Selo Ferina estreia com conselho editorial exclusivo de mulheres

Por Jéssica Balbino

Selo Ferina, criado pela escritora Jarid Arraes e pela editora Lizandra Magon de Almeida, chega ao mercado literário no próximo mês de julho com dois grandes lançamentos: o primeiro livro de poemas de Jarid Arraes, intitulado “Um buraco com meu nome”, com ilustrações a carvão feitas pela própria autora, e a coletânea de contos do projeto #leiamulheres, com textos de jovens autoras de todo o país, incluindo várias mediadoras do projeto pelo Brasil.

Selo Ferina

A editora dá um show de representatividade ao criar um selo composto por mulheres negras, nordestinas, indígenas, imigrantes, gordas e idosas.

“Já tínhamos trabalhado juntas no livro ‘Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis’, que vendeu mais de 5.000 exemplares em seis meses. Eu ainda não tinha me aventurado realmente no mercado literário, mas vinha flertando com a poesia em títulos como a Coleção Palavra de Mãe, vencedora do Proac em 2015, e com uma singela coleção artesanal chamada ‘Mulheres de Verdades’, que saiu com quatro títulos em pequeníssimas tiragens, vendidos apenas em feiras. Depois vieram os cordéis do ‘Heroínas’. Vinha conversando com a Jarid sobre o livro dela de poemas, pensando em como trazê-lo para a Pólen. E então surgiu a ideia de criarmos juntas esse novo selo, com a curadoria da Jarid e a estrutura da Pólen”, destaca Lizandra.

E como tudo na Pólen é feito à base de muita troca e de muita parceria – com autores e autoras, outras editoras e amigos do mundo editorial e da comunicação em geral, o que se materializou ano passado na Flip com a Casa da Porta Amarela, entre outras iniciativas – ficou decidido que o selo precisava contar com o conselho editorial “dos sonhos”, o mais diverso que fosse possível reunir. Um verdadeiro Conselho de Mulheres Sábias.

“Ao longo dos anos fomos observando o surgimento de várias editoras e selos, muitas comandadas por mulheres, mas poucas com a representatividade que buscamos, ou seja, com mulheres negras, indígenas, asiáticas, LBTs, etc. A proposta de criar o Ferina é justamente a de viabilizar publicações que estejam nesse contexto e colocar no mercado literário livros excelentes feitos por pessoas que não encontram o espaço merecido”, reforça Jarid Arraes.

Para a curadora, o selo Ferina vem para afirmar e praticar o que não apenas ela, mas outras mulheres acreditam: “que a literatura é sempre política e que ter consciência disso faz toda a diferença. E sabemos que é possível criar com real pluralidade de perspectivas e que mulheres são diversas. Essa diversidade vai ser refletida nas nossas publicações, nos nossos eventos e discussões”, comenta.

A autora também reforça a importância da curadoria feita por uma mulher que conhece as dificuldades do mercado editorial. “Fico especialmente feliz por ser curadora da Ferina e ter a oportunidade de fazer diferença ajudando a abrir caminhos para mulheres incríveis que serão publicadas e terão real atenção de uma editora. Muitas editoras negligenciam o trabalho de autoras consideradas ‘menores’, vi muitas amigas passando por situações assim, sobretudo quando questões raciais ou regionais, por exemplo, entram na situação. Vou colocar todo meu conhecimento e meu sucesso alavancando sozinha a minha própria carreira para construir algo diferente. Minha lógica sempre foi a de cooperar e levantar parcerias com outras mulheres e agora posso fazer isso com uma editora que tem o mesmo propósito. A Ferina nasce disso e é sobre isso.”

O que vem por aí

O selo Ferina começa com duas publicações, cujos lançamentos estão previstos para acontecer durante a Flip 2018.

Um buraco com meu nome

O livro de Jarid Arraes é dividido em quatro capítulos – chamados de “selvageria”, “fera”, “corpo aberto” e “caverna” – que mostram uma nova vertente da escritora, já conhecida pela publicação de cordéis, especialmente os do livro “Heroínas Negras Brasileiras em 15 cordéis”, publicado em 2017 pela Pólen Livros.

Nascida em Juazeiro do Norte, na região do Cariri (CE), em 12 de fevereiro de 1991, Jarid Arraes também é autora do livro As Lendas de Dandara”, pela Editora de Cultura, e de mais de 60 títulos de Literatura de Cordel, que já venderam mais de 50 mil exemplares on-line nos últimos quatro anos. Filha e neta de cordelistas, Jarid subverte a forma da poesia tradicional do cordel para discutir os temas como questões de gênero, racismo, machismo e outras questões atuais.

Coletânea de contos #leiamulheres

A partir de uma seleção das criadoras do Leia Mulheres Juliana Gomes, Michelle Henriques e Juliana Leuenroth, 21 textos de jovens autoras de todo o Brasil serão reunidos nesta coletânea, que surgiu a partir do clube de leitura #leiamulheres. Entre as autoras estão moderadoras do clube em sedes regionais, autoras convidadas e trabalhos vencedores das edições 2017 e 2018 do concurso da Sweek Brasil. O clube de leitura existe no Brasil desde 2014 e mobiliza milhares de leitoras mensalmente em torno de títulos publicados por mulheres. São 75 núcleos em cidades de quase todos os Estados brasileiros.

