Tenor desabafa após ter nome vetado para não desagradar Bolsonaro

Jean William teve o nome alterado por causa da similaridade com a identidade do deputado federal Jean Wyllys, desafeto pessoal do presidente eleito

09/11/2018 17:18

O tenor Jean William teve o nome alterado para não desagradar Jair Bolsonaro em evento no Senado por causa da similaridade com o de Jean Wyllys
O tenor Jean William teve o nome alterado para não desagradar Jair Bolsonaro em evento no Senado por causa da similaridade com o de Jean Wyllys - Reprodução/Facebook

O que era para ser mais uma apresentação importante no pomposo currículo do tenor brasileiro Jean William, que na última terça-feira, 6, foi escolhido para cantar o Hino Nacional no Congresso em um evento que celebrou o aniversário da Constituição Brasileira, acabou se transformando em um bafafá, após o artista ter seu nome alterado na hora de apresentá-lo, em um gesto que visou não desagradar o presidente eleito, Jair Bolsonaro, que marcou presença na cerimônia.

Na ocasião, os organizadores do evento no Senado subtraíram o “William” do nome do tenor, e anunciaram-no apenas como “Jean Silva”. O “cuidado especial” teve como intento não provocar qualquer confusão com a identidade do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) desafeto pessoal de Bolsonaro.

Baixado um pouco a poeira, Jean William utilizou seu perfil nas redes sociais para comentar o caso, em tom de desabafo, ressaltar o orgulho que tem de sua profissão, em ser “ARTISTA”, e dizer, mais uma vez, que ainda não compreendeu o porquê da alteração, mas reiterou afirmando que sempre foi “conhecido e chamado de Jean William: nos festivais dos quais participei no início da carreira; nas turnês pelo Brasil e nas apresentações no exterior […] No álbum que lancei em 2014; nas minhas redes sociais; em casa; entre amigos”.

“Aos que não me conhecem, muito prazer. Meu nome é Jean William, sou tenor e brasileiro. Desde a infância, que não foi lá muito fácil, tenho paixão pela música. E foi aqui, neste país, que consegui realizar o sonho de estudar, me formar, construir minha carreira e ser reconhecido como músico”, diz ele, que é formado pela Universidade de São Paulo, e já se apresentou para o Papa Francisco, na vinda do pontífice ao Brasil, cantou em Mônaco para o Príncipe local e performou no palco do Lincoln Center, em Nova Iorque, nos Estados Unidos.

Em relação à cerimônia em celebração à Constituição, o músico disse: “cantei a plenos pulmões para honrar a jovem Constituição Federal, em nome da Cidadania. Na mesa composta por Presidentes de todos os poderes, além do presidente eleito, lá estava eu, sendo a cara do Brasil, de brancos, negros, índios, asiáticos, no meu ofício de ARTISTA, honrando o meu país que é institucionalizado no regime de democracia, que nos permite conviver com as divergências com respeito e ordem”.

Por fim, ele completa: ”Vivemos um momento muito delicado no país e dadas as devidas ponderações é também um momento em que prefiro apenas reiterar que o meu nome é Jean William. Muito prazer”.

Sobre o assunto, a assessoria de imprensa do Senado informou que a secretaria-geral da mesa, que encaminhou a cerimônia, “optou pela praxe de usar o primeiro e o último nomes de autoridades e convidados”.

https://www.facebook.com/jean.william.12/posts/10218073623376522

Desafetos

Jair Bolsonaro e Jean Wyllys são desafetos político
Jair Bolsonaro e Jean Wyllys são desafetos político - Reprodução/Fotomontagem

Ex-colegas de bancada na Câmara dos Deputados, Jair Bolsonaro (PSL) e Jean Wyllys (PSOL) já protagonizaram discussões acaloradas por divergirem em suas respectivas ideologias.

Homossexual assumido, Jean já declarou várias vezes ter sido vítima de homofobia pelo futuro presidente do país, conhecido por suas declarações vistas como homofóbicas.

O momento de tensão mais evidente entre os dois políticos deu-se no dia da votação pela abertura do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 17 de abril de 2016, quando, na ocasião, o parlamentar do PSOL chegou a cuspir na cara de Bolsonaro que, antes, havia insultado Jean.

“Nós estamos numa votação. Eu tenho direito político de fazer o voto que eu quero. Durante toda a votação eu não intervi no voto de ninguém. Não fui lá insultar ninguém. E, na hora que fui votar, esse canalha veio me insultar na saída e tentar agarrar meu braço, ele ou alguém que estivesse perto dele. Quando vi o insulto, devolvi cuspindo na cara dele, que é o que ele merece”, declarou o deputado na época.