Roteiro do Jornalista Duro
As informações são da Folha de S.Paulo
Dia 1
Sábado, 21 de abril
11h30
Troquei minha nota de R$ 20 na estação Paulista (linha 4-amarela) do metrô. Lá se foram meus primeiros R$ 3. Depois da baldeação na República, fiz uma pausa na plataforma Barra Funda/Corinthians-Itaquera (linha 3-vermelha) para ver o mural “Como Sempre Esteve, o Amanhã Está em Nossas Mãos” (1987), de Mário Gruber (1927-2011). Afinal, a entrada já estava paga.
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12h10
Desci na praça da Sé e caminhei até o Beco do Pinto, a primeira parada oficial do roteiro. Trata-se de uma curiosa passagem para pedestres, construída na primeira metade dos anos 1800 para ligar o largo da Sé à várzea do rio Tamanduateí. Restaurado em 2011, o Beco do Pinto tem sido ocupado por instalações de artistas contemporâneos.
Naquela manhã, o Beco do Pinto recebia a instalação “Meu Chapéu Tá Lá no Alto do Céu”, de Ana Paula Oliveira, que dispôs cinco pés de jaboticaba no lugar. As árvores são regadas gota a gota por um sistema de tubulação conectado em dez bolhas gigantes de plástico transparente. “Me lembrou o hospital de árvores de um desenho do Pica-Pau”, comentou um dos visitantes, entretido com os comes e bebes da “vernissage” -um detalhe importante para quem quer sobreviver com R$ 20 ao dia.
13h27
Aproveitei a vizinhança e dei uma sapecada nas exposições da Casa da Imagem e no Solar da Marquesa de Santos. Assim como o Beco do Pinto, o lugar faz parte do Museu da Cidade de São Paulo, um conjunto de 12 sítios arquitetônicos históricos espalhados pela cidade. Todos com entrada gratuita. Confira no site www.museudacidade.sp.gov.br.
14h35
Dando sequência ao passeio pelo centro histórico, resolvi passar no Pateo do Collegio. Para ser mais preciso, no Café do Pateo, que tem uma agradável área ao ar livre com vista para o terminal Parque Dom Pedro. No entanto, o cafezinho de R$ 3,80 era inviável para o meu orçamento.
15h12
A fome apertou. Lembrei das chamadas “comedorias” do Sesc, que costumam ter um bom custo-benefício. O Sesc Consolação não estava muito longe. Apertei o passo.
15h35
Não resisti ao cartaz e fiz mais uma parada no sebo Promosampa Discos e Livros, na avenida São João, 556. LPs por R$ 2. Depois de uma garimpada rápida, encontrei uma gravação de 1960 de uma sonata para piano, violino e violoncelo do compositor Maurice Ravel, pelo clássico selo Deutsche Grammophon. Arrematei.
16h10
O almoço tardio foi embalado pelo som instrumental da banda Funkessência, que estava se apresentando, com entrada franca, em frente à comedoria do Sesc Consolação. Devorei um sanduíche de peito de peru, alface, tomate, pasta de mostarda e mel no pão “ciabatta” por R$ 5. Para acompanhar, uma garrafa de água sacada estrategicamente da mochila. Se tivesse chegado mais cedo, poderia ter aproveitado a promoção dos sábados. Até as 14h30, um prato de arroz e feijão (ou macarrão) com escalope de alcatra (ou peito de frango) com salada e suco de caixinha sai por R$ 10.
17h
Fiz a digestão até o largo do Paissandu, onde peguei um ônibus para o terminal Vila Nova Cachoeirinha, na região norte. Mais R$ 3 foram debitados no Bilhete Único.
17h35
Cheguei no Centro Cultural da Juventude, ao lado do terminal, em menos de 40 minutos. O espaço tem normalmente uma programação bem interessante e sempre com entrada gratuita. Um bom exemplo é o show da cultuada banda nova-iorquina Antibalas, uma das pioneiras no resgate do “afrobeat”, gênero difundido pelo artista nigeriano Fela Kuti nos anos 1970. Na mesma semana, eles tocaram no Cine Joia com ingresso a R$ 120. Agora, estava prestes a ver o mesmo grupo de graça.
18h
Para minha surpresa, não tive dificuldades em retirar os ingressos, mesmo chegando em cima da hora. Aos poucos, o anfiteatro de 300 lugares lotou. O Antibalas foi o melhor show do ano, até agora. Fiquei triste de não poder levar um LP deles para casa, à venda na saída por R$ 50.
19h30
Na saída, encontrei alguns amigos de carro e consegui uma carona para casa. De acordo com meus cálculos, restavam R$ 7 para gastar no Mercado, um evento gastronômico com pratos de R$ 5 a R$ 20 assinados por chefs renomados no pátio da Galeria Vermelho.
20h30
Como o evento só começava à meia-noite e estava certo de que os meus R$ 7 não dariam direito a um prato muito substancioso, aproveitei para jantar em casa e conferir minha nova aquisição, o LP do Ravel. O disco estava em ótimo estado, sem nenhum risco.
0h
Como moro perto da rua Augusta, fui a pé até a Galeria Vermelho, na rua Minas Gerais. No caminho, já era possível detectar os grupinhos de descolados que se movimentavam na avenida Paulista em direção à galeria. O tamanho da fila, que contornava a praça dos Arcos, assustava. O sucesso desproporcional ao tamanho do evento revelou a carência de opções para comer bem e barato em São Paulo.
1h
Depois de passar uma hora na fila, desisti de provar os quitutes dos chefs e me contentei com um saco de pipoca inflacionado, vendido na frente da galeria por R$ 5. “Só me faltava pegar fila pra comer depois de passar fome no Nordeste. A solução é ir pro Sujinho”, disparou Xico Sá, escritor e colunista da Folha, que passava por ali.
