Traída, jovem pede fim do relacionamento e é agredida em Caxias
"Eu sabia que morreria se fizesse silêncio", revelou jovem agredida por ex-companheiro em Caxias do Sul (RS)
Vítima de violência doméstica no último dia 15 de abril em Caxias do Sul (RS), Jéssica Piel de Oliveira, 27 anos, usou as redes sociais, recentemente, para denunciar o médico Guido Luiz Gehrke, ex-companheiro.
Viviam juntos há um ano e quatro meses quando descobriu que ele a estava traindo. Foi quando a jovem se manifestou sobre o fim do relacionamento e, para sua surpresa, conheceu também o lado violento de Guido. “Discutimos, mas ele pediu desculpas e combinamos que retomaríamos nossa vida normal no dia seguinte. Fomos ambos trabalhar normalmente, mas, quando voltei para casa, estava decidida a terminar. Não aceitando o rompimento da nossa relação, ele deu início às agressões físicas. Acredito que os vizinhos escutaram e preferiram não intervir. Senti medo, pânico e certeza de que ele me mataria”, contou a vítima.
Socorrida por familiares, Jéssica foi levada ao hospital para receber os primeiros socorros. Ele, após as agressões, fugiu. “Resolvi denunciar porque eu sabia que ele tentaria me calar com dinheiro, poderia arruinar minha vida profissional ou mandar alguém me matar. Ele sempre foi uma pessoa com muita influência, sempre conseguiu tudo o que queria com dinheiro”, afirmou.
Com um corte profundo no pescoço, Jéssica levou cinco pontos no rosto. Apresentava também hematomas por todo o corpo. Registrado como lesão corporal, Jéssica espera, entretanto, que a agressão seja enquadrada com tentativa de feminicídio.
Em entrevista à repórter Mariana Gonzales, do Uol, Jéssica revela que nunca imaginou tal atitude do ex. “A nossa relação era boa, mas ele era uma pessoa controladora, ciumenta, possessiva, mas nunca achei que se tornaria alguém agressivo a esse ponto. Sempre achei que o ciúme era insegurança dele por eu ser 18 anos mais nova”, disse a jovem.
Com o caso revelado nas redes sociais, Jéssica recebeu o apoio de amigos, mulheres e, com a repercussão, descobriu outras vítimas do médico.“Depois que postei a primeira foto mostrando as agressões, comecei a receber relatos de várias outras mulheres, vítimas dele, narrando situações que aconteceram e não foram denunciadas. Infelizmente ter dinheiro, uma profissão respeitável e contatos influentes poderia ser o suficiente para fazer mais um ato cruel desaparecer”.
Segundo ela, Guido havia se livrado de outras quatro acusações, todas elas mediante coerção das vítimas. “Elas, por medo, nunca denunciaram. Mas eu sabia que morreria se fizesse silêncio”.
EM TRÊS SEMANAS, 107 FEMINICÍDIOS SÃO REGISTRADOS NO PAÍS
Recomeço
Vítima da cultura machista que, todos os dias, faz vítimas no Brasil, Jéssica tenta recomeçar a vida – sempre alerta – ao lado da filha de quatro anos. “Não saio mais sozinha, estou sempre alerta. Aviso às pessoas de confiança para onde vou e quanto tempo pretendo demorar. Depois de ter passado por isso, essa dor não vai se apagar.”
Ainda em liberdade, ela procurou a delegacia da Mulher após as agressões em busca de proteção. “A violência doméstica está em todos os lugares, em todas as classes sociais, em todos os grupos, ninguém, nem uma mulher está livre disso. Não tem um perfil de agressor, tanto pessoa com escolaridade “rico”, como sem escolaridade “pobre”, não tem uma regra. Eu vou gritar e tentarei ajudar as outras vítimas mulheres dele que não denunciaram”.
Outro lado
Em nota, o advogado de Guido Luiz Gehrke Júnior afirma que o seu cliente é a verdadeira vítima. Em comunicado alega que seu cliente sofreu risco de vida. “Guido foi agredido com um bastão de hóquei que somente não pôs em risco sua vida por não ter atingido áreas letais”.