Post de jovem espancada pelo namorado viraliza nas redes sociais
Uma jovem espancada pelo namorado resolveu não se calar. E usou as redes sociais para expor o abuso a que foi submetida. Sua postagem foi compartilhada por milhares de outras mulheres. É mesmo assim, em coro, que esse tipo de violência precisa ser combatida.
A vítima, uma analista de 25 anos, conta que estava com o então namorado e amigos dele em São Vicente, no litoral paulista, no último domingo, 19.
Depois de discutir com ele no carro, ela acabou subindo com o veículo na calçada por ter ficado nervosa, segundo relatou.
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Em seguida, ela teve de empurrar sozinha o automóvel, que sofreu alguns danos, para tirá-lo dali, de acordo com o depoimento. O então namorado ameaçou ir embora, e a analista diz que implorou para que ficasse, uma vez que estava nervosa e não queria continuar brigando.
Nessa hora, ela conta que o agarrou para que não a deixasse ali, sem ajuda. “Ele pediu para eu soltar, na mesma hora prendeu a minha respiração falando que iria me desmaiar porque eu estava irritando ele”, contou.
Foi quando mordeu o dedo dele para que ele a soltasse, de acordo com o que escreveu na postagem. Nesse momento, ele a espancou.
A jovem foi socorrida por uma viatura da Polícia Militar que passava pelo local. Uma policial a acalmou e a orientou sobre como fazer um boletim de ocorrência. A analista também foi a um pronto-socorro para tirar um raio-x do rosto.
Ela afirma que, na delegacia, teve de enfrentar mais uma situação de machismo: o questionamento de um policial, dirigido ao pai e ao irmão da vítima, sobre a real intenção dela de fazer o B.O.. Na lógica desse policial, ela não queria de fato registrar o boletim porque no dia seguinte voltaria com o rapaz.
A jovem espancada pelo namorado conta que, naquela hora, ficou sem reação.
“Não conseguia parar de chorar, minha ansiedade atacou, eu fiquei em estado de choque porque jamais pensei que um dia ia passar por esta situação”, escreveu ela na postagem.
“Uma única policial me acalmou nesse momento e consegui entender o que estava acontecendo. E é obvio que eu quero fazer B.O. e o que for preciso para evitar que um verme desse continue a bater em outras.”
Porém, diz, o caso foi registrado como agressão mútua, e isso com base só na versão do então namorado e de um amigo dele que depôs como testemunha.
“A minha versão ninguém escutou, apenas assinei o B.O. e ele [agressor] saiu pela mesma porta que eu”, denuncia. “Só hoje [terça] que fui procurar meus direitos na Delegacia da Mulher, e lá eles escutaram o meu depoimento e fizeram um adendo no B.O. com a minha versão. Deveria ter deixado ele me desmaiar, era mais fácil deixar a covardia de um homem usar a força maior em cima de uma mulher.”
A Secretaria de Segurança Pública (SSP) se pronunciou em nota sobre o caso, afirmando que a ocorrência foi registrada como lesão corporal, na madrugada de segunda, 20, na Delegacia de São Vicente.
A vítima prestou outro depoimento na terça, 21, na Delegacia de Defesa da Mulher do município. Na ocasião, pediu medidas protetivas de urgência. A solicitação aguarda decisão judicial.
Em seu desabafo nas redes sociais, a analista deixa claro que o relacionamento com o agressor já vinha sendo abusivo nos últimos meses.
Os abusos incluíam xingamentos, insultos e também uma traição.
“Infelizmente sempre fui ‘acreditada no amor’ e vivia sendo manipulada, com desculpas e com chantagens emocionais”, afirmou no texto. “Só que agora não tem como ficar calada, eu nunca passei por uma situação de ser agredida por um homem ou nunca presenciei com alguém próximo.”
“Eu quero justiça em meu nome e em nome de todas mulheres que sofrem violência e vivem em relacionamento abusivo”, concluiu.
De acordo com nota enviada pelo advogado da analista, Bruno Bottiglieri Freitas Costa, ao portal G1, a concessão das medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha em favor da vítima já foi requerida.
Saiba como denunciar violência contra mulher
Os casos de violência doméstica que viram processos no Poder Judiciário começam em diferentes canais do sistema de justiça, como delegacias de polícia (comuns e voltadas à defesa da mulher), disque-denúncia, promotorias e defensorias públicas.
- Disque 180
O Disque-Denúncia foi criado pela Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM). A denúncia é anônima e gratuita, disponível 24 horas, em todo o país. Os casos recebidos pela central são encaminhados ao Ministério Público. - Disque 100
O serviço pode ser considerado como “pronto socorro” dos direitos humanos pois atende também graves situações de violações que acabaram de ocorrer ou que ainda estão em curso, acionando os órgãos competentes, possibilitando o flagrante. O Disque 100 funciona diariamente, 24 horas por dia, incluindo sábados, domingos e feriados. As ligações podem ser feitas de todo o Brasil por meio de discagem gratuita, de qualquer terminal telefônico fixo ou móvel (celular), bastando discar 100. - Polícia Militar (190)
A vítima ou a testemunha pode procurar uma delegacia comum, onde deve ter prioridade no atendimento ou mesmo pedir ajuda por meio do telefone 190. Nesse caso, vai uma viatura da Polícia Militar até o local. Havendo flagrante da ameaça ou agressão, o homem é levado à delegacia, registra-se a ocorrência, ouve-se a vítima e as testemunhas. Na audiência de custódia, o juiz decide se ele ficará preso ou será posto em liberdade. Saiba mais sobre esse assunto.