2h
Incrivelmente, cheguei em casa com R$ 2. Me arrependi de não ter comprado o disco “O Fino da Fossa – Volume 2”, no sebo da avenida São João. A foto da capa valia cada centavo: com olhar desolado, o ator Pereio segura um copo de uísque, amparado no balcão de um botequim.
“Fiz meu café da manhã ali: suco e um ‘mix’ de castanha, amêndoa e damasco. Deu até para reservar alguns salgadinhos para mais tarde”
“Cheguei em casa com R$ 2. Me arrependi de não ter comprado o disco ‘O Fino da Fossa – Volume 2’, no sebo da avenida São João”
Faça as contas
R$ 3Metro + R$ 2 LP do Ravel + R$ 5 Sanduíche + R$ 3 ônibus + R$ 5 pipoca
Total: R$ 18
Dia 2
Domingo, 22 de abril
10h20
As nuvens escuras que sobrevoavam a Consolação não me convenceram a cancelar o passeio de bicicleta. Montei na minha Caloi Peri e em 20 minutos estava na Sala São Paulo para conferir o projeto Concertos Matinais, com entrada franca.
10h40
Depois de deixar a magrela no estacionamento (sem pagar nada), corri para a “fila da esperança”. Pensei que ninguém encarasse um concerto às 11h, mas os ingressos já estavam esgotados desde sábado. Dei sorte e consegui entrar no último momento por conta dos desistentes.
11h
Sob regência do maestro lituano Julian Rachlin, os jovens da Orquestra Sinfônica de Heliópolis executaram o concerto në 5 para violino e a sinfonia në 35 de Mozart, e a sinfonia në 4 de Mendelssohn. Rachlin também tocou violino em uma das peças.
12h30
Depois do concerto, desembolsei R$ 3,50 num cafezinho dentro da Sala São Paulo. Estava otimista, já que do dia anterior restaram R$ 2.
13h
Como era domingo, entrei com minha bicicleta na estação da Luz (linha 1-azul) e fui até a estação Armênia. Aos fins de semana, bicicletas podem viajar no último vagão do trem a partir das 14h, aos sábados, e o dia inteiro, aos domingos. Durante a semana, somente depois das 20h. O preço é o mesmo, R$ 3.
13h30
A cerca de dez minutos a pé da estação Armênia fica a Kantuta, uma divertida feira boliviana de rua, que acontece todos os domingos na altura do número 600 da rua Pedro Vicente, no Pari. Deixei a magrela no bicicletário do metrô e mergulhei no universo folclórico da feira.
14h
Fiz uma pausa para o almoço numa barraquinha de saltenhas bolivianas. Provei uma de frango (R$ 3,50) e uma “puka capa” (R$ 3), de queijo e pimenta. Para acompanhar, tomei um “moconchinchi”, um suco de pêssego desidratado, canela e muito açúcar.
“As saltenhas bolivianas precisam ser degustadas com o auxílio de uma colher, pois levam muito molho dentro”
15h
Depois de fazer um passeio pelas bancadas de artesanatos e alimentos (comprei uma pimenta em pó por R$ 1) e até mesmo por uma “peluqueria” ambulante (um corte de cabelo custa R$ 8), parei para jogar uma partida de “canchita”, nosso pebolim ou totó. A partida sai por R$ 0,50 e dá direito a cinco bolinhas. Foi o melhor investimento do dia -ganhamos de 5 a 0.
16h40
Deixei mais R$ 3 no metrô e desci na estação São Bento (linha 1-azul). Se não fosse um atraso no metrô, que estava circulando com pausas entre as estações, chegaria a tempo para o começo da sessão de “O Portal do Paraíso” (1980), de Michael Cimino, no Cine Olido, dentro da mostra “Clássicos Reencontrados”.
17h15
Entrei atrasado na sessão do Cine Olido. Desembolsei meu derradeiro R$ 1 e me acomodei confortavelmente na poltrona, segurando à guisa de pipoca meu saquinho de castanhas remanescentes da “vernissage” do dia anterior. Descobri que o filme, em inglês, não era legendado. Paciência.
“Terminou meu parco orçamento e também minha odisseia pela cidade, que provou ser generosa em suas ofertas de cultura e lazer, desde que você esteja bem alimentado, organizado e garanta a locomoção”
Faça as contas
R$ 3,50 café + R$ 3 metrô + R$ 1 pimenta + R$ 6,50 saltenhas + R$ 1,50 suco + R$ 3 metrô + R$ 0,50 pebolim + R$ 1 cinema
TOTAL: R$ 18
VÁ LÁ
BECO DO PINTO
R. Roberto Simonsen, s/nº, centro, próximo à estação Sé, tel. 3106-5122. Ter. a dom.: 9h às 17h. Grátis.
SESC CONSOLAÇÃO
R. Dr. Vila Nova, 245, Consolação, região central, tel. 3234-3000. Seg. a sex.: 7h às 22h. Sáb. e fer. (exceto domingo): 9h às 18h.
CENTRO CULTURAL DA JUVENTUDE RUTH CARDOSO
Av. Deputado Emílio Carlos, 3.641, Vila Nova Cachoeirinha, região norte, ao lado do terminal Cachoeirinha, tel. 3984-2466. Ter. a sáb.: 10h às 20h. Dom. e fer.: 10h às 18h.
SALA SÃO PAULO
FEIRA KANTUTA
Pça. Kantuta, na altura do número 625 da rua Pedro Vicente, Pari, região central, perto da estação Armênia. Dom.: 11h às 19h.
CINE OLIDO