Xuxa sobre abuso sexual dos 4 aos 13 anos: ‘Quero emprestar minha voz’

A cada relato, Xuxa se pergunta por que essas situações aconteceram com ela, por que foi a escolhida, por que não gritou ou denunciou

Em sua coluna na Vogue publicada nesta segunda-feira, 25, a apresentadora Xuxa Meneghel detalhou pelo menos cinco situações de abuso sexual infantil, que sofreu dos 4 aos 13 anos, envolvendo pessoas diferentes.

Xuxa relata em detalhes situações de abuso sexual que sofreu dos 4 aos 13 anos
Créditos: Reprodução/RecordTV
Xuxa relata em detalhes situações de abuso sexual que sofreu dos 4 aos 13 anos

Ela começa o texto falando sobre a dificuldade de reviver as situações que vêm acompanhadas de sentimentos de culpa, raiva, impotência e medo, mas que faz isso para ajudar quem também sofreu abuso.

Quando tinha 4 anos, a mãe dava a ela e aos quatro irmãos um elixir com álcool para abrir o apetite, mas ela não tomava por ter intolerância ao álcool, então dormia mais que os outros irmãos.

“Me lembro de um cheiro de álcool de alguém, uma barba que machucou o meu rosto e algo que foi colocado na minha boca. Acordei dizendo que alguém tinha feito xixi na minha boca e meus irmãos disseram que eu tinha sonhado. Essa foi minha primeira experiência com abuso sexual”, relatou.

Aos 5 ou 6 anos, o abuso veio de primos e amigos da família que eram pré-adolescentes. Ela conta que sentia tocarem nela, colocar o dedo, que doía, mas não sabia distinguir o que sentia. Isso a fazia não chorar e nem contar a ninguém. Mais velha, entre 9 e 10, a mesma pessoa voltou a abusar dela.

Com 11 anos, foi a vez de um professor de matemática que na sala de aula, quando os alunos estavam no recreio, se masturbava na sua frente. “Eu escrevi o que ele queria no quadro e vi que ele se tocava embaixo da mesa. Não entendia muito bem o que ele tava fazendo… Foi aí que o ouvi gemer e depois se limpar”. Ele ainda disse que se ela contasse, ninguém acreditaria porque entre a palavra de um aluno e a de professor, a dele valeria mais.

A cada relato, Xuxa se pergunta no texto por que essas situações aconteceram com ela, por que teria sido a escolhida, por que não gritou ou denunciou.

Entre seus 10 e 11 anos, o caso envolveu um ex-namorado de sua avó que “fazia carinho” nela enquanto a avó costurava ou cozinhava. Ele tomava banho com a porta aberta, se masturbava olhando para Xuxa e chegou a apertar seus seios em outro momento. “Doeu e eu o fiz parar, e ele disse que era só um carinho e que só o ‘vovô’ podia fazer porque me amava como neta.”

Ainda mesma idade, o melhor amigo de seu pai costumava visitar a família no Rio de Janeiro durante as férias e dormia no meio das crianças, na varanda, nos dias quentes. “Eu acordava com sua mão me tocando”, contou Xuxa. Com 13 anos, ele a encurralou na parede, pediu um “abraço”, colocou as mãos por baixo de sua camiseta e tentou beijá-la.

Nesse dia, chovia, Xuxa correu até a praia, pegou areia e passou no corpo “para limpar toda sujeira que estava impregnada há anos”. Ela revelou, ainda, que tomava de 3 a 4 banhos por dia e só tinha vontade de estar com crianças, pois sabia que elas não lhe fariam mal.

Hoje, com 56 anos, a apresentadora finalizou sua coluna na Vogue dizendo que apesar de todas essas situações, se calou por quase 50 anos, quando decidiu fazer a denúncia no programa Fantástico, da TV Globo, para divulgar o disque denúncia, o Disque 100.

“Hoje, quero emprestar minha voz em campanhas paras crianças que não falam, não gritam e choram sozinhas. Eu preciso fazer isso por elas, já que não fiz por mim.”


