Vaquinha quer comprar máquinas de costura a mães com HIV no Quênia

O projeto Hope Designers ensina técnicas de costura e de administração para mulheres com HIV no país

11/03/2020 18:24

O projeto só tem cinco máquinas de costura para 21 mulheres
O projeto só tem cinco máquinas de costura para 21 mulheres - Marina Pedroso

O Quênia tem um dos maiores índices de pessoas com HIV da África e quem mais mais sofre são as mulheres. Ao chegar no país durante sua viagem de volta ao mundo, a jornalista brasileira Marina Pedroso conheceu um grupo de mães na favela de Manyatta, em Kisumu, que vivem com AIDs, e decidiu ajudá-las de alguma forma.

Segundo a jornalista, muitas mulheres ficaram viúvas após seus maridos contraírem a doença e morrerem. Por isso, elas passam a cuidar dos filhos sozinhas e sem qualquer fonte de renda. Mas, o projeto Hope Designers, da Kar Geno, o qual a jornalista é voluntária, ensina desde 2015 técnicas de costura e de administração para que essas mães possam criar e vender roupas, bolsas e acessórios, para, depois de formadas, tentar abrir seu próprio negócio.

No entanto, a iniciativa só tem cinco máquinas de costura para 21 mulheres, além de faltarem materiais básicos, como tesouras e tecidos. A situação do projeto faz com que as participantes revezem entre si, mas isso limita o trabalho.

Ao ter contato com o projeto, Marina decidiu criar uma vaquinha virtual para arrecadar doações e comprar máquinas de costura para as mães do Hope Designers. “Essas mulheres são vulneráveis e vem de um histórico de dependência financeira e abuso, mas são capazes e resilientes — só precisam da oportunidade”, ressalta na descrição da campanha.

De acordo com a voluntária, se o número de máquinas de costura aumentar, todas poderão produzir, a escala de produtos aumentará e, consequentemente, a possibilidade de venda.

“Não só a fonte de renda delas aumenta, como mais mulheres e famílias podem ser abarcadas pelo projeto também. O número de beneficiadas pode subir de 21 para 150 em dez anos e, considerando as famílias de 6 a 8 pessoas que sustentam, o impacto pode chegar em centenas de mulheres e crianças”, explica.

A campanha de financiamento coletivo tem como meta arrecadar R$ 17 mil, pois cada máquina custa em torno de R$ 830. Até a publicação desta reportagem, a vaquinha reuniu R$ 4.410. Quer ajudar com qualquer valor? Clique aqui!

HIV no Quênia

No Quênia, há duas mulheres para cada homem no quadro populacional. Em 2010, foi criada uma lei constitucional que passou a permitir o casamento poligâmico aos homens. Desta forma, é culturalmente aceitável que as mulheres tenham um homem só, mas que eles se relacionam com várias.

Ou seja, no país com 6% de toda sua população diagnosticada com HIV positivo, a proporção de homens que infectam suas esposas é muito maior do que o contrário. Como as mulheres ficam responsáveis pelos filhos, vão ao hospital com mais frequência do que homens e torna-se mais fácil mapear aquelas com HIV para iniciar o tratamento nas fases iniciais da doença.

A maioria dos homens, por outro lado, foge do teste e só vai tentar se tratar na fase terminal. O resultado disso é preocupante: é extremamente comum encontrar mães infectadas e viúvas.

Uma vez descobertas com a doença, elas são demitidas e dificilmente conseguem outro emprego. Há uma séria discriminação por trás disso – supostamente, elas “não têm futuro na empresa porque simplesmente não têm futuro, vão morrer logo”.

A situação é ainda pior entre as mulheres periféricas e rurais – com menos acesso à educação, compõem 80% do mercado informal, que não garante a entrada a um sistema de saúde ou ao planejamento familiar (geralmente oferecido pelas empresas) e limita que peçam qualquer tipo de empréstimo ou crédito em bancos. Sem contar que, quando o marido morre, culturalmente se entende que elas não têm o direito a sua terra – um familiar homem pode chegar e simplesmente tomar dela.