Por que Lula não errou ao dizer: ‘Sou contra o aborto, mas é preciso política’
"Mesmo eu sendo contra, ele existe", ponderou o ex-presidente
Nesta quinta-feira, 7, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva afirmou ser contra o aborto, mas que apesar disso o tema deve ser tratado como uma questão de saúde pública.
A declaração acontece, após na quarta-feira, 6, ele ter gerado polêmica ao afirmar que “mulheres pobres morrem” realizando abortos clandestinos, enquanto “madame pode fazer um aborto em Paris”.
Após a polêmica, Lula afirmou: “Essa pergunta já chegou pra mim umas mil vezes: eu sou contra o aborto, mas é preciso transformar numa política pública. Mesmo eu sendo contra, ele existe, ele se dá com uma pessoa de alto poder aquisitivo, ela vai ao exterior e se trata. E o pobre, como faz?”, disse Lula em entrevista à rádio Jangadeiro BandNews, de Fortaleza.
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“O que acho é que o aborto tem que ter atenção do estado, o estado tem que cuidar dessas pessoas. É uma questão de bom senso. Por mais que a lei proíba e a religião não concorde, ele existe, a partir do momento em que a pessoa esteja no processo de aborto, o estado tem que amparar essa pessoa”, completou o ex-presidente.
Vale ressaltar que no primeiro semestre de 2020, no Brasil, mais de 80 mil mulheres foram atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em razão de abortos malsucedidos – provocados ou espontâneos.
Lula não errou em suas declarações, justamente, porque ninguém é obrigado a ser a favor do aborto, nem contra. Mas a opinião individual de cada um, seja ela motivada por questões religiosas, morais, ou não, não pode reger o Estado.
Não cabe a um estado laico criminalizar uma mulher por abortar. O fato é que mulheres abortam pelos mais diversos motivos e fechar os olhos para esta realidade chega a custar a vida de pessoas.
Se o Estado reconhece que mulheres realizam aborto e trata isso como uma questão de saúde pública, menos mulheres vão precisar recorrer ao SUS por complicações decorrentes de procedimentos realizados em casa, sem qualquer assistência e vigilância.
Aborto não é método contraceptivo. Olhar o aborto como uma questão de saúde pública também passa por incentivar orientação sexual nas escolas, ensinar sobre métodos para evitar a gravidez e assistir uma mulher que optou por interromper uma gestação para além do cuidado físico, mas também mental, psicológico.
Não é porque hoje é crime abortar no Brasil que mulheres deixam de realizar o procedimento e também não é verdade que descriminalizando haverá mais abortos no país.