A reinvenção de um cortiço

Maria Ruth Amaral Sampaio é professora titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Socióloga de formação desde a década de 1950 pela mesma entidade, seu nome e projeto foram os vencedores dos mais de 100 inscritos para a segunda edição do Deutsche Bank Urban Age Award (DBUA) São Paulo 2008. A divulgação foi feita na noite desta quarta-feira, 3, no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, e contou com a presença do governador José Serra. O projeto dela, intitulado “Do Cortiço da Rua Sólon ao Edifício União”, foi premiado com US$ 100 mil.

“Costumo andar bastante pelas ruas do Bom Retiro e aquele prédio sempre me chamou atenção”. O embrião do projeto de reurbanização começou no ano de 2002, quando Ruth coordenava a disciplina Habitação Popular Paulistana. Foi reunido um grupo de alunos que, por sua vez, começaram a estudar o local. “As favelas são muito mais estudadas que os cortiços. Normalmente eles se misturam ao cenário urbano e acabam sendo esquecidos.”

Lembra a professora que o cortiço era diferente dos mais convencionais, pelo fato de ser vertical – com oito andares. “As condições físicas e espaciais eram deploráveis”. Na parte onde deveriam ter os elevadores, os moradores fizeram uma espécie de laje para usar também como espaço de moradia. Após o levantamento do grupo, foi feita então a retirada de alguns moradores. De 72 famílias, passaram a existir 42. “Cada um foi para um canto.”

Ruth continuou o projeto e, através de alguns patrocínios, arrumou a fiação do local.  Em seguida concertou a fachada. “Os moradores tiveram sua estima melhorada”, conta a professora. Atualmente, quem mora por lá passa pelo processo da Lei do Usucapião Coletivo Urbano –  áreas urbanas com mais de 250 metros quadrados ocupadas por mais de cinco anos por população de baixa renda acabam se tornando propriedade do morador.

Ela não revela a idade. Diz ter “setenta dezenas e algumas unidades”. Por ter sido entrevistada antes da entrega do prêmio, a reportagem do Catraca Livre perguntou qual seria sua reação, caso ganhasse. “Apesar da idade, daria pulos de alegria”. Além disso, investiria no prédio. Ruth pretende agora formalizar o sistema de água e esgoto.

Opinião dos organizadores
O projeto “Do Cortiço da Rua Solón ao Edifício União”, de acordo com o júri do Deutsche Bank Urban Age Award (DBUA) São Paulo 2008, lida diretamente com a necessidade urgente de melhorar habitação dos pobres urbanos no coração da cidade.

A iniciativa promove o conceito de que para a área ser econômica, social e ambientalmente sustentável, os habitantes devem viver próximos ao seu local de trabalho, reduzindo a necessidade de baldeações e otimizando o potencial para que os mesmos encontrem empregos locais, utilizem escolas locais e beneficiem-se de recursos locais.

O projeto faz uma declaração sobre como nós devemos aproveitar o máximo do nosso ambiente urbano – prédios abandonados ou áreas industriais degradadas – para promover o paradigma de uma cidade compacta e bem conectada.