Queimadas no Brasil aumentam 82% em relação a 2018

Entenda a relação entre as queimadas, o "dia que virou noite" em São Paulo e o discurso de Jair Bolsonaro

O número de queimadas cresceu 198% em Rondônia
Créditos: Frank Néry/ Governo de Rondônia
O número de queimadas cresceu 198% em Rondônia

De janeiro a agosto de 2019, as queimadas no Brasil aumentaram 82% em relação ao mesmo período do ano passado. Neste ano, foram 71.497 focos, ante 39.194 em 2018, o que representa a maior alta já registrada e também o maior número em 7 anos no país. Os dados foram gerados pelo Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com base em imagens de satélite.

Como consequência, nesta segunda-feira, 19, moradores de São Paulo, Mato Grosso do Sul e do norte do Paraná se assustaram ao presenciar o “dia virar noite”. Por volta das 15h, uma névoa escura cobriu a capital paulista e deixou a cidade no escuro.

Mas o que causou este fenômeno?

Segundo especialistas, uma frente fria com ventos marítimos, originada do sul do Brasil, trouxe uma nuvem do tipo stratus, que é mais baixa e carregada. Somado a isso, as queimadas da floresta amazônica nos estados do norte geraram uma fumaça, que foi intensificada com focos em outros países da América Latina.

O maior aumento do número de queimadas desde o início do ano se deu em cinco estados especificamente: Mato Grosso do Sul, com um crescimento de 260% em relação a 2018; Rondônia, com 198%; Pará, com 188%; Acre, com 176%; e Rio de Janeiro, com 173%.

Nas últimas 48h, até o dia 19 de agosto, o país teve 5.253 focos de queimadas detectados pelo Inpe. Já Bolívia, Peru e Paraguai seguem com 1.618, 1.166 e 465, respectivamente. No último sábado, 17, o aeroporto internacional de Viru Viru, na Bolívia, foi fechado por causa da baixa visibilidade.

‘Dia do fogo’

No último dia 10 de agosto, fazendeiros do entorno da BR-163 no sudoeste do Pará anunciaram o “dia do fogo”, revelado pelo jornal Folha do Progresso, de Novo Progresso.

Segundo a reportagem, os produtores se sentem “amparados pelas palavras do presidente” Jair Bolsonaro (PSL) e, por isso, coordenaram a queima de pasto e áreas em processo de desmate nesta data. De acordo com um dos líderes ouvidos, o objetivo é mostrar para o presidente que eles querem trabalhar.

Após o “dia do fogo”, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) registrou uma explosão de focos de incêndio em áreas próximas. O Ministério Público Estadual está investigando o caso.

Principal cidade da região, Novo Progresso teve uma alta de 300% em casos de focos de incêndio no sábado, dia 10, em comparação com o dia anterior. Foi o recorde do ano, com 124 registros, mas no domingo, 11, já pulou para 203 casos. Dessa forma, uma densa nuvem de fumaça dominou a cidade nos últimos dias.

O crescimento foi ainda maior em Altamira: de 743%, com 194 casos. Já no domingo, foram 237 ocorrências de fogo.

O aumento das queimadas no Brasil ocorre cerca de um mês depois de Bolsonaro criticar os dados divulgados no site do Inpe, relativos ao crescimento do desmatamento na Amazônia, que, como informou o sistema Deter, foi maior em junho e julho de 2019 em relação ao mesmo período de 2018.

Após reagir às declarações do presidente, o então diretor do Inpe, Ricardo Galvão, foi exonerado. Em seu lugar, foi nomeado diretor interino do instituto o militar Darcton Damião.