Conheça “O Conselho das Mulheres Sábias”

  1. Cidinha da Silva é mineira. Prosadora e dramaturga, tem 14 livros autorais de literatura distribuídos entre crônicas, conto e romance. Organizou duas obras fundamentais para o pensamento sobre as relações raciais contemporâneas no Brasil, a primeira, Ações afirmativas em educação: experiências brasileiras (Summus, 2003); a segunda, Africanidades e relações raciais: insumos para políticas públicas na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas no Brasil (FCP, 2014). Seus livros mais recentes são: Um Exu em Nova York (contos); O homem azul do deserto (crônicas) e Pílulas de letramento racial, volume 1 (ensaios curtos). Tem textos publicados em francês, espanhol, italiano e inglês.
  1. Estela Rosa é escritora, poeta e caipira, formada em Letras pela UFRJ. É curadora e organizadora de eventos na iniciativa Mulheres que Escrevem, que promove encontros sobre mulheres escritoras das mais diferentes vertentes, além de lançamentos de livros e projetos culturais. Esteve entre os três primeiros lugares na categoria poesia do Prêmio Off Flip de Literatura 2017. Teve poemas publicados na revista Grampo Canoa, da Luna Parque Edições, na revista Oceânica e na revista gueto, além de ter participado da exposição “Cartas de Mabel Velloso”, no Oi Futuro.
  1. Heloisa Buarque de Hollanda nasceu em Ribeirão Preto (SP), em 26 de julho de 1939. Formou-se em Letras Clássicas pela PUC-Rio, com mestrado e doutorado em Literatura Brasileira na UFRJ e pós-doutorado em Sociologia da Cultura na Universidade de Columbia, em Nova York. É diretora do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC/LETRAS/UFRJ), onde coordenada os laboratórios: Laboratório de Tecnologias Sociais onde desenvolve o projeto Universidade das Quebradas e do Laboratório da Palavra, espaço experimental de articulação entre tecnologia e as expressões e práticas da palavra. 
  1. Jaqueline Gomes de Jesus é professora de Psicologia do Instituto Federal do Rio de Janeiro. Coordenou o Curso de Extensão “Feministas nas Trincheiras da Resistências”. Doutora em Psicologia Social e do Trabalho pela Universidade de Brasília, com pós-doutorado pela Escola Superior de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro. É autora e organizadora de livros como “Transfeminismo: Teorias e Práticas”, entre dezenas de outras publicações.
  1. Jessica Balbino é jornalista e assessora de imprensa especializada em literatura, editora do site Margens, que foi premiado pelo Governo do Estado de Minas Gerais. Em sua dissertação de mestrado pela Unicamp, discutiu a presença das mulheres na literatura marginal/periférica. Faz a curadoria de eventos literários para o Festival Literário Internacional de Poços de Caldas (Flipoços), Sesc MG e SP e Itaú Cultural.
  1. Juliana Gomes (Juju) é livreira, formada em marketing e especializada em negócios editoriais. Uma das criadoras e co-coordenadora do projeto Leia Mulheres. Já trabalhou em editoras como Cosac Naify e na Livraria da Vila. Hoje está na Morro Branco, especializada em ficção científica e fantasia.
  1. Márcia Wayna Kambeba, indígena do povo Omágua/Kambeba, mestra em Geografia, professora, escritora, poeta, compositora, cantora, palestrante, fotógrafa, locutora, contadora de histórias. Nascida na aldeia Belém do Solimões, do povo Tikuna, no Amazonas.
  1. Neide A. de Almeida é socióloga, mestre em Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas, pela PUC-SP. Autora de artigos, de materiais didáticos e de apoio, especialmente destinados a educadores e professores. Escritora e poeta. Docente e pesquisadora, na área de leitura e literatura. Atualmente coordena o Núcleo de Educação do Museu Afro Brasil, em São Paulo, e é consultora na área de livro, leitura, literatura, bibliotecas e relações étnico-raciais.
  1. Raquel Matsushita é designer, ilustradora e autora. Escreveu “Mínimo, múltiplo, comum” (Sesi-SP Editora), livro de contos e “Fundamentos gráficos para um design consciente (Musa Editora), além de cinco livros infantis. Foi premiada com dois Jabutis e com o prêmio da Biblioteca Nacional, entre outros. Formou-se em Publicidade e Propaganda e se especializou em design gráfico, cor e tipografia na School of Visual Arts, de Nova York. Sócia do escritório Entrelinha Design.
  1. Simony Cristina dos Anjos formou-se em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Paulo (2011) e, durante a graduação, desenvolveu pesquisas na área do ensino de sociologia em uma perspectiva antropológica. Atualmente, é mestranda da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, tendo como enfoque de pesquisa a relação entre Antropologia, Educação e a prática etnográfica no campo educacional. É colaboradora do site Justificando, como colunista da área de Gênero e Religião.
  1. Valentina Fraiz é ilustradora e designer gráfica. Filha de uma aquarelista, nasceu na Venezuela e radicou-se no Brasil. Mora em Pirenópolis, com suas duas filhas e cheia de bichos em volta, e produz suas ilustrações fortemente influenciadas pela figura feminina e elementos da natureza em seu estúdio montado ao lado de um pomar.
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