Prova do Colégio Marista de Natal gera polêmica ao abordar racismo e violência policial
Uma das ilustrações exibe um policial retratado como um “porco”, empunhando uma arma
Uma prova do oitavo ano do ensino fundamental do tradicional Colégio Marista de Natal (RN) está sendo alvo de críticas nas redes sociais. A avaliação traz uma série de charges que retratam a violência policial e o racismo.
A prova foi aplicada aos alunos na última segunda-feira, 31. As três questões que causaram polêmica estão acompanhadas de ilustrações.
Uma das charges mostra um PM revistando a mochila escolar de um menino negro. Em outra ilustração, uma família negra se despede do pai para mais um dia de trabalho. “Tchau pai. Bom trabalho”, diz o menino. A mãe completa: E cuidado para não ser preso por engano na volta!!!”.
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A terceira ilustração exibe um policial retratado como um “porco”, empunhando uma arma.
A polêmica ocorre em meio a alta de mortes provocadas pela polícia no Brasil. No primeiro semestre de 2020, agentes de segurança mataram mais de 3,1 mil pessoas, alta de 7%, segundo levantamento do G1. Leia mais abaixo.
As ilustrações provocaram a ira de alguns internautas, que classificaram as questões de preconceituosas. Já outros saíram em defesa da instituição alegando as cenas são corriqueiras no dia a dia em diversas partes do Brasil.
“Colégio Marista de Natal-RN fazendo ideologia com seus alunos contra polícias e o presidente Bolsonaro”, escreveu uma usuária do Twitter.
“O Colégio Marista de Natal sofreu vários ataques por discutir uma charge que denunciava o racismo estrutural. Na era bolsonarista, o ataque à educação se torna um projeto ainda mais perverso. Nós, educadores que lutamos todos os dias por uma educação crítica, resistimos firmes!”, escreveu uma internauta.
“Não entendi, tão cancelando um prof do Marista só pq ele botou na prova charges que retratam a realidade? Kkkk”, disse outro.
PM pede explicações
Em nota divulgada ontem, a Polícia Militar do Rio Grande do Norte cobrou explicações do colégio Marista de Natal sobre o conteúdo da avaliação aplicada pela escola aos alunos do 8º ano do ensino fundamental.
Para a corporação, a imagem do policial militar representada na prova é “distorcida da realidade da instituição”.
A Polícia Militar “reforça que está à disposição do Marista para apresentar como é realizado o trabalho do seu efetivo”. “Nós, policiais militares, somos comprometidos com o direito à vida e dignidade da pessoa humana”, conclui a nota.
O Sinpol-RN, representante dos Policiais Civis e Servidores da Segurança, repudiou o caso e disse que o conteúdo da prova tem “claro direcionamento preconceituoso contra policiais” e acrescentou que os operadores da Segurança Pública “não são inimigos da sociedade”.
Também em nota o Colégio Marista de Natal afirmou que o objetivo era o de abordar com os alunos o “comportamento humano e convivência social nos dias atuais”.
A instituição disse ainda que não teve a intenção de desmerecer a Polícia Militar, “tão valorosa e importante para a nossa sociedade”. A nota diz que a direção lamenta qualquer “situação constrangedora” à categoria.
Violência policial
Levantamento feito pelo G1, revela que a menos 3.148 pessoas foram mortas por policiais no primeiro semestre deste ano em todo o país. O número é 7% mais alto que o registrado no mesmo período do ano passado, quando foram contabilizadas 2.934 mortes.
O Monitor da Violência também aponta alta na morte de policiais --em serviço e fora de serviço. Foram 103 policiais mortos, contra 83 no ano passado, o que representa um aumento de 24%.