Países terão que lidar com “refugiados do clima” em breve

Se o ritmo de emissões de CO2 se mantiver, populações inteiras serão forçadas a abandonar suas terras

Por muitos anos, os fenômenos climáticos provocaram a migração de milhões de pessoas em todo o planeta. No Brasil, por exemplo, até hoje famílias inteiras migram sazonalmente ou definitivamente em busca de melhores condições de clima ou trabalho. Mas agora o mundo está diante da possibilidade de que milhões de pessoas se tornem “refugiados climáticos” nas próximas décadas.

A desertificação é um dos fenômenos climáticos que podem ser agravados com o aumento do efeito estufa.

Após a notícia de que os níveis de dióxido de carbono na atmosfera dos EUA passaram oficialmente a marca de 400 partes por milhão – para cada milhão de moléculas existentes no ar, 400 são de CO2, principal gás ligado ao efeito estufa  -, um importante economista e pesquisador alertou que centenas de milhões de pessoas se tornarão refugiados do clima nas próximas décadas. O chefe do Instituto Grantham para a Mudança Climática, Lord Stern alertou que as migrações em massa vão ocorrer como resultado das mudanças climáticas, que vão agravar a desertificação e provocar perdas de safras agrícolas em continentes inteiros.

Stern disse ao jornal britânico The Guardian que as temperaturas devem subir em até 5°C em alguns lugares durante as próximas décadas, o que afetaria a fauna, a flora e a população terrestre. “Milhões de pessoas serão forçadas a deixar suas terras porque suas plantações e animais terão morrido”, disse ele. “E o grande problema será quando elas tentarem migrar para novas terras. Isso vai colocá-las em conflito com as pessoas que já vivem lá”, conclui.

Quando o dióxido de carbono é despejado de forma intensiva e ininterrupta na atmosfera, ele contribui para o agravamento do efeito estufa que retém o calor na Terra. Isto, combinado com as emissões de metano provenientes da indústria pecuária e da acumulação de outros GEE (Gases do Efeito Estufa) causa o derretimento das calotas polares.

As geleiras do Alasca estão derretendo e aumentando o fluxo de rios, o que aumenta também a erosão e o risco das aldeias ribeirinhas.

Whiteout

Os mesmos EUA podem estar vendo seu primeiro caso de pessoas forçadas a saírem de suas casas por causa do aquecimento global. Isso porque mais de 180 comunidades nativas no Alasca convivem com as ameaças do derretimento do gelo, da elevação dos mares e da erosão. Um novo relatório do US Army Corps of Engineers, centro de estudos das forças armadas norte-americanas, prevê que algumas aldeias do Alasca podem estar completamente debaixo d’água até 2017.

É o caso de Newtok, localizada na costa ocidental do Alasca, 400 quilômetros ao sul do Estreito de Bering. O rio Ninglick, que circunda a aldeia por três lados, está “comendo” o solo da região de forma cada vez mais agressiva, pois a velocidade e o volume das águas aumentam conforme as geleiras derretem. Os nativos foram forçados pelo governo a se mudarem para acampamentos permanentes.

Parece, contudo, que a situação não se resolverá tão cedo. Organizações locais discutem a ameaça que o aquecimento global representa para as suas populações, mas os debates se resumem a uma possível ou não ajuda financeira às comunidades. Segundo estudos, o Alasca tem aquecido duas vezes mais rápido que o resto do país nas últimas seis décadas. Mas ambientalistas e estudiosos alertam que o problema não se restringe às ermas geleiras, já que metade da população dos Estados Unidos vive a menos de 80 quilômetros do litoral.