Polícia apura incompatibilidade de salário e bens de ‘atirador do McDonald’s’

A Polícia Civil quer saber o motivo de um sargento do Corpo de Bombeiros, que ganha R$ 8 mil de salário, portar um carro de luxo, sem placa

A Polícia Civil está apurando uma possível incompatibilidade entre o salário e os bens do sargento do Corpo de Bombeiros que atirou em um atendente do McDonald’s na Taquara, no Rio de Janeiro. As investigações tentam saber como Paulo César de Souza Albuquerque, que possui um salário de aproximadamente R$ 8 mil, poderia ter uma Mercedes, como aparecem nas imagens de câmeras de segurança do local.

Polícia apura incompatibilidade de salário e bens de ‘atirador do McDonald’s’
Créditos: Reprodução/TV Globo
Polícia apura incompatibilidade de salário e bens de ‘atirador do McDonald’s’

A polícia também investiga o porquê do carro estar sem placa. Os investigadores dizem que ele alegou ter comprado o veículo em um leilão e que a placa se perdeu em uma ventania.

Os advogados de defesa do sargento do Corpo de Bombeiros afirmam que o disparo aconteceu de forma acidental. Ele se apresentou na 32ªDP (Taquara), que passou a investigar o caso, depôs e foi liberado.

Mateus Domingues Carvalho, de 21 anos, continua internado no CTI do Hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca. Segundo a família, ele perdeu o rim esquerdo e ainda passará por uma nova cirurgia para reconstruir o intestino. O quadro de saúde é estável. A família nega a versão dada pela defesa do acusado.

“Não teve um disparo acidental. Ele está bem consciente e sabe muito bem o que aconteceu. E não foi acidental. Isso mexeu muito com ele. Ele tem medo e não sabe como vai ser quando voltar. Ele pensa no voltar ao trabalho”, disse Marcela Costa, tia do jovem, ao G1.

O McDonald’s diz que está colaborando com as investigações e prestando assistência aos familiares de seu funcionário.

Prisão preventiva

No começo da tarde da última terça, 10, o Corpo de Bombeiros disse que realizou o pedido de prisão preventiva do militar. A corporação comunicou que também foi aberto um processo no conselho disciplinar. Os bombeiros informaram ainda que repudiam qualquer ato criminoso e condutas ilícitas dos seus integrantes.

Um pedido de prisão contra o sargento, feito pela Polícia Civil em parceria com o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), já foi negado.

Paulo César já teve outras passagens pela polícia. Em 2012, por lesão corporal e ameaça contra uma mulher. E em 2018, por violação de domicílio e invasão de um terreno.

Os bombeiros informaram que as anotações não estão nos registros funcionais do militar. A corporação diz que isso pode acontecer porque, muitas vezes, quando o militar pratica atos ilícitos, ele não informa a condição funcional ao ser fichado na delegacia. A omissão teria como objetivo evitar sanções.

Atendendo um pedido feito pelo comandante-geral dos bombeiros, o porte e posse de armas foi suspenso, diz a corporação.

O caso é tratado como tentativa de homicídio. A Polícia Civil pretende ouvir outros funcionários do ambiente de trabalho.

Testemunhas da cena

Imagens de câmeras de segurança mostram o sargento passando pelo drive-thru da lanchonete e dando um soco no atendente, que chegou a revidar. Depois ele vai até a loja com uma arma na mão e empurra dois funcionários, um deles o segurança do local. Na sequência, Paulo César vai até a cabine onde Mateus estava e atira nele.

De acordo com testemunhas, a discussão ocorreu por devido a um cupom de desconto.

“Eu estava lanchando e, quando ele chegou na frente da loja e pediu para falar comigo, como um cliente normal, eu abri a porta. Ele perguntou se eu era polícia e falei que não. Aí ele puxou a arma. Eu tentei conter ele, conversar, mas ele não quis conversa. Daí em diante ele entrou pela cozinha e aconteceu o fato da agressão contra o funcionário, o disparo de arma de fogo”, disse Rafael Mendonça, segurança da loja.

Segundo ele, o bombeiro não quis nenhum tipo de diálogo. “Quando eu o segurei para tentar falar com ele: ‘Vamos conversar que não é assim não. O que houve?’ E ele: ‘tira a mão de mim que eu vou te dar um tiro’. Infelizmente, eu não pude botar o peito na frente”, contou.