Professor que vestiu saia é alvo de perseguição e pode ser exonerado em SP

Elogiado por levar debate sobre diversidade à sala de aula, hoje, Vitor Pelegrin responde a processo administrativo movido pela prefeitura de Campinas (SP)

No desfile do dia 7 de setembro de 2015, que marca as comemorações de independência do Brasil, o professor Vitor Pelegrin, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Caic Zeferino Vaz , saiu às ruas de Campinas (SP), acompanhado por outros funcionários e alunos da instituição, para pedir o fim da homofobia e debater temas relativos à questão de gênero.

Hoje, o docente responde a um processo administrativo movido pela prefeitura e pode ser exonerado. Mas quase seis meses depois ninguém sabe o porquê.

A principal suspeita, segundo o docente, está no fato dele ter vestido saia durante o desfile do Dia da Independência. E a escola, a princípio favorável à manifestação, depois da abertura do processo, se manifestou contrária à decisão.

“A prefeitura reprovou o fato do desfile abordar assuntos relacionados à questão de gênero com camisetas e cartazes escritos “Menina também joga bola”, “Respeito”, “Empatia”, “não à homofobia” etc. Naquele período, havia um debate em curso na câmara de vereadores de Campinas (uma das mais conservadoras do Brasil) sobre a proibição do debate de gênero nas escolas. Entendo que o prefeito respondeu a uma pressão dessa base de vereadores conservadores”, denuncia.

Sobre a mudança de postura da escola, o professor chama atenção para a falta de abertura ao diálogo e contesta a gestão municipal, hoje representada pelo prefeito Jonas Donizete (PSDB). “O governo municipal banaliza os processos disciplinares e o assédio moral é uma constante. Ao invés de dialogar, construir junto, pune. Não há democracia. Creio que a mudança se deu por medo de represálias”.

Suspenso de suas atividades desde o último dia 16, Pelegrin recorreu ao campo jurídico para tenta reverter a situação. Enquanto isso, a Secretaria de Educação Municipal afirma que não pode revelar o motivo do processo – por se tratar de caráter sigiloso. “Estamos recorrendo da suspensão de 60 dias e elaborando a defesa jurídica do processo. Para além disso, temos dialogado com educadores, servidores municipais, intelectuais e movimentos sociais. Dessa forma, qualificamos o debate não apenas para denunciar o meu processo, mas para impedir que se repita em outros lugares”.

Questionado sobre a falta de debate nas salas de aula, Pelegrin ressalta o papel da educação no combate à homofobia e não poupa críticas à intolerância presente no ambiente escolar. Sobretudo na estrutura educacional. “A escola deve cumprir um papel de organizar essa discussão através da informação científica e de debates. São muitas as opressões no ambiente escolar, a estrutura educacional não pode ser insensível a isso. Hoje, não apenas faltam ações e formação específica para nós educadores, como há um movimento político tentando censurar essa discussão. Seria um grande retrocesso”.

Campanha Saia Sem Preconceito 

Em meio à luta pelo debate de gênero nas escolas, o site Saia Sem Preconceito foi criado para propor uma sociedade mais inclusiva e pelo fim do preconceito.

A página conta ainda com um abaixo-assinado onde você pode contribuir para a construção de dias melhores: onde o ódio não vença o amor – independente de sua orientação.