Protesto: jornalista responde Eduardo Bolsonaro com topless

30/09/2018 19:56 / Atualizado em 04/10/2018 16:05

A ex-namorada de Eduardo Bolsonaro, Patrícia Lélis
A ex-namorada de Eduardo Bolsonaro, Patrícia Lélis - Mari Rosa

Em discurso na avenida Paulista, em São Paulo, o deputado Eduardo Bolsonaro disse que “as mulheres de direita são mais bonitas que as da esquerda”. “Elas não mostram os peitos e nem defecam nas ruas. As mulheres de direita têm mais higiene”, afirmou.

Ao saber desses ataques, Eduardo recebeu, pelas redes sociais, uma resposta provocativa da jornalista Patrícia Lélis.

“Em discurso na avenida Paulista, em São Paulo, Eduardo Bolsonaro disse que ‘as mulheres de direita são mais bonitas que as da esquerda, elas não mostram os peitos e nem defecam nas ruas, elas são depilada, as mulheres de direita têm mais higiene’ e como se não bastasse, ele ainda afirmou que as mulheres de esquerda não merecem respeito. Eduardo, as mulheres devem ser respeitadas independentes de suas posições políticas, independente se são adeptas da depilação ou não, as mulheres devem ser respeitadas além de seus corpos, e é uma pena que apenas uma partes das mulheres consigam enxergar o quanto seu discurso é machista, opressor, misógino e elitista. Eu conheci você de perto, sei o quanto você é desrespeitoso e trata as mulheres como objeto e entende a nós padronizar, sei também que é fácil se esconder atrás deste discurso esteriotipado, pois bem, eu estou aqui hoje, totalmente depilada para dizer #EleNão #OsFilhosTambémNão”

Candidata a deputada pelo PROS, em 2015, o nome de Patrícia Lélis ganhou projeção nacional em todo o país após denúncia contra o pastor e deputado federal Marco Feliciano por abuso sexual.

Em abril deste ano, a jornalista voltou à Justiça, dessa vez, contra Eduardo Bolsonaro, por, segundo ela, ofendê-la e ameaçá-la em mensagens trocadas em um aplicativo.

Denunciado pela Procuradoria-Geral da República, o parlamentar nunca se manifestou sobre as  intimações do Supremo Tribunal Federal (STF) e sequer solicitou advogado para o caso.

“Nós precisamos falar sobre o assédio, sobre a cultura do estupro, e esse tipo de conversa tem que existir desde cedo”
“Nós precisamos falar sobre o assédio, sobre a cultura do estupro, e esse tipo de conversa tem que existir desde cedo”

Na época, ela apresentou como prova conversas pelo aplicativo Telegram em que o parlamentar desfere uma série de ofensas e ameças depois de um conflito ocorrido nas redes sociais. “Sua otária. Quem você pensa que é? Se falar mais alguma coisa, eu acabo com sua vida”, escreveu.

Questionado por ela sobre o tom da ameaça, o deputado retrucou: “Entenda como quiser. Depois reclama que apanho [sic]. Você merece mesmo. Abusada. Tinha que ter apanhado mais para aprender a ficar calada. Mais uma palavra e eu acabo com você. Acabo mais ainda com a sua vida”.

Ao ser informado que a conversa estava sendo gravada, Bolsonaro desdenhou da jornalista, afirmando que ninguém acreditaria na sua versão. Em seguida, voltou a ameaçá-la. “Vai par o inferno. Puta. Você vai se arrepender de ter nascido. O aviso está dado. Mais uma palavra, e eu vou pessoalmente atrás de você. Num pode me envergonhar, vagabunda”. Quando disse que recorreria à Justiça, mais uma vez foi subestimada: “Enfia a Justiça no seu cú”.

Intimado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a se manifestar sobre o caso, o deputado sequer solicitou advogado para sua defesa. Segundo reportagem da “Folha de S. Paulo”, na última quarta-feira, 26, o ministro Luís Barroso determinou que Eduardo Bolsonaro se apresente pessoalmente.

Deputado desqualifica acusação de jornalista 

Após a denúncia, em um vídeo publicado no dia 13 de abril,  Eduardo Bolsonaro afirmou que a jornalista mentia e a desqualificou, citando caso envolvendo o deputado Pastor Marco Feliciano (Pode-SP). “Essa moça, Patrícia Lélis, já deveria ter sido interditada. Se a procuradora Raquel Dodge tivesse o mínimo de zelo, veria esses fatos, porque não é de difícil elucidação. Basta dar um Google e você vai ver os diversos casos de mentira”.

Trechos das ameaças anexadas em documento apresentado pela Procuradoria-Geral da República: 

Catraca entrevista: 

Em entrevista à Catraca Livre, a candidata falou sobre o caso envolvendo Eduardo Bolsonaro, a cultura do machismo e revelou algumas propostas para a questão da violência contra a mulher no Brasil, caso seja eleita no próximo dia 7 de outubro. Confira a conversa:

  • Como você encarou as ameaças feitas por Eduardo Bolsonaro contra você?
Patrícia: como não foi a primeira vez, na hora eu pensei em gravar, mas logicamente senti medo, pois era algo comum e corriqueiro, mas foi a primeira vez que me senti empoderada o suficiente para denunciá-lo.
  • Qual será o próximo passo do processo ?
Patrícia>> como ele perdeu todos os prazos e não se pronunciou no seu direito de ampla defesa, o processo segue para julgamento no STF.
  • Como era o relacionamento de vocês?
Patrícia>> nos respeitávamos. Mas nunca nos demos bem, sempre tivemos brigas e divergências.
  • Por que você decidiu se candidatar?
Patrícia>> eu sempre pensei em me candidatar, já era algo pautado pelo PSC, mas graças às feministas que me acolheram eu tive a oportunidade de sair pela esquerda.
  • O que mudou na sua vida quando você começou a receber essas agressões?
Patrícia>> eu comecei a perceber que infelizmente é uma cultura da nossa sociedade devido ao machismo.
  • Pesquisas apontam números recordes a respeito da violência contra a mulher no Brasil. Em casa, nas escolas, hospitais, nos transportes públicos e nas ruas. Diante disso, quais suas propostas para a prevenção de novos casos? 
Patrícia>> minha proposta é que nesse âmbito, as delegacias das mulheres tenham realmente mulheres atendendo, desde recebendo denúncias, quanto ao apoio psicológico.Também proponho que esse tipo de crime seja investigado e julgado de forma mais rápida, pois o judiciário infelizmente ainda é muito falho nesse âmbito.
  • Levando em conta sua candidatura a deputada federal, como seria um eventual com Eduardo Bolsonaro e Marco Feliciano? 
Patrícia>> isso foi algo que eu sempre pensei, e não fujo da luta. Quero encarar de frente todos que retiraram meu direito e tentaram violar meu corpo.
  • Números recentes indicam 606 casos de violência doméstica no Brasil todos os dias. Qual a importância da resistência feminina dentro na política diante desta realidade. Como agir nesses casos – levando em conta os episódios que envolveram Marco Feliciano e Eduardo Bolsonaro?
Patrícia>> a proposta que penso sobre isso,é realmente pautar esses tipos de crimes desde cedo, como por exemplo dentro das escolas. Nós precisamos falar sobre o assédio, sobre a cultura do estupro, e esse tipo de conversa tem que existir desde cedo.