Por que o movimento Sleeping Giants incomoda tanto a família Bolsonaro ?
Movimento contra fake news expõe Banco do Brasil em uma polêmica que envolve a família Bolsonaro
Criado em 2016 nos EUA, o movimento Sleeping Giants foi criado para chamar a atenção de empresas que financiam sites acusados de produzirem fake news. Nos últimos anos, a propagação de falsas notícias se tornou instrumento central em estratégias de campanhas eleitorais mundo afora.
Na última segunda-feira 18, o Sleeping Giants finalmente chegou ao Brasil. Em 72 horas, a conta do movimento no Twitter alcançou a marca de 60 mil seguidores. Até o fim da manhã desta sexta-feira, 22, o número mais que dobrou e já contabiliza quase 200 mil adeptos.
Conta ainda com apoio de importantes nomes do cenário político atual como o youtuber Felipe Neto e o apresentador Luciano Huck. Em contrapartida incomoda, justamente, aqueles que tanto se beneficiam da propagação de fake news: a família bolsonaro.
- Turma da Mônica entra na luta contra as fake news da vacinação
- Projeto da UFRJ de combate às notícias falsas recebe investimento
- ATENÇÃO! Há mais de mil anúncios fake sobre o Desenrola; saiba como identificar
- Brand safety é prioridade para a publicidade digital
Belíssima iniciativa. Necessária. Vamos seguir. Vamos apoiar. @slpng_giants_pt pic.twitter.com/K61h3UYQf2
— Luciano Huck (@LucianoHuck) May 21, 2020
Belíssima iniciativa. Necessária. Vamos seguir. Vamos apoiar. @slpng_giants_pt pic.twitter.com/K61h3UYQf2
— Luciano Huck (@LucianoHuck) May 21, 2020
E o movimento que mal chegou por aqui já está dando o que falar: entenda por que o Sleeping Giants incomodou Carlos Bolsonaro e envolveu o Banco do Brasil em um impasse moral.
Mamadeira erótica, kit gay e outras invencionices
Durante a corrida eleitoral de 2018, quando Jair Bolsonaro despontava como um dos favoritos à presidência, a utilização das fake news se tornou a principal ferramenta da campanha.
Propagada em redes sociais como Facebook, Twitter e, principalmente, WhatsApp, a divulgação de notícias falsas teve contribuição fundamental para a vitória do ex-deputado federal.
Mesmo diante da denúncia de um esquema milionário de financiamento de fake news por empresas apoiadoras da campanha.
Em setembro de 2019, foi instalada na Câmara a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News, que aponta família Bolsonaro como criadora do chamado “gabinete do ódio”.
De acordo com as investigações, o grupo, supostamente liderado por Carlos Bolsonaro, é responsável por espalhar notícias falsas contra adversários políticos da família do presidente.
Publicidade programática
Desde que chegou ao Brasil, o movimento Sleeping Giants notificou publicamente mais de 30 empresas vinculadas a páginas divulgadoras de fake news por meio de publicidade programática. Mas o que é publicidade programática ?
Em resumo, publicidade programática permite que uma empresa veicule anúncios de forma automatizada. Nesse sistema, os anúncios comerciais são definidos a partir de dados dos usuários de um site, sem qualquer tipo de negociação real.
Assim, as páginas são beneficiadas por visualizações e cliques em anúncios divulgados em seus domínios. E justamente por se tratar de uma relação estritamente automatizada, muitas empresas não tem conhecimento sobre estes anúncios em sites de transparência duvidosa.
O que, nos últimos anos, contribuiu financeiramente para o crescimento de sites propagadores de fake news. E é aí que entra o papel do movimento Sleeping Giants, que ao pressionar empresas sobre anúncios impróprios consegue estancar a receita financeira dos propagadores de mamadeiras de pirocas, kits gays, uso da cloroquinas e outros temas sem qualquer embasamento.
Carluxo x Sleeping Giants e o caso Banco do Brasil
Não por acaso isso pode explicar o incômodo de Carlos Bolsonaro, que na última quarta-feira, 20, denunciou o que ele chama de censura contra a “mídia alternativa”.
Neste caso especificamente, o site Jornal da Cidade, que divulga série de artigos em defesa ao governo Bolsonaro e, recentemente, se debruça na defesa ao uso da cloroquina para o tratamento do novo coronavírus.
Até a noite da última quinta-feira, mais de 30 empresas foram notificadas por terem anúncios divulgados no site. Ao saberem da vinculação comercial, muitas ressaltaram não compactuar com a divulgação de fake news e retiraram seus anúncios do site. Entre elas, o Banco do Brasil, que havia anunciado a retirada da publicidade.
Decisão que, entretanto, não durou muito. Isso porque, segundo apuração da coluna Painel da Folha de S. Paulo, o Banco do Brasil informou ter restabelecido a verba horas após o rompimento.
Curiosamente, o veredito foi definido pela área técnica da estatal, onde atua Antônio Mourão, filho do vice-presidente. Isso porque consideram o veto ao site uma medida excessiva. Mesmo diante de inúmeros episódios que indicam o Jornal da Cidade como mais um propagador de falsas notícias da rede comunicação bolsonarista.