cacique, sabia sobre educação, direitos e essas coisas, mas sobre demarcação de terras eu demorei mais para entender todo o processo. Acredito que foi o que me formou para a vida, quando entrei de cacicado.
Eu recebi apoio principalmente das mulheres. Na aldeia, quando as mulheres falam, os filhos geralmente sempre seguem as mães. Quando é pra ser escolhido o cacique, todo mundo tem direito de escolher, até as crianças. Então foi a maioria da comunidade. Isso me legitimou no meu trabalho e fui consagrada pela comunidade. Eu fiquei muito feliz e ainda continuo sendo feliz e agraciada. Embora quatro anos depois eu tenha entregado de volta o cargo para o antigo cacique, a comunidade também aceitou. Dentro da comunidade eu continuo sendo a liderança, atuo mais nas questões externas à comunidade, mas eu consegui nessa conquista ter essa confiança e o respeito da comunidade. Essa missão, que eu levo comigo assim. Eu tenho certeza hoje que eu vim para fazer isso. Hoje eu e o cacique trabalhamos juntos.
Por que você decidiu devolver o cacicado?
Eu passei por momentos bastante difíceis, pois fui muito perseguida por pessoas de fora, com ataques na aldeia, fui ameaçada de morte por várias vezes na minha casa, enfim, sempre me amedrontavam. Até tiro davam em direção à minha casa. Enquanto era apenas eu [que estava sendo] ameaçada, me mantive [no cacicado] e lutei pela questão dos direitos da terra e tudo mais.
Mas chegou um momento em que a minha família virou alvo, meus três filhos, meu pai, meu irmão… As pessoas mandavam recado ameaçando a minha família. Como eu viajava bastante, às vezes meus filhos ficavam em casa sozinhos, porque naquela época eu tinha me separado. Ficava a minha filha de 13 anos, meu filho de oito anos. O terceiro já tinha saído de casa.
Uma vez, eu fui a uma reunião em Chapecó e era quase meia-noite quando minha filha ligou falando que tinha acabado a energia em casa. De repente, ela liga de novo e fala que estava pegando fogo no relógio do poste da nossa casa. Eu sabia que eram essas pessoas que já tinham mandado recado. Precisei ligar para os meus irmãos ajudarem. Eu fiquei com muito medo de entrarem e pegarem as crianças. Por esse motivo que decidi deixar o cacicado. Não queria deixar mais meus filhos sozinhos em casa.
Essas pessoas [que a ameaçavam] moram na região e algumas foram identificadas pela polícia, mas não foram presas. Estavam revoltadas pela demarcação. A imprensa também falava muita besteira sobre nós, discriminando, nos culpando pela duplicação da [BR-]101 e muitas outras coisas. A sociedade ficou revoltada. Tiveram vários protestos contra a demarcação da nossa terra. Como eu era mulher, era mais fácil de eles ameaçarem.
Como foi para você se tornar uma cacique e liderança indígena sendo mulher?
Como eu fui escolhida por mulheres e jovens, foi estranho naquele período porque nem eu mesma imaginava. Quando comecei a exercer essa função, ia para as reuniões de caciques e era a única mulher no meio dos homens. Eu sentia esse constrangimento por ser a única mulher. No início, eu pensava que eu estava quebrando alguma regra, tanto é que tive que voltar para a aldeia e ficar um tempo conversando com os mais velhos sobre o papel da mulher na liderança para o povo Guarani, para que eu tivesse argumentos quando acontecessem situações de machismo e discriminação, e pudesse responder sendo mulher indígena.
A mulher tem essa função de organizar e o homem tem a função de exercer o trabalho pesado. Como se a mulher pensasse, e o homem agisse. Então, eu me apoderei desse meu conhecimento como mulher Guarani para ir à luta.
Quando eu comecei a falar nas reuniões ou decidia sobre algo, sentia essa estranheza dos outros caciques, que nunca me faltaram com respeito, mas eu sentia isso. Com o passar do tempo, conversei com eles sobre isso, o papel da mulher, e qual era a visão deles. Nesse período, tivemos alguns debates em reuniões sobre o papel da mulher Guarani. Foi muito legal para mim porque a gente discutiu e conseguiu entender os papéis do homem e da mulher, então eu fui apadrinhada por todos os outros caciques. Eu me tornei a porta-voz deles para falar e reivindicar, não só na luta de Morro dos Cavalos, mas também na comissão de liderança.
