Quem escuta a mãe? Precisamos falar sobre a solidão materna
“Quase nenhuma mulher, atualmente, está preparada de verdade para o que significa a maternidade”.
A fala acima veio da mãe e feminista Cila Santos, e está no texto “Danço eu, dança você, dança da solidão“, que ela publicou no site colaborativo Medium para começar uma reflexão que parece nunca ter fim: de onde vem a solidão materna?
O imaginário social em torno da maternidade, por ser fortemente influenciado pelo que diz a publicidade dirigida à mulher, está coberto de falsas idealizações. Depois de parir, é comum que a mulher se sinta desamparada, principalmente por não conseguir corresponder a este ideal de mãe propagado socialmente. A solidão é consequência disso, e é disso que Cila fala em seu texto.
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“É estranho falar sobre solidão na maternidade. Estranho até explicar. Como é que num momento em que a vida da mulher está literalmente preenchida em todos os momentos é possível se sentir tão só?”, questiona.
Cila ressalta a romantização da “mãe perfeita” e destaca a culpa que muitas mulheres sentem ao confessar que se sentem desestabilizadas emocionalmente, fisicamente desconfortáveis e psiquicamente abaladas.
“Gestantes não podem se sentir mal e reclamar da dor física, da confusão emocional, do desconforto, do desequilíbrio psicológico, do medo, e da fragilidade que uma gestação traz, afinal “está carregando um milagre”. A quem uma mulher-mãe consegue dizer “eu não gosto de estar de estar grávida”? ou “eu não estou feliz por ser mãe”? ou simplesmente “estou com medo”. Que mulher não sente culpa por se sentir assim?”
O texto aponta uma consequência comum dessas transformações internas que a mulher vivencia depois de se tornar mãe: o afastamento das pessoas. Em meio a tudo isso, as relações com os amigos, com a família e o companheiro.
“Com quem conversar? Amigos sem filhos se afastam ou simplesmente não compreendem como é o novo mundo daquela mulher e o abismo entre as realidades muitas vezes causa afastamento emocional ressentido. A família, na expectativa de ajudar, pode acabar atropelando a autonomia da mãe e igualmente lhe nega o direito de se sentir infeliz ou confusa ou angustiada com a maternidade. O pai da criança, quando ainda está lá, via de regra, se faz apenas de corpo presente, não assumindo sua parte na responsabilidade dos cuidados com os filhos e a casa”.
Textos como este são cada vez mais frequentes e reacendem a discussão sobre a importância de acolher as mulheres, praticar o afeto e evitar os julgamentos tantas vezes infundados. Mais do que tudo, o apelo de Cila e de muitas mulheres é por respeito pelas escolhas individuais e pelo livre exercício da maternidade como quer que ela seja.
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