Supermercados culpam população pelo aumento no preço do arroz

Além do aumento da demanda, a APAS afirma que a elevação nos preços é consequência da “pressão internacional sobre as commodities” e da “alta do dólar”.

Indispensável na mesa do brasileiro, o arroz está virando artigo de luxo na mesa de muitas famílias brasileiras. O preço do alimento, que já está nas alturas, deve subir ainda mais. E a culpa, segundo a Apas (Associação Paulista de Supermercados), é da própria população.

Em entrevista à Folha, o presidente da instituição, Ronaldo dos Santos, afirmou que o povo estaria consumindo demais, o que seria um dos fatores para a subida do preço.

Depois de ter aumentado 19% somente este ano, o preço do arroz pode subir ainda mais
Créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Depois de ter aumentado 19% somente este ano, o preço do arroz pode subir ainda mais

Relatos nas redes sociais apontam que um pacote de cinco quilos de arroz, normalmente vendido a cerca de R$ 15, agora chega a custar R$ 40 nas gôndolas dos supermercados. Ronaldo nega que “tem gente comprando pacote de R$ 40”, e afirma que a média do produtos é R$ 20.

O dirigente da associação de supermercados diz ainda que, se o consumo não diminuir, o varejo terá de acessar novos estoques e um repasse às gôndolas seria inevitável.

Após a publicação da reportagem, a APAS enviou uma nota ressaltando “que a elevação nos preços é consequência de uma conjuntura macroeconômica que envolveu três principais fatores: pressão internacional sobre as commodities, aumento da demanda e alta do dólar, que impacta todos os elos da cadeia.  Note que o aumento do consumo não é isolado e nem determinante, conforme a matéria do Catraca Livre leva o leitor a entender. Leia a íntegra da nota mais abaixo.

De acordo com dados do IPCA (Índice de Preços para o Consumidor Amplo) de agosto, divulgado na quarta-feira, 9, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o arroz registrou valorização de 19,2% no ano.

Em 12 meses, a alta do preço do arroz chega a 100%, segundo levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP.

Tabelamento do preço do arroz

Ontem, o representante dos supermercadistas participou de reunião com integrantes da Secretaria de Agricultura de São Paulo, da cadeia produtiva de alimentos e com o Procon-SP, que vai fiscalizar a disparada nos preços de produtos da cesta básica.

Ronaldo dos Santos diz que é unânime entre os supermercadistas a opinião de que não deve haver qualquer tipo de tabelamento de preço e acenou com a possibilidade do desabastecimento se forem criadas o que ele chama de “regras artificiais”.

Dólar e auxílio emergencial

A previsão não é nada otimista para os próximos meses. Como estamos na entressafra, os preços tendem a continuar a subindo até o início de 2021.

Especialistas apontam a alta do dólar e o auxílio emergencial como responsáveis pela escalada de preços do produto.

Com a moeda americana muito valorizada em relação ao real, a venda ao exterior se torna uma forte concorrente do mercado interno, já que é mais vantajoso vender o produto lá fora. Como consequência, a oferta interna da mercadoria diminuiu.

Na outra ponta está o auxílio emergencial, que injetou milhares de reais na economia brasileira nos últimos meses, garantindo recursos para famílias. Com a alta na procura, os preços tendem a subir.

Outro fator destacado é a safra de arroz menor neste ano, ao mesmo tempo em que a procura no país pelo produto cresceu durante a pandemia.

A queda na quantidade de arroz armazenado entre uma safra e outra também tem contribuindo para o aumento de preços. Há uma década, o volume de arroz guardado na entressafra era de 2.500 toneladas, índice que caiu 80%, para 500 toneladas na temporada atual, segundo dados do IRGA (Instituto Rio-grandense do Arroz).

Governo diz que não haverá desabastecimento

Na quarta,  a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou que não vai faltar arroz no mercado. “O arroz não vai faltar. Agora ele está alto, mas nós vamos fazer ele baixar, se Deus quiser vamos ter uma supersafra no ano que vem”, declarou.

Em entrevista à CNN Brasil, a ministra também disse que o governo não fará nenhum tipo de intervenção nos preços dos principais alimentos da cesta básica brasileira, como arroz, feijão, leite e óleo de soja –produtos que têm apresentado forte inflação nas últimas semanas.

“Estamos vivendo uma situação de transição, é uma questão pontual e que vai passar. O governo não vai fazer nenhuma intervenção em preços de mercado, o que estamos fazendo é monitoramento constante”.

Patriotismo

Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pediu “patriotismo” aos supermercados para segurar os preços de itens da cesta básica. “Estou pedindo um sacrifício, patriotismo para os grandes donos de supermercados para manter na menor margem de lucro”.

Nota da APAS

Diferente do que foi publicado na matéria ‘Supermercados culpam população pelo aumento no preço do arroz’, o presidente da Associação Paulista de Supermercados (APAS), em entrevista para a Folha de S. Paulo, ressaltou que a elevação nos preços é consequência de uma conjuntura macroeconômica que envolveu três principais fatores: pressão internacional sobre as commodities, aumento da demanda e alta do dólar, que impacta todos os elos da cadeia.  Note que o aumento do consumo não é isolado e nem determinante, conforme a matéria do Catraca Livre leva o leitor a entender.

A APAS fica à disposição para conversar sobre o tema e já explica que a razão do aumento teve diversas causas e explica o que motivou a pedir aos seus associados para comprarem somente o necessário para repor o estoque, bem como os motivos que estão levando alguns de seus supermercados associados a restringir a quantidade da venda de itens da cesta básica por consumidor.

Uma série de fatores tornaram o arroz o produto com um dos maiores aumentos no ano. O primeiro deles vem da Índia, maior exportador, que teve dificuldades logísticas e de colheita diante de seus recordes diários de mortes e casos de Covid-19. O mesmo aconteceu em países como Vietnã e Tailândia. Por conta disso, o Brasil, 11º exportador de mundial de arroz, acabou sendo um atrativo para os estrangeiros, uma vez que o real está em baixa, o que torna o produto ainda mais atrativo aos países importadores. Soma-se a isso o auxílio emergencial, que incentivou o consumo de itens da cesta básica, como o arroz, instigando a demanda – O que segundo a APAS não afeta de forma isolada o preço, mas sim soma-se na conjuntura com os demais fatores.

Por fim, o valor da saca de arroz em casca no campo teve no acumulado de 107% no ano. Embora o Governo Federal tenha acatado a solicitação do setor supermercadista para que a alíquota de importação fosse zerada durante a pandemia, isso não garante que o preço do arroz recuará num futuro próximo. Bem como, não é possível afirmar que o aumento nos preços, por parte dos fornecedores de alimento, já tenha chegado ao auge”.