Por que o movimento Sleeping Giants incomoda tanto a família Bolsonaro ?

Movimento contra fake news expõe Banco do Brasil em uma polêmica que envolve a família Bolsonaro

22/05/2020 14:08 / Atualizado em 25/05/2020 18:43

Criado em 2016 nos EUA, o movimento Sleeping Giants foi criado para chamar a atenção de empresas que financiam sites acusados de produzirem fake news. Nos últimos anos, a propagação de falsas notícias se tornou instrumento central em estratégias de campanhas eleitorais mundo afora.

Na última segunda-feira 18, o Sleeping Giants finalmente chegou ao Brasil. Em 72 horas, a conta do movimento no Twitter alcançou a marca de 60 mil seguidores. Até o fim da manhã desta sexta-feira, 22, o número mais que dobrou e já contabiliza quase 200 mil adeptos.

Conta ainda com apoio de importantes nomes do cenário político atual como o youtuber Felipe Neto e o apresentador Luciano Huck. Em contrapartida incomoda, justamente, aqueles que tanto se beneficiam da propagação de fake news: a família bolsonaro.

E o movimento que mal chegou por aqui já está dando o que falar: entenda por que o Sleeping Giants incomodou Carlos Bolsonaro e envolveu o Banco do Brasil em um impasse moral.

Mamadeira erótica, kit gay e outras invencionices

Durante a corrida eleitoral de 2018, quando Jair Bolsonaro despontava como um dos favoritos à presidência, a utilização das fake news se tornou a principal ferramenta da campanha.

Propagada em redes sociais como Facebook, Twitter e, principalmente, WhatsApp, a divulgação de notícias falsas teve contribuição fundamental para a vitória do ex-deputado federal.

Kit gay nunca foi distribuído em escola ao contrário do que dizia Jair Bolsonaro. Apesar disso, pesquisa mostrou que 84% dos eleitores de Bolsonaro acreditaram na existência do kit gay
Kit gay nunca foi distribuído em escola ao contrário do que dizia Jair Bolsonaro. Apesar disso, pesquisa mostrou que 84% dos eleitores de Bolsonaro acreditaram na existência do kit gay

Mesmo diante da denúncia de um esquema milionário de financiamento de fake news por empresas apoiadoras da campanha.

Em setembro de 2019, foi instalada na Câmara a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News, que aponta família Bolsonaro como criadora do chamado “gabinete do ódio”.

De acordo com as investigações, o grupo, supostamente liderado por Carlos Bolsonaro, é responsável por  espalhar notícias falsas contra adversários políticos da família do presidente.

Publicidade programática

Desde que chegou ao Brasil, o movimento Sleeping Giants notificou publicamente mais de 30 empresas vinculadas a páginas divulgadoras de fake news por meio de publicidade programática. Mas o que é publicidade programática ?

Em resumo, publicidade programática permite que uma empresa veicule anúncios de forma automatizada. Nesse sistema, os anúncios comerciais são definidos a partir de dados dos usuários de um site, sem qualquer tipo de negociação real.

Assim, as páginas são beneficiadas por visualizações e cliques em anúncios divulgados em seus domínios. E justamente por se tratar de uma relação estritamente automatizada, muitas empresas não tem conhecimento sobre estes anúncios em sites de transparência duvidosa.

O que, nos últimos anos, contribuiu financeiramente para o crescimento de sites propagadores de fake news. E é aí que entra o papel do movimento Sleeping Giants, que ao pressionar empresas sobre anúncios impróprios consegue estancar a receita financeira dos propagadores de mamadeiras de pirocas, kits gays, uso da cloroquinas e outros temas sem qualquer embasamento.

Carluxo x Sleeping Giants e o caso Banco do Brasil

Não por acaso isso pode explicar o incômodo de Carlos Bolsonaro, que na última quarta-feira, 20, denunciou o que ele chama de censura contra a “mídia alternativa”.

Neste caso especificamente, o site Jornal da Cidade, que divulga série de artigos em defesa ao governo Bolsonaro e, recentemente, se debruça na defesa ao uso da cloroquina para o tratamento do novo coronavírus.

Até a noite da última quinta-feira, mais de 30 empresas foram notificadas por terem anúncios divulgados no site. Ao saberem da vinculação comercial, muitas ressaltaram não compactuar com a divulgação de fake news e retiraram seus anúncios do site. Entre elas, o Banco do Brasil, que havia anunciado a retirada da publicidade.

Decisão que, entretanto, não durou muito. Isso porque, segundo apuração da coluna Painel da Folha de S. Paulo, o Banco do Brasil informou ter restabelecido a verba horas após o rompimento.

Curiosamente, o veredito foi definido pela área técnica da estatal, onde atua Antônio Mourão, filho do vice-presidente. Isso porque consideram o veto ao site uma medida excessiva. Mesmo diante de inúmeros episódios que indicam o Jornal da Cidade como mais um propagador de falsas notícias da rede comunicação bolsonarista.