Como denunciar casos de abuso infantil e como orientar a criança

Diariamente, crianças e adolescentes são expostos à violência sexual. Até abril de 2019, o Disque 100 recebeu mais de 4 mil denúncias de abuso infantil em todo o Brasil, mas sabemos que esses dados não estão nem perto da realidade, uma vez que ainda é difícil ter estatísticas que realmente abranjam o problema de forma real.

Tipos de abuso infantil

É importante lembrar que abuso sexual, violência sexual e pedofilia são coisas distintas.  Segundo o Programa Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes:

Pedofilia: Diz respeito aos transtornos de personalidade causados pela preferência sexual por crianças e adolescentes. O pedófilo não necessariamente pratica o ato de abusar sexualmente de meninos ou meninas.

Violência Sexual: A violência sexual praticada contra crianças e adolescentes é uma violação dos direitos sexuais porque abusa e/ou explora do corpo e da sexualidade de garotas e garotos. Ela pode ocorrer de duas formas: abuso sexual e exploração sexual (turismo sexual, pornografia, tráfico e prostituição).

Abuso sexual: Nem todo pedófilo é abusador, nem todo abusador é pedófilo. Abusador é quem comete a violência sexual, independentemente de qualquer transtorno de personalidade, se aproveitando da relação familiar (pais, padrastos, primos, etc.), de proximidade social (vizinhos, professores, religiosos etc.), ou da vantagem etária e econômica.

Exploração sexual: É a forma de crime sexual contra crianças e adolescentes conseguido por meio de pagamento ou troca. A exploração sexual pode envolver, além do próprio agressor, o aliciador, intermediário que se beneficia comercialmente do abuso. A exploração sexual pode acontecer de quatro formas: em redes de prostituição, de tráfico de pessoas, pornografia e turismo sexual.

Como denunciar

Há algumas formas de denunciar casos de violência sexual a menores de idade:

Disque 100
Como nos casos de racismo, homofobia e outras violações de direitos humanos, qualquer cidadão pode fazer uma denúncia anônima sobre casos abuso infantil pelo Disque 100. A denúncia será analisada e encaminhada aos órgãos de proteção, defesa e responsabilização em direitos humanos, respeitando as competências de cada órgão.

Aplicativo Proteja Brasil
Depois de instalar o aplicativo gratuito em seu celular, o usuário rapidinho, respondendo um formulário simples, registra a denúncia, a qual será recebida pela mesma central de atendimento do Disque 100. Se quiser acompanhar a denúncia, basta ligar para o Disque 100 e fornecer dados da denúncia.

Ouvidoria Online
O usuário preenche o formulário disponível aqui e registra a denúncia, a qual também será recebida pela mesma central de atendimento do Disque 100. Se quiser acompanhar a denúncia, basta ligar para o Disque 100 e fornecer dados da denúncia.

ONGs
Se for possível, procure Organizações que atuam para o combate ao problema, como o ChildFund Brasil e a Childhood Brasil.

Safernet
A Safernet é uma organização social que recebe denúncias de crimes que acontecem contra os direitos humanos na internet, incluindo pornografia infantil e tráfico de pessoas.

Conselho Tutelar
O Conselho Tutelar é responsável pelo atendimento de crianças e adolescentes ameaçados ou violados em seus direitos. Pode aplicar medidas com força de lei. A denúncia pode ser feita por telefone ou pessoalmente, na sede do conselho. Encontre o telefone do Conselho Tutelar mais próximo digitando “Conselho Tutelar + o nome do seu município” no Google.

CREAS / CRAS
Os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) realizam o atendimento em atenção básica à população em geral, e os Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS) oferecem o atendimento de média complexidade, que inclui o atendimento psicossocial a crianças e adolescentes vítimas de violência sexual. Acesse o site do Ministério da Cidadania, localize as unidades por Estado ou município.

Ministério Público
Responsável pela fiscalização do cumprimento da lei. Os promotores de justiça têm sido fortes aliados do movimento social de defesa dos direitos da criança e do adolescente. Todo Estado conta com um Centro de Apoio Operacional (CAO), que pode e deve ser acessado na defesa e garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes. No site da Childhood Brasil você encontra o contato do MP de todos os estados brasileiros.

Sabia mais: Como proteger as crianças da violência sexual