Petição soma 33 mil assinaturas contra desmonte na Casa de Rui Barbosa
Alunos do curso de mestrado da Fundação mobilizam-se contra exoneração ou dispensa de cinco pesquisadores que ocupavam cargos de chefia
Um abaixo-assinado foi lançado por alunos do mestrado da Fundação Casa de Rui Barbosa, uma das principais instituições culturais do país, localizada no Rio de Janeiro, para que cinco pesquisadores exonerados ou dispensados retornem aos cargos de chefia. A petição, aberta na plataforma Change.org, acumula até o momento mais de 33 mil assinaturas, manifestando-se contra “qualquer tentativa de desmonte do Centro de Pesquisas e do Centro de Memória e Informação [da Casa] através da destituição de seus chefes de setores”.
O manifesto foi criado pelos alunos depois que saiu uma publicação do Ministério do Turismo, no Diário Oficial da União, retirando os funcionários dos cargos. Antônio Herculano Lopes deixou de ser diretor do Centro de Pesquisa, a crítica literária Flora Süssekind saiu do Centro de Pesquisa em Filologia, Charles Gomes foi retirado do Centro de Pesquisa em Direito, a jornalista Joelle Rouchou foi dispensada da chefia do Centro de Pesquisa em História e o sociólogo José Almino de Alencar perdeu a chefia de pesquisa da obra de Rui Barbosa.
A campanha foi abraçada por pessoas públicas como o jornalista e escritor Xico Sá e a cartunista Laerte, que compartilharam o abaixo-assinado em suas redes sociais, numa demonstração de apoio à causa. As mudanças na instituição também repercutiram no exterior com a publicação de uma carta aberta, assinada por 150 especialistas em estudos brasileiros de academias norte-americanas, reivindicando a suspensão dos atos publicados.
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Em outubro do ano passado, a atriz e roteirista de televisão Letícia Dornelles passou a presidir a Fundação. A nomeação gerou críticas quanto à falta de qualificação da atriz para o cargo. Na ocasião, o presidente Jair Bolsonaro ainda escolheu para o posto de secretário especial da Cultura, pasta subordinada ao Ministério do Turismo, o dramaturgo Roberto Alvim.
“A forma com as exonerações foram encaminhadas, com informações mentirosas sobre a falta de produção desses pesquisadores, falta de transparência e inabilidade em conduzir as conversas. Tudo isso expôs o despreparo dela em presidir a Casa”, comenta uma aluna que preferiu não se identificar. “Ela poderia ter encaminhado a renovação dos cargos de chefia buscando um diálogo com os servidores da Casa, com cada área indicando uma lista tríplice, por exemplo”, completa a mestranda sobre as decisões tomadas pela presidente.
Assim como a aluna, o manifesto também associa as mudanças na Casa com o “despreparo de Dornelles”. “[A exoneração] revela seu desprezo pela pesquisa científica e pela preservação e organização de documentos históricos. Esse posicionamento ameaça a integridade, a estabilidade e o desenvolvimento das atividades da Casa de Rui Barbosa e o seu acervo de conhecimentos construído ao longo de décadas”, diz trecho do abaixo-assinado.
Como um ato de defesa à Fundação, os alunos esperam reunir ainda mais apoiadores para que os funcionários possam retornar aos seus respectivos cargos. “O que estamos presenciando constitui ato grave de desrespeito à história da Casa de Rui Barbosa, assim como enfraquecimento significante no campo da cultura e da educação no Brasil. Não vamos nos calar nem permitir que destruam um patrimônio cultural”, continua o manifesto.
A mestranda que prefere não ser identificada acredita que a forte adesão da sociedade à petição decorre tanto da admiração que as pessoas têm pela Fundação quanto por um “descontentamento enorme com o desmonte praticado pelo atual governo”. Ela ressalta que, no ato realizado na segunda-feira, 13, em frente à Casa, havia um público bem eclético, desde mães que vão com as crianças ao jardim do local, até intelectuais como Silviano Santiago. Na ocasião, os manifestantes se surpreenderam ao encontrar os portões da Casa fechados.
Nomeação cancelada
Para o lugar do sociólogo José Almino de Alencar, na chefia de pesquisa do Setor Ruiano, a presidente da Fundação havia convidado o pesquisador Christian Lynch, que é servidor concursado da Casa. Entretanto, antes mesmo de ser oficializada, a nomeação foi vetada pelo secretário especial da Cultura, Roberto Alvim, que anunciou a decisão no Twitter.
Na publicação, Alvim informou que não poderia dispensar Lynch, por ser ele servidor concursado, mas que não havia impedimento para manifestar seu “absoluto desprezo por suas ideias execráveis” sobre o presidente Jair Bolsonaro. Em sua conta no Facebook, o pesquisador comentou que o secretário agiu com “admirável coerência a respeito da ‘guerra cultural’ anunciada quando foi nomeado pelo Sr. Presidente da República”.
Em postagem anterior, Lynch esclareceu que só havia aceitado o convite ao cargo de confiança para preservar a rotina de excelência em pesquisa da obra de Rui Barbosa e para “evitar as complicações que poderiam advir da eventual nomeação, em meu lugar, de pessoa estranha aos quadros da casa”. O pesquisador declarou, ainda, que antes tinha sido chamado para assumir a direção do Centro de Pesquisa, mas recusou alegando “razões pessoais”.
Localizada em Botafogo (RJ), a Fundação Casa de Rui Barbosa é uma das principais instituições de cultura do país. A instituição funciona como um importante centro de pesquisa que gera cursos, seminários, artigos, livros e atividades gratuitas à população. A Fundação conta com museu, arquivo e biblioteca, mantendo neles acervos de intelectuais e escritores.
Mobilizações pela educação e pesquisa
Em 2019, estudantes e professores também recorreram à criação de abaixo-assinados, por meio da plataforma Change.org, para mobilizarem-se em defesa da pesquisa e da educação no Brasil. Uma das campanhas, por exemplo, reúne 1,6 milhão pessoas em prol das universidades públicas. Outra alcançou vitória depois de juntar mais de 1 milhão de assinaturas para salvar o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).