Quando eu comecei no movimento nacional indígena, sempre que tinha a oportunidade de falar, ia em defesa do território porque era o que eu estava sofrendo naquele momento. Todas as ameaças que eu vinha sofrendo, ameaças políticas e até de morte, era por causa disso. Nesse momento, passo a ser reconhecida como uma liderança de território. E eu sou uma liderança de base, que vivo na aldeia e sobrevivo dentro dela, então tenho propriedade do que estou falando. É o que faço até hoje.
Como está a questão do território em Morro dos Cavalos atualmente?
Morro dos Cavalos está esperando a assinatura do presidente para homologação, que é a finalização da demarcação da terra. A gente teve a portaria declaratória da demarcação em 2008, a demarcação física em 2010 e partir de então estamos nesse processo para a homologação. Tivemos várias ações judiciais contra a demarcação de Morro dos Cavalos em todos os âmbitos. Todas elas o parecer foi favorável para a terra indígena.
Hoje temos duas decisões que são muito importantes. Recentemente, em fevereiro, estivemos em Brasília porque existe uma ação no STF, criada pela Procuradoria do Estado de Santa Catarina, pedindo a anulação da portaria. Está lá para ser julgada. Tudo o que tinha para ser feito nessa ação já fizemos, estamos esperando que o ministro julgue de uma vez essa terra porque ele não tem mais o que comprovar ou questionar sobre Morro dos Cavalos.
Quando a Procuradoria entrou na ação, esse processo teve como réu a Funai e a União, mas nós, os indígenas, não. Eles nos deixaram de fora como se a terra não fosse nossa. Então, a gente entrou com um processo para fazer parte da ação e conseguimos após o ministro Alexandre de Moraes negar duas vezes.
Essa semana que passou, em uma das nossas aldeias, uma mulher entrou com uma ação na Justiça pedindo a reintegração de posse e fazendo umas barbaridades de denúncia. Ela não entrou contra a demarcação, mas contra a Funai e a cacique da outra aldeia, acusando os indígenas de invadir a terra e desmatar a vegetação. O processo passou por duas instâncias: do fórum municipal foi para o federal. O juiz julgou o processo de reintegração de posse para a terra indígena e intimou a Funai a indenizar a mulher.
No entanto, ela não conseguiu comprovar que era dona da terra e o juiz viu que era só uma pessoa tentando puxar esse conflito com a sociedade. Por isso ela não teve direito de receber a indenização. Encontraram o verdadeiro dono daquele pedaço e ele tinha os documentos que comprovam. É um senhor bem velhinho que entrou na terra em 1968. Ele foi avisado que teria direito de receber indenização, mas ele abriu mão e disse que não ia receber porque ele sempre soube que ali era terra dos Guarani e que, quando chegou, os Guarani já estavam. O homem devolveu para nós a parte que tinha direito.
Essas são as duas vitórias que tivemos. Agora estamos esperando o julgamento no STF e a homologação.
O que o atual governo representa de ameaça para o futuro dos povos indígenas?
Hoje estamos passando por um quadro político muito ruim. Novamente o Brasil está sendo atacado, como foi em 1500. Estamos vivendo esse segundo ataque, de extermínio mesmo. Esse novo governo veio para tentar afastar com o que ainda resta do Brasil.
O governo vem muito forte contra os indígenas porque justamente dentro das nossas áreas estão as maiores riquezas naturais, o maior bem comum da humanidade. Esse bem comum que a gente sempre protegeu e preservou serve como um modelo mundial. As terras, as águas, clima, o ar. Nós temos esse cuidado e conseguimos manter até hoje.
Nós povos indígenas, povos originários estamos em frente a essa grande batalha. Já que o lema do novo governo é o patriotismo, o brasileiro deveria ser mais patriota. Não é o presidente que está comandando, ele é uma marionete usada para entregar de vez o Brasil para a Europa. É uma pessoa incapacitada para governar o Brasil. As pessoas nunca valorizaram o país em que vivem. Nem a língua é valorizada. Por que a gente vai vender nossas riquezas? Sendo que só o governo vai se beneficiar.
