Parem de sexualizar crianças: vídeo comenta livros ‘para menina’
Louie Ponto é mestranda em crítica feminista e youtuber. Em um vídeo recente, publicado pela página do Quebrando o Tabu, ela faz um alerta sobre os livros infantojuvenis vendidos como sendo “para meninas”. Com mais de 1,6 milhão de visualizações e 20 mil reações, o vídeo é uma verdadeira súplica aos pais, professores, educadores e à sociedade como um todo: parem de sexualizar as crianças.
Afinal, a quem serve essa classificação de livros tidos como femininos? Que mensagem transmitimos às meninas quando oferecemos a elas histórias que as posicionam como o sexo frágil à espera do garoto ideal?
No vídeo, ela relembra dois livros – “Coisas que toda menina precisa saber” e “Coisas que toda garota deve saber sobre garotos”, de Samantha Rugen, publicado e reeditado no Brasil pela editora Melhoramentos – que ganhou de presente aos doze anos, e os analisa sob uma perspectiva de gênero.
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Ela explica que, apesar de as publicações terem também um foco educativo, ao educar sobre primeira menstruação, TPM e outros temas comuns a pré-adolescentes, o que impera é o estereótipo do cabelo perfeito e da idealização do corpo. Um dos capítulos que ela avalia se chama “Seu maravilhoso corpo”.
“Eles não nascem, mas nós sabemos que nosso assunto preferido não é a lição de inglês, mas, sim, os garotos”, diz um trecho do livro que ela compartilha no vídeo.
É preciso considerar que as publicações em questão não são recentes (as primeiras edições são dos anos 90) e que o mercado editorial infantil e infantojuvenil tem feito esforços para oferecer livros capazes de empoderar meninas e meninos. Porém, a reflexão que eles suscitam é sim atual, visto que a desigualdade entre os gêneros ainda é latente em nossa sociedade.
“Mais uma vez, a gente cai nessa ideia de que mulheres só se interessam e só devem se preocupar com roupa, cabelo, maquiagem corpo. ‘Mas qual qual o problema disso tudo? Tem mulheres que gostam dessas coisas’. Sem dúvida nenhuma, porque a gente aprende a seguir esse tipo de comportamento desde que a gente nasce”, problematiza Louie.
Para ela, o problema não está em se interessar por esses assuntos, e sim quando os referenciais oferecidos às meninas as levam a pensar que só existe esse padrão.
“A gente precisa pensar sobre os motivos que nos levam a seguir esses padrões e até certos gostos, porque eu tenho certeza que você não nasceu gostando de passar rímer e tirar a sobrancelha”, ressalta.
Mais do que isso, segundo ela, é preciso pensar nas consequências que a obsessão por se encaixar em um padrão muitas vezes inalcansável pode ter sobre meninas e meninos.
“Muitas adolescentes e muitas mulheres adultos têm problema de autoestima, tem problema com o próprio corpo, tem distúrbios alimentares. (…) A gente aprende que nunca é suficiente, não só esteticamente, mas também emocionalmente”.
Louie pondera que toda essa pressão precoce por se encaixar em modelos pré-estabelecidos de feminilidade recai principalmente sobre as meninas, mas, de uma forma geral, atinge a infância em geral, já que a sociedade sexualiza as crianças.
“Muitas vezes, a gente reproduz discursos e atitudes sem pensar, porque a gente nasce e é educado nesse contexto machista, heteronormativo, preconceituoso, excludente, violento e várias outras coisas. Não tem como sair ileso dessa socialização, e por isso a gente precisa rever e questionar pensamentos e atitudes”, defende a youtuber. Assista ao vídeo completo:
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