Qual sua opinião sobre as políticas relacionadas aos direitos dos povos indígenas, como, a transferência da Funai para o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e a transferência da demarcação de terras para o Ministério da Agricultura?
Nós, povos indígenas, observamos que tem um tripé que conduz toda a questão política no Brasil: as indústrias/grandes empresas, o agronegócio e as igrejas evangélicas. Esses que comandam hoje o Brasil. Justamente neste tripé estão os inimigos dos indígenas. Nós sofremos tanto com a questão de grandes empresas, mineradoras, que entram nas aldeias para criar grandes empreendimentos, da bancada ruralista, os que se dizem fazendeiros e que ocupam a maioria das terras indígenas, e das igrejas evangélicas, que vêm de uma forma bem violenta dentro das aldeias, como os jesuítas, que vieram em nome de Deus e tomando conta das coisas, ganhando dinheiro com isso e fazendo o extermínio cultural.
Nós fomos jogados nesse meio. Por exemplo, a ministra Damares, da pasta da Família, é uma pastora. Eu não consigo acreditar que uma pessoa que está lá nessa função fale tanta besteira. Ela poderia falar alguma coisa do que ela está fazendo na pasta. Eu penso que seja algo estratégico ter essas marionetes para fazer “malabarismos” na nossa frente enquanto leis, PLs, PECs e medidas provisórias estão sendo aprovadas por trás disso. Como também faz o presidente. A questão da demarcação de terras foi jogada para o agronegócio, nosso maior inimigo, na pasta do Ministério da Agricultura. O recado do governo é de extermínio dos povos indígenas e as ações dele comprovam isso. Estamos vivendo essa resistência maior pela nossa existência.
De que forma as lideranças estão se articulando para barrar retrocessos?
São duas frentes de ação. Depois da conquista da Constituição de 1988, tivemos um avanço muito grande do movimento indígena. Hoje, temos uma geração de juventude que atua de igual para igual em todas as áreas. Temos advogados, professores, várias pessoas formadas em universidades, e que têm o mesmo potencial dos não indígenas. A gente vem cada vez mais com essa força de luta junto com as lideranças.
Em Morro dos Cavalos, temos a nossa própria organização dentro da aldeia e o nosso plano de gestão territorial. Dentro desse plano, existe uma equipe técnica capacitada para fazer essa defesa da gestão da terra. Então, ganhamos autonomia e não dependemos de ninguém para nos articular. A nossa instituição mesmo pode fazer, estamos preparados para qualquer coisa.
O que hoje a gente se preocupa mais é com as aldeias que não têm isso, que não têm indígena com formação, que não têm muito contato, que não se prepararam para isso que está acontecendo [perda de direitos]. Esses ataques são mais fortes nessas aldeias menores. Não é uma coisa ruim eles não terem isso, porque é o modo tradicional de vida nosso. Além de tentar defender o nosso território, queremos fazer essa força-tarefa para ajudar outras aldeias.
Diante deste cenário, qual a importância dos povos estarem unidos nas mobilizações em defesa de seus direitos?
Eu sempre participei do movimento e vi os movimentos indígenas muito unidos. O povo indígena é o mais unido na luta pelos direitos, mesmo que tenhamos diferenças e alguns conflitos entre os povos. No início de abril, nós tivemos a mobilização nacional da causa indígena contra o desmonte da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), por exemplo. Mobilizamos o Brasil todo. Demos o recado de que a gente não vai parar. Quanto mais a gente for atacado nos nossos direitos, mais vamos parar o Brasil.
O que está em risco hoje não é a vida humana, até porque ela depende do ar da água e da terra para sobreviver. Esses elementos que estão hoje sendo ameaçados. Se a gente perde esses elementos, nós estamos mortos. Trocou-se o que é bem comum para toda a humanidade por dinheiro. É essa consciência que temos que levar para a sociedade porque é justamente o que a gente guardou por tanto tempo que está sendo ameaçado.